Filmes

Entrevista

Dois Amigos | "Quero um filme que faça pensar", diz Louis Garrel sobre sua estreia como diretor

Ator desembarca no Brasil no dia 27 para o lançamento do filme

15.11.2015, às 08H33.
Atualizada em 15.11.2015, ÀS 09H31

Força da natureza entre os cinéfilos de todo o mundo que o consideram o ator mais sexy da atualidade, votado mais de uma vez por revistas de moda tipo a Elle como o maior ícone de beleza masculina da Europa, o ator francês Louis Garrel já confirmou sua vinda ao Brasil, no dia 27, para lançar seu primeiro trabalho como diretor de longas-metragens: Dois Amigos. Mas, durante uma passagem por Portugal, no sábado, para exibir seu filme hors-concours no Lisbon-Estoril Film Festival’15, na capital da terrinha, o galã - conhecido aqui por cults como Os Sonhadores, de 2003, e Amantes Constantes, de 2005 – conversou com o Omelete sobre os atuais passos de sua carreira. Filho (e muso) do cineasta Philippe Garrel, o astro de 32 anos é considerado um dos maiores talentos da França no planisfério cinematográfico.

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“Um dia, eu vi na televisão uma entrevista do Roman Polanski dando um conselho a jovens diretores. Ele dizia assim: ‘Pega a história que você deseja filmar e conte ela para alguém. Se você prender seus ouvintes do início ao fim, o filme vai dar certo. Mas, se em algum momento, seus interlocutores demonstrarem preguiça, seu projeto tem problemas. Preste atenção no local aonde seus ouvintes bocejaram ou se dispersaram, pois ali está seu ponto fraco’. O conselho é ótimo. O problema é que não consigo aplicá-lo a Dois Amigos porque nem eu mesmo sei me explicar o que é essa história. Sei apenas os sentimentos por trás dela”, admite Louis Garrel, com um bom humor contagiante, entre um cigarro e outro.
De uma precisão narrativa invejável no domínio da cartilha do folhetim, seu filme arrancou riso e suspiros da plateia do festival lisboeta. Na trama, decalcada da peça teatral peça Les Caprices de Marianne, de Alfred de Musset, a vendedora Mona (Golshifteh Farahani), morena cheia de segredos, abala o coração do figurante Vincent (Vincent Macaigne). Este resolve compartilhar o que se passa com seu chapa número um, Abel (Louis), o que gera muita confusão.

“Eu venho de uma sequência de filmes naturalistas, mas este é mais louco na narrativa, com referências ao cinema dos anos 1980, dialogando com o legado de diretores como Leos Carax, Olivier Assayas, André Téchiné... E é filmado em 35mm. Na época das filmagens, com a minha diretora de fotografia grávida, diziam que era loucura eu filmar em película, por ser caro e não haver quase mais nenhum laboratório de revelação. Mas essa opção não é assim tão cara. Pense comigo: filmando em digital, você roda o quanto quiser, sem limite. Mas aí, na hora da edição, o número de horas gasto para editar o material é tão grande que encarece o processo e enlouquece qualquer um”, disse Louis, que participa de uma pré-estreia em São Paulo na noite de sua chegada e segue para o Rio no dia 28.

Em 2016, ele será visto ao lado de duas grandes atrizes: contracena com Natalie Portman em Planetarium, thriller sobrenatural de Rebecca Zlotowsky, e com sua conterrânea Marion Cotillard em Mal de Pierres, de Nicole Garcia. Mas sua tarefa agora é cuidar para que o público veja seu trabalho como realizador, depois de anos de parceria com diretores como Christophe Honoré (de Canções de Amor), seu roteirista, em Dois Amigos.

“Ele adaptou a peça de Musset dizendo sempre que eu deveria fazer uma comédia, talvez por estar cientes de que os curtas que dirigi antes tinha uma narrativa cool. Mas não sei se fui por esse caminho. Tenho a sensação de ter criado uma personagem feminina mais realista, com problemas reais, com quem o público pode se identificar. Já meus protagonistas homens são dois bobos. Sabe de uma coisa? Sou um sujeito ansioso, com ataques de pânico constantes, destituído de qualquer heroísmo e ciente disso. Qualquer homem que não tem ciência de sua fragilidade é um idiota, como são Vincent e Abel”, diz Louis, ganhador do César (o Oscar da França) em 2006 na categoria “ator mais promissor” com Amantes Constantes.

Cannes exibiu (e aplaudiu) Dois Amigos na seção paralela Semana da Crítica, mas elogios e láureas não mexem com os brios de Louis em sua trajetória de afirmação em sua pátria.

“Todos os diretores franceses da minha geração carregam um peso histórico pela tradição de filmes feitos pelo meu país. Lembro que, em 2014, quando Xavier Dolan, com quem eu já fiel (Amores Imaginários) ganhou o Prêmio do Júri, ele o dedicou ao cinema de Québec, que ali estava se afirmando. Se um francês é premiado em Cannes, ele jamais dedicará sua vitória à França”, diz Louis, contando um segredo das filmagens:
“Tem uma cena de amor muito melosa que eu queria botar no filme, mas tinha medo de errar a mão. Então procurei o escritor Jean-Claude Carrière, roteirista que já trabalhou com os maiores cineastas do mundo, de Buñuel a Godard. Contei pra ele meu problema e ele me disse: ‘Vou te ensinar um truque de roteiro pra te ajudar pela vida inteira. Sempre que você pensar que vai exagerar no mel numa cena entre um casal, coloque um terceiro personagem, sem importante, como testemunha do que se passa e o faça reagir com desdém ou nojo de tanto açúcar. O público vai rir´. Carrière é um mestre mesmo. Coloquei isso em Dois Amigos, fazendo uma pessoa protestar contra uma cena romântica dos protagonistas. Deu certo: a plateia se escangalhou de rir. Mas numa sessão, uma senhora veio até mim e chiou: ´Por que você fez isso? Quebrou o meu encanto e me distanciou do romance’. Tudo que lhe respondi foi: ‘Era isso o que eu queria: fazer pensar’."

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