O primeiro longa-metragem do chileno Shawn Garry, Desierto Sur (2007), parte de uma imagem de impacto: uma nadadora espanhola, acostumada com o azul das piscinas, é inserida no cenário dourado-desbotado do Deserto do Atacama, no Chile. O contraponto rende belas cores - mas é só.
A espanhola, Sofia (Marta Etura), está de luto. Disputava uma competição e não pôde estar do lado do leito de morte da mãe. Em crise, Sofia larga tudo. Mas eis que encontra, no meio das correspondências de casa, uma carta que retornou ao remetente: a mãe tinha um amor secreto no Chile, em um lugar chamado Desierto Sur.
desierto sur
Começa então o road movie de Garry para expurgar o sentimento de culpa de Sofia, para que ela conheça a si mesma enquanto parte para conhecer a história da mãe, etc. É a típica jornada de redenção com o pé na estrada, e o chileno abraça os clichês do gênero: durante a viagem, Sofia ri, chora, bebe, pega carona, é assaltada, faz uma amiga porra-louca, encontra o amor...
O que incomoda mais em Desierto Sur nem é a clicheria, mas a falta de tato de Shawn Garry para lidar com emoções. Na cena do hospital no começo, por exemplo, em nome de uma montagem moderninha, Garry mutila o close-up no choro de Sofia com cortes rápidos dentro do plano. Já no deserto, a cena de amor será obviamente seguida de uma cena de conflito - armadilha dramática das mais óbvias.
Você percebe que um road movie só está interessado em fazer turismo quando os personagens coadjuvantes começam a ganhar importância de protagonista e, ainda assim, o roteiro não se importa em descartá-los de uma hora para a outra. Desierto Sur é um passeio clipado por belas paisagens, acompanhado de freaks variados, narrado com a burocracia de um guia turístico.
