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Escola de Idiotas

Comédia romântica ganharia se fosse mais comédia e menos romance

17.05.2007, às 18H20.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 14H03

Escola de Idiotas (School for Scoundrels, 2006) termina com cena de aeroporto. Você conhece cena de aeroporto, não conhece? Corre-corre no saguão, casal apaixonado perigando se separar por um vôo que já vai sair... Deve ter escrito no manual de embarque de Hollywood que gente apaixonada não precisa passar pela revista. Cadê a segurança nacional nessas horas?

Bem, repetindo, o fato é que, como milhares de outras comédias românticas, Escola de Idiotas termina com cena de aeroporto - e isso basicamente diz tudo sobre a qualidade do roteiro e o menosprezo da inteligência alheia. É a Verdade Incontestável da Metonímia Absoluta: se o filme termina com cena de aeroporto, não há mais nada que se possa fazer.

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Então a questão é a seguinte (já que o filme é, por definição, metade comédia e metade romance): existe aí no meio alguma piada, nem que seja uma só, algum relampejo de originalidade, que compense o desfecho-chavão?

Aí depende. Na história, Roger (Jon Heder) é um jovem guarda de trânsito que sofre de ansiedade e baixa auto-estima. Para superar esses problemas - e tentar conquistar sua vizinha, Amanda (Jacinda Barrett), mulher de seus sonhos - ele decide se matricular em um curso secreto, ministrado pelo estiloso Dr. P (Billy Bob Thornton), que ensina homens fracos a se tornarem leões. Roger aprende algumas lições - mas não demora até que o professor comece a se engraçar pra cima de Amanda também.

Depende muito, saber se virá um riso verdadeiro ou aquele riso amarelo, porque o espectador deparar-se-á com alguns tipos manjados - na classe de Roger tem o aluno careca, o aluno gordo, o aluno que ainda mora com a mãe... Estereótipos assim sempre redundam nas mesmas piadas, e rir delas depende muito do nível de tolerância do espectador. Em outras palavras, não há no texto ou na construção dos personagens nada muito ousado ou original.

Mas Jon Heder ajuda - e o filme, no fim das contas, é sobre ele e sua rivalidade com o canastrão Bob Thornton. Alçado ao estrelato depois de Napoleon Dynamite, atualmente em cartaz nos EUA com Escorregando para a glória, Heder é daqueles abençoados com uma feiúra singular - o avanço dos dentes se favorece pelo recuo do queixo e a boca aumenta em comparação com os olhos pequenos. Quando Heder tira a camisa, então... Ser feio e saber tirar proveito disso é o seu grande talento.

E a melhor qualidade dentre as poucas de Escola de Idiotas, mérito do diretor Todd Phillips (Caindo na estrada, Starsky & Hutch), é saber se aproveitar do desconstrangido Heder. Quando o ator veste aquele shorts "saint-tropeito" de jogar tênis, a câmera o enfoca de baixo para cima. Quando Heder veste a sunga para pular na piscina, Phillips pega o bailado submerso do branquelo magriça de todos os ângulos. A câmera parece ter afeição especial pelo close-up do ator - mesmo nos momentos "dramáticos" aquela boca dentuça sorri para nós, o que dá ao filme um sadio espírito de descompromisso, quase uma anarquia, ainda que por um segundo.

Nesse ponto, Escola de Idiotas sabe muito bem seguir a grande linha da comédia recente de Hollywood (O âncora, O virgem de 40 anos, etc.), que é a linha do humor de constrangimento. O ator pode até se desinibir, mas a insistência da câmera em expor seu ridículo, em planos com duração maior do que a montagem padrão exige, transforma aquela desinibição em constrangimento para o espectador.

Se o filme fosse por esse caminho o tempo inteiro, seria ótimo. Mas há aquela responsabilidade com a fórmula - o personagem sempre precisa sofrer de amor entre uma piada e outra, ficar plantado sozinho com a flor na mão, tomar um temporal na cabeça quando sai de casa sem o guarda-chuva, correr pelo aeroporto... Não há boa vontade que resista. Desse jeito ainda vão inventar um beijo-na-chuva dentro do avião.

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