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Xuxu | Crítica

<i>Xuxu</i>

06.05.2004, às 00H00.
Atualizada em 19.11.2016, ÀS 06H09

Xuxu
Chouchou
- França, 2003
Comédia - 105 min.

Direção: Merzak Allouache
Roteiro: Merzak Allouache, Gad Elmaleh


Elenco: Gad Elmaleh, Alain Chabat, Claude Brasseur, Roschdy Zem, Catherine Frot, Julien Courbey, Arié Elmaleh, Yacine Mesbah

Tenha cuidado com campeões de bilheterias, seja do Brasil, do Chile, dos Estados Unidos ou da França. Mais do que o pluralismo cultural, valem duas idéias: toda unanimidade é burra; um filme ruim é ruim em qualquer lugar do mundo.

Afinal, o exemplo do françês Xuxu (Chouchou, 2003), do experiente Merzak Allouache, não é diferente do brasileiro Sexo, amor e traição (de Jorge Fernando, 2004), do chileno Sexo com amor (Sexo con amor, de Boris Quercia, 2003) ou do norte-americano Casamento grego (My big fat greek wedding, de Joel Zwick, 2002). Todos falam de amor de uma forma infantil, sem exigir demais de um público que, de qualquer forma, lota os cinemas para não precisar pensar além dos clichês.

Mas Xuxu merece mais atenção - não pelo filme, descompassado, cansativo e repleto de chavões, mas sim pelo seu caso peculiar. Narra a história de um imigrante argelino homossexual, Choukri (Gad Elmaleh), apelido Chouchou, que chega a Paris decidido a assumir o seu lado feminino. Ele primeiro arruma hospedagem numa igreja local, depois ganha-pão de arrumadeira numa clínica psiquiátrica, mas logo encontra antigos amigos que trabalham como transformistas numa boate. Chouchou também adota a idéia, e acaba apaixonado por um dos clientes do lugar. Começa então o seu dilema em conciliar a paróquia, a psicanálise e o noivado.

O caso é que a sociedade tradicionalmente conservadora francesa, às voltas com inúmeros casos de imigrantes (inclusive brasileiros) que se travestem e se prostituem, lotou os cinemas para vê-lo. Eleito pelos leitores da revista Première como a melhor comédia do ano passado, Xuxu já foi assistido por quatro milhões de franceses. Gad Elmaleh foi, inclusive, premiado com o César de melhor ator. Soa como uma contradição, não?

Pois há duas explicações, relacionadas. A primeira, psicológica, diz respeito à natureza escapista do entretenimento. Como num espelho, o público busca a ficção da tela para substituir a realidade. Nada mais compreensível: troca-se o imigrante que rouba o emprego dos nativos por um personagem burlesco, camarada e inofensivo.

Já a segunda explicação é mais pontual. Trata não apenas do inconsciente popular, mas da intenção do realizador de se adequar a esses desejos. Se os franceses viram em Xuxu um oportuno alívio cômico, Merzak Allouache é o responsável por criá-lo. Paradoxalmente, trata-se de um argelino, país de colonização francesa e alvo da fúria dos xenófobos. Desde 1976, Allouache faz filmes aparentemente leves, mas com teor político e crítica social bem marcados. Acontece que ele não é Pedro Almodóvar. E se intencionava fazer de Xuxu um retrato cinicamente caricato, acaba alimentando a desinformação sobre o homossexualismo e sobre a própria imigração.

Isso fica evidente, já de cara, na caracterização do personagem. Chouchou é a típica bicha burra. Se deslumbra por pouco, troca palavras e corre como uma gazela embriagada. Os estereótipos gays também estão presentes: devoção a Lady Di, culto pelos números musicais, figurinos cafonas. Tudo bem, também há exagero nos gays almodovarianos, mas, ao contrário do espanhol, no momento em que Xuxu mais pede sensibilidade, ou até mesmo uma abordagem mais incisiva e menos tangente, a coisa fica anedótica de vez.

Passagem fundamental e emblemática: o único beijo homossexual, disfarçado, escondido por um ângulo obtuso, não acontece de verdade. Evidentemente, para não ferir a audiência.

Nota do Crítico
Regular
Xuxu
Chouchou
Xuxu
Chouchou

Ano: 2003

País: França

Classificação: LIVRE

Duração: 105 min

Onde assistir:
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