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O cinema alemão não tem conseguido relevância no cenário mundial recente. Desde os anos 70, com o surgimento de Wim Wenders e Werner Herzog, nenhum outro cineasta conseguiu se destacar. Uma das aposta atuais é Andreas Dresen, que a cada dois anos lança pelo menos uma produção no mercado internacional. Os temas abordados em seus filmes têm como base as incertezas dos que chegam aos 40, envelhecimento e a situação social na Alemanha. Verão em Berlim (Sommer vorm balkon, 2005) não foge à regra. Na história, Katrina é uma mãe solteira tentando sustentar a ela e seu filho. Porém, aos 39 anos, está sendo difícil encontrar emprego. Nike, sua melhor amiga, é uma enfermeira que toma conta de três pacientes geriátricos como se fossem seus próprios filhos. Quase todas as noites, elas têm por hábito observar a vida passar da sacada do apartamento. Mas quando Nike começa a namorar Ronald, a amizade entre elas passa por uma prova de fogo. O cineasta aproveita o argumento para apresentar uma outra parte da sociedade alemã. Se em Willenbrock (2005), o protagonista era um empresário bem sucedido que buscava na infidelidade uma forma de não aceitar a velhice, em Verão em Berlim a classe-média baixa é o grupo retratado. Katrina e Nike são duas mulheres em busca de segurança nos braços de um homem. E as constantes frustrações, levam-nas a consumir todos os tipos de bebida alcoólica. Quando Ronald entra em suas vidas, fica clara a disputa. Mesmo depois de alertadas pela garçonete Tina de que ele é casado e tem filhos, Nike decide aceitá-lo. Com a escassez, é melhor um homem casado do que homem nenhum. Inka Friedrich e Nadja Uhl, respectivamente Katrina e Nike, dão credibilidade aos personagens. Mesmo nos momentos mais dramáticos, Inka não exagera e consegue ser o mais real possível. Nadja também consegue ser sutil, mesmo se vestindo como uma adolescente - no trabalho, ela parece mais uma patricinha do baile funk do que uma enfermeira. A única coisa que incomoda são as cenas constantes dela usando calcinha string. Mesmo tendo importância para a trama, o fato soa gratuito em certas passagens. Mas, convenhamos, pelo menos ela tem um corpaço. Os personagens bem delineados tridimensionalmente não impedem o elevado tom melodramático numa proposta realista. Porém, há um excesso que, desnecessariamente, estica o final em cerca de 20 minutos. Uma subtrama envolvendo Max tentando ficar com uma amiga é promissor, mas é abandonado por quase toda a duração do filme. A solução é boa, mas o efeito seria mais forte se Dresen tivesse explorado mais o tema.
A melhor maneira de apreciar este filme de Dresen é entendendo a forma como ele expõe a atual situação alemã. O cineasta descreve com perfeição a transição do ideal social para o individualismo. Segundo o próprio cineasta, o objetivo aqui era mostrar como a sociedade é a maior culpada pela a solidão que vem se alastrando nas diferentes camadas sociais alemãs. O roteiro, escrito pelo veterano Wolfgang Kohlhaase, vê este sentimento nos velhos e nos jovens. O concomitante senso de apreensão é criado no filme com charme, sem pregação. Percebemos isso nas faces frias e preocupadas dos personagens. Fica a impressão de que o que está acontecendo atualmente em Berlim é um longo inverno.
Ano: 2005
País: Alemanha
Classificação: 14 anos
Duração: 107 min