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Diamante de sangue: Entrevista exclusiva com Jennifer Connelly e os produtores (Paula Weinstein e Marshall Herskovitz)

Diamante de sangue: Entrevista exclusiva com Jennifer Connelly e os produtores (Paula Weinstein e Marshall Herskovitz)

04.01.2007, às 00H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 17H03

Diamante de Sangue

Blood Diamond

EUA, 2006, 138 min
Suspense/Drama

Direção: Edward Zwick
Roteiro: Charles Leavitt, C. Gaby Mitchell

Elenco: Leonardo DiCaprio, Djimon Hounsou, Jennifer Connelly, Kagiso Kuypers, Arnold Vosloo, Antony Coleman, Benu Mabhena, Anointing Lukola, David Harewood, Basil Wallace, Jimi Mistry, Michael Sheen, Marius Weyers, Stephen Collins, Ntare Mwine


Se você acha Jennifer Connelly linda na tela, você deveria vê-la na sua frente. Aos seus 36 anos ela não é mais aquela menina que fez Labirinto (1986) e nos anos 80 arrancava suspiros dos então adolescentes. Mas não foi só o tempo que passou. Desde que fez Requiem para um sonho (2000), ela se tornou uma das atrizes mais requisitadas de Hollywood - tanto para grandes filmes, quanto para os menores e mais artísticos. Nas suas entrevistas, ela demonstra toda esta maturidade, falando de temas como a pobreza na África e a forma como cria seus dois filhos. Confira agora o bate-papo com Jennifer Connelly e os produtores Paula Weinstein e Marshall Herskovitz:

Como embaixadora da Anistia Internacional, o que você pensa dos temas do filme e as formas como eles são retratados.

Jennifer Connelly: Eu acho que é um retrato bastante fiel do que aconteceu em Serra Leoa durante a guerra civil, nos anos 1990. Acho que infelizmente é uma história trágica muito bem contada. E creio que Ed [Zwick - o diretor] fez este filme de forma bastante emocionante e levanta questões muito importantes, por isso eu estou muito feliz de fazer parte deste filme. E o assunto dos diamantes de conflito ainda não acabou, mesmo que agora tenhamos paz em Serra Leoa, e também o problema com os soldados infantis não é algo do passado. Acho que o número é de 300 mil crianças armadas no mundo inteiro.

Parece que um dos fenômenos do século 21 é colocar jornalistas mulheres em zonas de guerra, como se vê nos canais de TV atualmente. Nas suas pesquisas, você investigou o que faz estas mulheres se arriscarem e o que as motiva neste trabalho tão perigoso?

JC: Eu não sou esperta o suficiente para te dizer qual a causa de termos tantas mulheres neste campo, então terei que pular esta parte. Mas eu posso dizer que me encontrei com algumas destas mulheres que são jornalistas, correspondentes de guerra. Uma delas é minha amiga e me apresentou para outras mulheres, algumas que inclusive estiveram em Serra Leoa, em 1999, pesquisando e contando histórias sobre os diamantes de conflito. Eu peguei muitas informações com elas de como eram as coisas, o tipo de situações em que elas se meteram, com quem elas andavam, como era a vida noturna, que tipo de sapato elas tinham nas suas malas, quais os notebooks elas usavam, qual a câmera certa para tirar as fotos, este tipo de informações. Elas foram todas muito solícitas e eu sou muito agradecida.

Essa é para os produtores. O filme tem um tema pesado e que pode não atrair muito o público. Como foi convencer o estúdio a correr este risco?

Marshall Herskovitz: Esta é uma boa questão sobre as decisões que os estúdios tomam em relação aos filmes. Eu sou tão frustrado quanto qualquer um neste ramo sobre quão tímidos e medrosos os estúdios são nas escolhas que eles tomam. Nenhuma história é simplesmente branca ou preta. Neste caso, eu elogio a Warner Bros. porque eles estavam determinados a fazer este filme mesmo antes da entrada do Leonardo (DiCaprio). Era algo que eles acreditavam. Eles sabiam que havia um risco, mas eles achavam que: 1. Era um tópico importante; e 2. Eles viam ali uma história interessante e motivadora sobre a África e que traria o público [para os cinemas]. Eles nunca pediram para baixar o tom ou que fizéssemos o filme mais digerível para a audiência.

Paula Weinstein: O roteiro inicial que eles tinham era voltado apenas ao entretenimento. Mas Alan Horn, presidente da Warner Bros., foi à África e esteva envolvido desde o início. Juntos transformamos algo que não tinha muito conteúdo em algo muito maior e importante.

