Filmes

Entrevista

Florence: Quem é Essa Mulher? | "Esse filme revive uma espécie de era dourada do cinema", diz diretor

Consagrado por A Rainha e Ligações Perigosas, Stephen Frears fala sobre comédia com Meryl Streep

05.07.2016, às 14H55.

Encarado já como uma aposta para o Oscar, apoiado no apelo cômico de Meryl Streep no papel de uma aspirante a cantora cuja voz é um desastre, Florence – Quem é Essa Mulher? chega às telas brasileiras nesta quinta-feira (7) cercado de elogios da crítica internacional e do público europeu, repaginando a carreira (cheia de altos e baixos) do diretor inglês Stephen Frears. Respeitado mundialmente como um artesão, por filmes oscarizados como A Rainha (2006) e Ligações Perigosas (1988), o realizador de 75 anos se alterna entre cults como Os Imorais (1990) e fracassos como O Dobro ou Nada (2012) e Programado para Vencer (2015), que nem sequer teve vaga em circuito no Brasil. Mas neste novo projeto, orçado em US$ 29 milhões, no qual recriou a Nova York dos anos 1940 em um estúdio de Liverpool, o cineasta tem um potencial blockbuster em sua mão, com Simon Helberg (o Howard Holowitz de The Big Bang Theory) e um inspiradíssimo Hugh Grant (de Um Grande Garoto), ao lado de Meryl.

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Esta é a história de uma mulher muito rica que, mesmo tendo tudo, não consegue driblar suas próprias fraquezas. Lidar com a figura de Florence Foster Jenkins, essa herdeira que queria ser cantora, expõe algo de muito constrangedor em mim: minha total inabilidade com a música. Eu tenho zero talento musical, não conheço nada de ritmos e melodia... mas eu tinha uma boa história na mão. E tive Meryl Streep”, diz Frears, num indisfarçável mau humor, por telefone ao Omelete, em respostas curtas e secas, típicas de quem já está com a cabeça em novo projeto – no caso, Victoria and Abdul, já em produção para 2017.

É raro na indústria de filmes independentes – sobretudo a da Inglaterra – um diretor manter uma produtividade tão alta quanto a de Frears, que, desde 2000, mantém um padrão de um longa-metragem por ano (às vezes dois). O tom resfolegado em sua voz é fruto de seu trabalho para manter os cronogramas em dia deste novo projeto, no qual Judi Dench - com quem ele fez Sra. Henderson Apresenta (2005) e Philomena (2013) - é a Rainha Vitória, às voltas com um amigo indiano.

“Eu sou um diretor sem estilo, que nunca se preocupou em analisar a própria obra, mas deu a sorte de cruzar com mulheres talentosas como Meryl, Judi, Helen Mirren... É um privilégio para um diretor cruzar com atrizes assim, que me ajudaram a contar histórias sobre pessoas em busca de um lugar no mundo. Gosto de mulheres poderosas”, diz Frears, referindo-se a Florence Foster Jenkins como uma delas.

Com base em fatos reais, centrados nos esforços de Florence para fazer uma carreira na música apesar do ralo talento, o cineasta constrói uma comédia sobre a busca por um ideal. Ele escalou Helberg como o pianista responsável por acompanhar os solos de Florence e Grant como seu marido e empresário. Há anos, Grant não encarava um papel de peso fora das comédias românticas e já figura entre os possíveis nomes para disputar estatuetas de melhor coadjuvante nas premiações da temporada de Oscar.

Este filme revive uma espécie de era dourada na qual os grandes estúdios ditavam as regras do cinema, não apenas industrialmente, mas artisticamente, alimentando uma aura de charme, com astros e estrelas sedutores. Eu lembrei muito do cinema feito pela Paramount Pictures naquela época, tendo um cineasta sofisticado como Ernst Lubitsch como seu diretor de produção. Era uma época de glamour. E Grant me ajudou a encontrar essa aura”, diz Frears, cujo primeiro longa, Gumshoe, Detetive Particular (1971), está completando 45 anos em 2016. “Eu não venho de uma família de artistas, nem fui educado para ser um, mas cresci vendo filmes... dentro de um cinema... e, lá, decidi o que queria fazer. Filmar não é algo sobre o qual eu teorize: eu faço. Tem que filmar, eu filmo. Esse meu primeiro filme me deu alguma prática. Revi cenas outro dia em uma projeção em Londres e enxerguei qualidade nele. Acho que, com o tempo, eu cresci, aprendi coisas, melhorei de alguma forma. Mas não tento definir nada”.     

Baseado na vida de Florence, o cineasta francês Xavier Giannoli rodou Marguerite, já em cartaz no Brasil. Na Alemanha, Ralf Pleger filmou o docudrama The Florence Foster Jenkins Story, que estreia em novembro.     

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