Filmes

Entrevista

Festival de Berlim | "O novo cinema de terror japonês é promissor", diz Kiyoshi Kurosawa

Mestre do terror japonês exibiu seu novo filme, Creepy, para quase 2 mil pessoas na Berlinale

14.02.2016, às 00H13.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Apelidado de “Brian De Palma do Japão”, por sua maestria quase artesanal na direção de filmes de horror e suspense, Kiyoshi Kurosawa colocou o Festival de Berlim no bolso com um thriller que eletrizou a capital alemã, com direitinho a gritinhos de susto de uma multidão estimada em 1,8 mil espectadores. Lotadinho da Silva de cabo a rabo, o Friedrichstadt-Palast, sala de exibição ativa em instalações fundadas no fim do século XIX, sediou a première mundial de Creepy, trama coalhada de reviravoltas ao mostrar o esforço de um policial aposentado para descobrir o que existe de violento por trás da excentricidade de seu vizinho boa-praça. Sangue não falta a esta narrativa que coroa a excelência de um cineasta famoroso, ao longo de quatro décadas de carreira, por cults do pavor como Crimes Obscuros (2006), Pulse (2001) e Cure (1997).

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“Esta trama nasce de um romance de mistério muito premiado no Japão, escrito por Yukata Maekawa, cujas palavras eu tentei seguir com fidelidade, buscando realçar apenas sua reflexão sobre as desatenções que nós cometemos em relação às pessoas à nossa volta, sobretudo pessoas com um lado tenebroso guardado na alma”, disse Kiyoshi ao Omelete, celebrando sua volta ao filão do assombro após uma passagem laureada pelo melodrama e pelo espiritismo com Para o Outro Lado, pelo qual ele ganhou o prêmio de melhor diretor em Cannes no ano passado.

Seu herói em Creepy é o policial Takakura (Hidetoshi Nishijima), que abandona a farda depois de ser ferido por um serial killer. No esforço de ser reinventar como professor, ele acaba distanciando sua mulher (Yuko Takeuchi) de seus sonhos, o que afasta os dois. O abismo entre eles vai se abrir ainda mais quando ela começa a se aproximar do Sr. Nishino (Teruyuki Kagawa), morador da casa de trás, sem saber o mal que ele é capaz de deflagrar com objetos perfurantes, sobretudo seringas e agulhas.

“Há todo o tipo de psicopata no mundo real, sobretudo aqueles que detém muito poder e, em nome de seu status, acreditam na impunidade de seu mal. Quis fazer um conto sobre a sensação de poder e a iminência do perigo filmando em um ambiente ensolarado, mais quente, no qual o frio reside na espinha e no estômago de cada um que acompanha a investigação de Takakura”, diz Kyoshi, que não tem parentesco com o cineasta Akira Kurosawa (1910-1998), ás dos filmes de samurai.

Ocupado agora com a finalização de um filme de fantasia na França, com Olivier Gourmet e Tahar Rahim, chamado La Femme de la Plaque Argentique, Kiyoshi diz que o terror japonês hoje está em mutação. “Aprendemos a fazer no Japão filmes de horror muito baratos, que viraram febre nos anos 1990. Na virada dos anos 2000 para os anos 2010, o gênero deu uma estagnada por lá, mas está voltando agora pelas mãos de uma garotada, que domina a cartilha do digital e aplica sua gramática em narrativas mais ágeis. Isso me animou a voltar”, diz o cineasta, hoje com 60 anos. “O suspense me permite explorar as fantasias soturnas que rondam nossas inseguranças”.

Ainda sob a égide do pop oriental, a Berlinale provou hoje de um yakisoba made in Hong Kong que se qualifica, desde já, ao prêmio de maior estranheza do evento: Dog Days, dirigido por Jordan Schiele, um americano radicado na China. Rodado com enquadramentos de causar vertigem, este thriller erótico acompanha o drama de uma dançarina de boates cujo filho, ainda bebê, foi raptado por seu namorado, que planeja vender a criança

Para detê-lo, ela é obrigada a pedir ajuda à sua maior rival no amor: Sunny, uma cantora transsexual que é diva em inferninhos LGBTs. Juntas, elas vão mergulhar no submundo do sexo da Ásia, arrastando a plateia por perigos e prazeres. A bizarrice nos perfis de comportamento das personagens agradou a ala gay de Berlim e pode fazer do longa um forte candidato ao troféu Teddy, prêmio dado a produções de temática homossexuais.

Neste domingo (14), na competição pelo Urso de Ouro, a Berlinale vai ouvir variações poéticas da língua portuguesa com a produção Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira, tendo o galã luso Ricardo Pereira (adotado há anos pelas telenovelas brasileiras) em meio a tropas que lutaram nas guerras coloniais na África, nos anos 1970.

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