Vocês estavam falando de como a Warner se envolveu no projeto e fiquei curioso sobre uma coisa: a mídia ocidental e a indústria cinematográfica ignoravam a África até pouco tempo, daí veio um Hotel Ruanda e as coisas mudaram. Por que este interesse só agora?

PW: Na verdade, eu já tinha feito um filme sobre a África [provavelmente ela está falando de Assassinato sob custódia (1989), um dos seus primeiros filmes, sobre a África do Sul] e por isso acho que isso não é bem uma novidade. Principalmente porque estes filmes levam tempo para serem realizados. Espero que haja um público com desejo de ver filmes com mais conteúdo, com grandes histórias, personagens com quem eles se preocupem e que sejam sobre algo de verdade. E o meu jeito é de uma otimista que espera que os estúdios queiram mostrar estas histórias.

Pelo que vocês estão falando, este filme teve muito o dedo de vocês. É comum os produtores se envolverem tanto com a história?

MH: Bom, acho que quem tem de responder isso é a Paula, que já estava no projeto muito antes de Ed e eu entrarmos. Mas acho que há um equívoco na forma como as pessoas vêem o papel de um produtor pela indústria e até pela imprensa. Normalmente o produtor é o cara que criou o projeto e gastou anos e mais anos empenhado em realizá-lo.

PW: Na verdade, este filme não é diferente de nenhum outro filme que nós fazemos. Nós cuidamos do filme desde a sua criação até a sua venda. Nem sempre você consegue estar lá o tempo todo, mas mesmo quando você não está lá você está 100% envolvido.

Voltando um pouco à Jennifer, como foi trabalhar ao lado de Leonardo DiCaprio e Djimon Hounsou?

JC: Eu tenho poucas cenas ao lado de Djimon, mas nós construímos uma boa relação no set. Eu não posso falar pelo Leo, mas da minha parte foi fantástico trabalhar com ele. Nós passávamos longas horas discutindo as cenas, como poderíamos melhorar a história, que tipo de coisas funcionariam para as cenas ficarem ainda melhores. Ele é um cara muito generoso. E não só os dois, mas todo mundo no set era muito legal.

Você tem algum exemplo concreto de uma cena que vocês trabalharam juntos para melhorar?

JC: Todas as cenas.

Vi recentemente Era uma vez na América. O que você se lembra daquela época?

JC: Foi o primeiro filme que fiz. Tinha 11 anos na época, fui para a Itália para filmar, e não tenho muito o que falar sobre o meu trabalho, mas foi uma experiência mágica. Eu não sabia no que estava me metendo, mas para mim o diretor Sergio Leone foi um cara fantástico. Lembro dele como um cara mítico atrás daqueles óculos grossos. Enfim, foi como um conto de fadas. Foi uma ótima forma de começar.

Jennifer, como foi ver de perto como está a África hoje, depois de séculos de atrocidades que vêm acontecendo por lá?

JC: Foi uma experiência bastante enriquecedora para mim passar um tempo na África do Sul, Moçambique e Botsuana. Foi muito bom também poder levar os meus filhos junto. Em Maputo (Moçambique), onde nós estávamos filmando, você tem uma sociedade muito vibrante. Eu visitei orfanatos e nunca tinha visto nada, nada mesmo, como aquilo. É um lugar entoxicante, cheio de energia, um lugar realmente muito lindo. Mas também há muito sofrimento. É uma mistura muito grande de muitas coisas diferentes. Você vê a vida selvagem, a natureza destas pessoas e vê os contrastes entre quem têm e quem não têm.

Você falou que esta experiência na África mudou a forma como você cria a sua família. Qual foi a mudança? E você vai mostrar o filme para os seus filhos?

JC: Foi um enorme impacto na minha vida e não sei se mudou a forma como eu vou criar meus filhos, mas espero que sim. Sempre procurei expor meus filhos o máximo possível ao mundo e educá-los da melhor forma possível. Eu acredito que é importante que eles estejam informados e conscientes da sua cidadania.

E como o filme mostra de forma bastante realista o que aconteceu em Serra Leoa, há um alto grau de violência que o faz inapropriado para meus filhos por enquanto. Mas se, quando eles tiverem a idade certa, eles quiserem ver a mãe deles trabalhando, com certeza mostrarei.

