Filmes

Entrevista

Rei das comédias, Roberto Santucci diz que a luta do cinema brasileiro ainda é por espaço

Diversidade existe, mas é preciso aumentar número de salas e fortalecer a indústria

12.02.2016, às 15H33.
Atualizada em 12.11.2016, ÀS 00H03

Considerado um mestre da comédia nacional, Roberto Santucci está de volta aos cinemas com Um Suburbano Sortudo, filme estrelado por Rodrigo Sant’Anna e Carol Castro. Apesar de tanto status, adquirido com sucessos de bilheteria como De Pernas Pro Ar (2010) e Até Que a Sorte Nos Separe (2012), ele diz que todo diretor precisa de parcerias para ingressar no mercado das super produções nacionais:

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“A parceria é mais importante do que tudo”, conta. “Lançar filme é outro gargalo. Custa caro, é difícil, então você precisa de parceria desde o começo, seja quem for o seu distribuidor, para ele acreditar junto com você e ter aquele acordo de confiança na hora de lançar”, completa.

Santucci sentiu isso na pele em 2008, quando tentou lançar o thriller psicológico Alucinados. “Eu não sabia naquela época, mas fiz um filme totalmente sozinho. Escrevi a história, produzi, fiz tudo e cheguei com o filme na mão para tentar distribuir. Houve uma produtora do meio que disse ‘quando você faz um filme sozinho, você vira um filho bastardo’”, explica. “Hoje mesmo, seu eu fizesse um filme do nada e aparecesse querendo lançar, com certeza eu teria dificuldades”.

Depois da experiência frustrante, o diretor teve a ideia de contar a história sobre uma mulher que vendia produtos sexuais, dando origem ao De Pernas Pro Ar. Com o sucesso da produção, Santucci continuou no gênero da comédia e já soma 10 filmes somente nesse segmento. Apesar disso, ele acredita que o cinema nacional não se restringe a isso: “Temos tido ao longo dos últimos anos, outros gêneros sendo lançados de uma maneira bem eficaz e profissional, com mídia. O último filme da Anna Muylaert [Que Horas Ele Volta?] foi indicado e a Globo entrou com tudo, muita divulgação, colocaram mais cópias, fizeram muita coisa lá fora. Tem também o longa de ação do Tomás Portella, o Operações Especiais, que tinha uma quantidade de cópias decente e um plano de mídia. Às vezes eu ouço que o mercado só faz comédia e não é verdade. São produzidos em torno de 100, 120 filmes por ano no Brasil, e nem de longe as comédias são maioria”.

O diretor, no entanto, não tira a importância do gênero para o estabelecimento de uma continuidade no cinema nacional. A luta, segundo ele, não é para conquistar somente o público, mas também os donos dos cinemas:A nossa batalha é para garantir o espaço do cinema brasileiro [...]. É importante que a gente tenha uma continuidade e se apresente como uma indústria, no sentido que o dono do cinema saiba que as produções nacionais podem responder a 30% da receita dele. Ele precisa se convencer que, quando você chegar com um filme brasileiro, ele pode colocar cartazes e não escolher um longa americano ao invés dele. Isso é fundamental, não pode ficar subindo e descendo”.

Parte do público também costuma se incomodar com a inserção de produtos durante o filme e a quantidade de logos de patrocinadores e apoiadores que aparecem antes da produção começar. O cinema nacional ainda precisa do dinheiro de tais empresas para tocar seus projetos, característica que Santucci acredita ainda acontecer pela quantidade de salas no território nacional: “Você precisa ter mais salas de cinema, para a renda ser maior e, com essa renda, você conseguir pagar todo mundo e investir na produção de outros filmes. E isso só se dá com a expansão das salas de cinema. Os EUA tem 25 mil salas e o Brasil tem 3 mil”.

Além das comédias, Santucci se revela apaixonado por automobilismo, mas não tem um só gênero com o qual gostaria de trabalhar. “Eu curto o terror, o thriller psicológico, policial, político. Eu não tenho muito isso [de um gênero que gosta mais]. Claro, eu adoro automobilismo. Me disseram que o Reza a Lenda tem uma onda de Mad Max e eu já fiquei mordido, porque eu sou fã de Mad Max de uma maneira, o terceiro é um lixo, Mad Max é só o 1 e o 2. Eu sou apaixonado pelos carros, pelas motos, e quanto me falaram do Reza a Lenda, eu pensei ‘eu deveria ter feito esse filme’”, revela o diretor, sem conseguir esconder a empolgação.

Para o futuro, Santucci vai apostar em um projeto bem pessoal, que vai tratar de temas importantes para o país, mas já adianta que ele pode ou não sair do papel: “Agora em março eu vou sentar para escrever um roteiro, para um projeto bem pessoal. Eu considero bastante sério, claro, todos os filmes são, mas esse é espinhoso, fala de Brasil, de uma história que eu acho ultra importante e mal entendida. É um tema bem bacana, mas que precisa ter coragem para fazer. E eu nem sei se ele vai conseguir ser feito, mas, no mínimo, eu vou escrever”.

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