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Caos Calmo

Drama mostra como o luto pode transformar as pessoas

02.10.2008, às 16H00.
Atualizada em 25.11.2016, ÀS 12H04

Quem conhece o ator, roteirista e diretor Nanni Moretti pelo drama O Quarto do Filho está em terreno seguro com Caos Calmo (2008). Ambos mostram como o luto pode transformar as pessoas, a começar pelo aspecto mais imediato de suas vidas: a rotina.

Moretti ajudou a escrever e protagoniza o filme dirigido por Antonello Grimaldi, adaptado do livro homônimo de Sandro Veronesi. Piero, o personagem de Moretti, está passando pelo pior: sua esposa acabou de morrer, sozinha, na casa de praia da família, enquanto Piero e seu irmão salvavam uma mulher que se afogava no mar. Uma fatalidade que, na cabeça do personagem, é apenas reflexo da distância cada vez maior que ele mantinha da família.

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A reação inicial é imprevisível. No meio do filme, conhecemos um senhor, por exemplo, que passou a varrer a casa insanamente depois da morte da mulher. A princípio Piero se volta para a sua filha de dez anos. Ao levá-la na escola certo dia, decide ficar no carro esperando a manhã toda. De um dia para o outro, sempre repetindo o mesmo gesto, Piero vira a celebridade da pracinha de frente à escola.

É evidente a urgência com que Piero tenta se adequar, conversando banalidades com outras mães de alunos, pedindo que a filha lhe acene pela janela da sala de aula. Aos poucos, a praça se torna um refúgio. Piero recebe ali seus companheiros de trabalho - sua companhia está passando por um processo de fusão com uma empresa nos EUA -, seu irmão, sua cunhada, mas todos esses outros assuntos de sua vida parecem, na paz da praça, coisas desimportantes. Importante é dizer ao dono do pequeno restaurante da praça que ele está exagerando nos ingredientes do macarrão.

Há um ranço anti-capitalista nessa forma de mostrar que as questões corporativas são menos importantes do que uma troca cordial de bom-dias na praça - afinal, "o capitalismo desumaniza", e Piero está ali para conquistar sua humanidade de volta. Sob essa perspectiva, a praça é tradução do protecionismo sindicalizado europeu. O que salva Caos Calmo dessa armadilha discursiva - que, no mínimo, limitaria o alcance do filme - é que a questão do trabalho é acessória na história do pai e da filha.

Se você passou por O Quarto do Filho, vai achar Caos Calmo não só familiar, mas mais ameno (ainda que haja momentos de crueza, como a vigorosa transa na casa de praia). Moretti, afinal, é veterano de comédias dramáticas, e o ator consegue nos transmitir com graça a transformação que Piero atravessa. O grande personagem, porém, é a praça, que nos reserva cenas tocantes, como o momento em que outra personagem joga fora a aliança num bueiro. Que Piero vá depois buscar a aliança, desprendido de todo o drama implícito no ato da mulher, é sintomático da sua melhora de espírito.

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