Imagino que vocês produtores ficaram com o coração na mão quando souberam que Leonardo tinha ido para o hospital. Talvez as manchetes tenham sido exageradas, ou ele realmente ficou mal de verdade?

PW: Leo machucou seu joelho. Um joelho que ele já tinha operado antes. Ele estava com muita dor e nós o levamos voando até o centro de tratamento. No dia seguinte ele voltou e era justamente quando estávamos filmando o tiroteio de Freetown [Capital de Serra Leoa]. Nós tínhamos um fisioterapeuta por lá, mas ele correu, pulou e foi extraordinário.

Eu vejo este filme como um filme de verão fora de época, por causa das suas explosões e perseguições, mas também com um contexto político e econômico. Qual é o público que vocês acham que vai ver este filme. E sabendo que existem problemas próximos disso também na América do Sul e Ásia, vocês têm projetos sobre essas regiões?

PW: Começando pela última questão, eu tenho alguns projetos sobre a Ásia. E eu não vejo este projeto como um filme de verão. Nós estamos apostando em um grande público. Nós temos visto reações extraordinárias de pessoas de todas as idades e classes sociais que têm assistido ao filme.

MH: Eu não acho que filmes tenham que ser vistos apenas como uma coisa e eu gosto justamente quando eles não são só uma coisa. Sim, ele tem bastante ação, mas também tem um pensamento político-social. E, para fechar, é impossível saber como o público vai se comportar ou dizer a respeito de um filme. Um projeto se dá bem ou fracassa de acordo com o que as pessoas dizem sobre ele, o boca-a-boca que eles criam. Tudo o que você pode fazer como cineasta é torcer para que as pessoas correspondam ao seu trabalho. Se ele for algo complicado, que elas correspondam a esta complexidade e ao fato de que ele tenta fazer tantas coisas em tantos níveis diferentes. E nós esperamos que, neste caso, o público reaja desta maneira.

Quais foram as dificuldades que vocês encontraram para rodar o filme em lugar tão lindo e ao mesmo tempo trágico? Acredito que eles não tenham a infra-estrutura necessária para um projeto tão grande. São necessários, então, mais esforços, mais dinheiro, como funciona isso?

PW: Vários filmes foram feitos na África do Sul e eles têm uma boa indústria cinematográfica e um bom número de empresas com quem trabalhamos. Eles têm bons trabalhadores e mesmo quem nunca havia feito um filme antes estava empolgado por ter aquele trabalho. Muitos jovens falavam que a partir daquele momento queriam continuar na indústria do cinema. O mesmo em Moçambique, onde acho que já tinham feito Ali. O que você vê por lá é que existem muitas pessoas que se você der a elas um trabalho, eles vão se empenhar. Era isso o que a gente via desde os assistentes aos motoristas. O que você vê, principalmente em Maputo [Capital de Moçambique], é que sempre tem alguém tentando te vender algo, e você fica imaginando "se houvesse trabalho para este povo..." eles se empenham, eles são otimistas. Por isso nos sentimos privilegiados de poder contar com eles e chamá-los para trabalhar conosco e fazer um ótimo trabalho.

Jennifer, depois desta sua experiência na África, o que você acha de adotar uma criança africana? E o que você tem a dizer sobre o fenômeno das celebridades que têm adotado crianças?

JC: Como eu estava dizendo eu ia a um orfanato em Maputo praticamente todo dia de folga que eu tinha por lá. Eu estava com o meu filho de três anos e depois que o colocava para dormir, ia ao orfanato passar um tempo com as crianças de lá. É impossível não desenvolver uma relação com crianças. E [a adoção] é algo que eu considerei e continuo considerando mesmo pensando que eu já tenho duas crianças e deva imaginar como esta relação se encaixaria na nossa realidade. Não digo "nunca". Vamos ver o que acontece no futuro.

Vocês receberam qualquer tipo de resistência da indústria de diamantes durante a realização do filme?

MH: No início houve um pouco de resistência, mas do patamar das Relações Públicas das empresas, nada de ameaças físicas. Mas com o andar da carruagem houve uma mudança na estratégia deles em relação ao filme. Eles perceberam que não seria muito inteligente da parte deles atacar o filme dizendo que aquilo não era verdade. Em vez disso, nos últimos três meses, tudo o que vemos sendo publicado sobre a indústria de diamantes é positivo. Eles estão sendo a favor do filme, são a favor do Processo de Kimberley, eles têm confirmado que não pensaram nas suas responsabilidades no passado, mas que estão se comprometendo a andar na linha agora.

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