Militando pela reforma educacional no ar de segunda a sábado na TV, no papel da professora Beatriz na novela Velho Chico, da Rede Globo, Dira Paes trouxe temperos paraenses para o 26º Cine Ceará, em Fortaleza, ao ser homenageada, na noite de sábado, pelo conjunto de uma obra cinematográfica - lotadas da cults - iniciada há 32 anos. Dois novos filmes integram o currículo da atriz, nascida em Abaetetuba, no Pará, em 1969: Encantados, drama místico de Tizuka Yamasaki sobre uma pajé às voltas com a fé, e o esperadíssimo Redemoinho, que marca a estreia do diretor de TV José Luiz Villamarim (de O Rebu) como cineasta. Mas no palco cearense, ao ser coroada com um troféu honorário por um histórico de longas-metragens que inclui o blockbuster 2 Filhos de Francisco (2005), Paes trouxe uma reflexão política sobre o potencial de resistência que o cinema nacional pode ter nestes tempos de crise.
"As pessoas dizem que sou uma 'atriz de cinema', por ser alguém que tenta fazer a câmera gostar de mim. Mas é mais do que isso. Sou alguém que escolhe fazer um filme não apenas pela qualidade das personagens oferecidas, mas pelos parceiros com quem vou encontrar e pelas ideias presentes nos projetos escolhidos. Um ator é alguém que traz verdade a um universo", disse a atriz, consagrada por longas aclamados como Amarelo Manga (2002).
Sobre Velho Chico, onde contracena com Irandhir Santos (de Tatuagem) e Lee Taylor (de Salve Geral!), a atriz encara a trama (escrita sob a grife Benedito Ruy Barbosa e dirigida por Luiz Fernando Carvalho) como um espaço de coragem dentro da atual teledramaturgia brasileira.
"As falas da minha personagem, muito preciosas, revelam a disposição dos autores de irem fundo, da forma mais poética possível, em questões que o Brasil está gritando por aí, fazendo a gente lembrar de que tudo neste país começa no campo. E por campo, eu entendo o interior, o lugar onde a terra está. Estamos passando por um momento reflexivo, de busca por um Brasil mais justo. E, ali, encontramos um texto que dá a um ator alívio, por ver nele questões contundentes que encontraram um lugar para serem ditas no horário nobre", diz Paes, comemorando a atual fase do cinema em seu estado.
Este ano, o Pará finaliza um raro exemplar de longa-metragem de ficção: Amores Líquidos, da diretora Jorane Castro, com quem Paes filmou o premiado curta Ribeirinhos do Asfalto (2011).
"Tem outros dois projetos de longa sendo tocados agora, o que me dá alegria. Não dá para pensar que um lugar com uma cultura tão rica quanto o Pará não possa ser retratado por quem está lá dentro", diz Paes. "Perguntam-me sempre quando eu vou dirigir algo sobre o Pará... Eu admiro muito a dobradinha ator-diretor de alguns colegas meus, mas precisaria parar meu ofício como atriz por um tempo para encontrar algo que quisesse dirigir. E ainda tenho muito a fazer atuando. Para o ano, tem novidades".