Metáfora óbvia para a questão da distribuição de renda no Brasil, Fim da Linha é prova de um dos piores tipos de cinema que se faz no Brasil: o que tem boas intenções, realizadores inteligentes, mas carece de auto-crítica.
Uma produção primária, com cenários improvisados e inverossímeis (o filme me perdeu na primeira cena no gabinete do político) e texto pretensioso, Fim da Linha erra feio também na direção de atores. O trabalho do elenco é lamentável e não há um ator sequer remotamente convincente nele. Observe, por exemplo, a pior delas, Daniela Camargo, que vive a mãe que perdeu seu filho e que circula ao lado das amigas fúteis - chega a dar vergonha das cenas em que as três discutem, na loja de uma delas (Maria Padilha... igualmente sofrível) , que a mãe desgraçada devia parar de pensar no bebê.
Essa é apenas uma entre as várias histórias que a trama tenta costurar. Há um político corrupto cercado de assessores e seu filho, um jornalista de televisão em busca de sua grande chance, dois motoristas de táxi, um catador de papel, uma ladra surda-muda, um bebê seqüestrado, um grupo de velhinhos de um asilo e uma tribo de índios, todos às voltas com dois sacos de dinheiro. No entanto, a única remotamente bem construída é a do jornalista, que tem um certo desenvolvimento de personagem. As demais começam jogadas e não chegam a lugar algum.
Somam-se a tudo isso trechos em que somos apresentados de forma documental à história verídica de Charles Ponzi (1820-1949), um dos maiores fraudadores da história dos EUA e imortalizado como o criador de um dos mais bem-sucedidos esquemas de enriquecimento do tipo pirâmide. Tal segmento, supostamente uma alegoria para a ganância que conduz os personagens, é o ponto alto do filme e até que funcionaria bem na televisão, num desses canais universitários.