Tendo como favorito ao Urso de Ouro de 2016 um documentário, o longa italiano Fuocoammare, o Festival de Berlim abriu um espaço a mais em sua competição oficial para a estética do real ao projetar em concurso, nesta quarta-feira, Zero Days, do americano Alex Gibney. Centrada na denúncia sobre um vírus cibernético criado como arma de guerra pelos governos dos EUA e de Israel, a produção foi a que mais mobilizou a plateia estadunidense de passagem pela capital alemã. Tinha americano por todo lado no Berlinale Palast (o centro nervoso do evento) e seus arredores para conferir o olhar deste diretor ganhador do Oscar (por Táxi para a Escuridão) sobre os mendros políticos do país. O fato de o The New York Times ter aberto um artigo sobre o filme eriçou ainda mais os ânimos acerca dele.
"Quando um amigo produtor me falou da existência desse vírus, eu não podia imaginar que haveria tanto segredo enterrado sobre essa operação. E isso só expõe nossa vulnerabilidade", diz Gibney, que usa uma narrativa documental clássica, com entrevistas, arquivos e gráficos.
Sua ironia habitual fica aqui para um segundo (quase invisível) plano diante de toda a perplexidade e temor que ele compartilha com a plateia ao retratar o estrago que um software pode criar. A abordagem gravita além da esfera da conivência institucional dos EUA com a criação de ferramentas virtuais dr destruição, indo para uma reflexão sobre o autismo digital dos nossos dias. "Existem muitos documentos a serem abertos sobre guerras cibernéticas. Nós tivemos acesso a alguns arquivos do Snowden, mas tem muita verdade enjaulada", disse Gibney.
Em paralelo a Zero Days, outro doc sobre as ações militares e sobre as jogatinas governamentais dos Estados Unidos aquece a Berlinale 66: Where To Invade Next, de Michael Moore. Mas o premiado diretor de Tiros em Columbine declinou do convite de vir a Berlim por conta de compromissos com a estreia do longa no circuito americano. Dos filmes em concurso até agora, fora Fuocoammare, os mais cotado para prêmios são o alemão 24 Weeks, que pode render o prêmio de melhor atriz a Julia Jentsch, e o bósnio Death in Sarajevo, que deve render uma láurea de roteiro a Danis Tanovic.