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Feminices | Crítica

<i>Feminices</i>

28.01.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.11.2016, ÀS 22H00

Feminices
Brasil, 2004 - 72 min.
Drama/Documentário

Direção e Roteiro: Domingos de Oliveira

Elenco: Priscilla Rozenbaum, Dedina Bernadelli, Clarice Niskier, Cacá Mourthé, Domingos de Oliveira

Domingos Oliveira já vem adaptando suas peças de teatro para o cinema há um certo tempo. Mesmo sendo expressões artísticas de linguagem bastante diferentes, suas adaptações têm conseguido ganhar o ritmo necessário que o cinema exige. Chegou a vez de Feminices (2004) atingir a telona. O filme é baseado na peça Confissões das mulheres de 40, escrita por Clarice Niskier sobre o que se passa na mente e coração das mulheres. Domingos roteirizou o texto acrescentando comentários de homens para os temas abordados. O resultado final é prazeroso e faz pensar.

Tudo começa com quatro mulheres, atrizes em plena forma que se conhecem bastante e, na virada dos 40, resolvem escrever suas confissões. A idéia é usar este material em um espetáculo teatral, seguindo a linha de algo idêntico que fizeram há 10 anos. Mas dessa vez não está dando certo. O diretor do espetáculo não está gostando do texto. Acha que aos 30 elas diziam tudo, mas que mulher de 40 não confessa! O filme descreve uma reunião de trabalho em que reina a inevitável dispersão feminina: telefonemas de amigos, babás, maridos, propostas de trabalho, comentários, enfim, "feminices" de todos os tipos. Em meio a isso elas realmente confessam umas para as outras seus problemas mais íntimos.

Uma experiência, uma brincadeira

Esse material aparentemente frágil ganha nas mãos de Domingos Oliveira uma linguagem cinematográfica trepidante, resultando num filme provocador que ele chama de "uma experiência, uma brincadeira, um quase documentário". Ele começa o filme de forma inusitada, mostrando ao público que a narrativa não vai ser formal.

Durante os créditos de abertura já somos apresentados aos personagens que irão participar do projeto. Diana (Priscilla Rozenbaum), Isabel (Dedina Bernardelli), Bárbara (Cacá Mourthé) e Eugênia (Clarice Niskier) conversam sobre trabalho, beleza, sexo, casamento, ciúmes e traição. Desses temas nascem dúvidas e perguntas que levam as mulheres a se identificar com os personagens. Tudo é feito com tamanha realidade que fica difícil distinguir os personagens das atrizes. Inteligentemente Oliveira não se esqueceu dos homens. Através dos comentários de Ricardo Kosovski (ator), Aderbal Freire Filho (diretor de teatro), Luis Alberto Py (psicanalista), Eduardo Wotzik (diretor de teatro) e José Bechara (artista plástico), a raça masculina consegue criar as suas próprias conclusões sobre os tópicos.

Um dos assuntos discutidos é a dificuldade das atrizes em conseguir trabalhar na televisão nessa idade - uma crítica às novelas, que preferem lançar atrizes jovens. É a preferência pela beleza à experiência, mostrando o quanto é importante continuar bela, independente da idade. O sexo também é dissecado sem tabus. Como mantê-lo atraente e duradouro? Fazendo todo dia rapidamente, ou uma vez por semana por duas horas? Há até mesmo um velho questionamento: é o homem ou a mulher que gosta mais de fazer sexo? Talvez o homem perca mais tempo contando vantagem do que fazendo, e o seu papel seja mais de assédio, restando à mulher o benefício da escolha.

O casamento é outro tópico presente o tempo todo. Conseguimos perceber que a sagrada união é muito difícil, pois tanto o homem quanto a mulher precisam abrir mão de muita coisa para funcionar. É uma constante repressão dos sentimentos e vontades. Fica a idéia de que o casamento não é para dar felicidade. Ele pode até dar outras coisas, mas não felicidade.

No papel de Mariano Falcão, Oliveira comenta com as atrizes que foi convidado para dirigir uma peça de teatro e uma grande produção de cinema. Nesse momento, ele destila toda a sua ironia ao comentar que em ambos os projetos o dinheiro está sobrando e que as produções terão níveis hollywoodianos. Mesmo assim ele prefere dirigir a peça delas. Essa cena em particular é uma espetada nas condições quase que mambembes que cineastas precisam enfrentar para fazer cinema no Brasil.

Ao final da projeção fica a clara impressão de que a mulher de 40 não confessa mesmo. Ela está perplexa diante da realidade, vivendo uma espécie de segunda puberdade, mas às avessas. Essa realidade determina um elemento de identificação com todas as mulheres. Já os homens irão descobrir um pouco mais sobre esse ser tão complexo e encantador. E, convenhamos, elas são misteriosas complicadas e chatas, mas são irresistíveis.

Nota do Crítico
Ótimo
Feminices
Feminices
Feminices
Feminices

Ano: 2004

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 72 min

Direção: Domingos de Oliveira

Roteiro: Domingos de Oliveira

Elenco: Domingos de Oliveira, Priscilla Rozenbaum, Dedina Bernadelli

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