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Orquestra dos Meninos

Filme inspirado em história real não faz justiça ao material-base

06.11.2008, às 15H00.
Atualizada em 01.11.2016, ÀS 19H07

Como em todo bom filme "inspirado em uma história real", ao final de Orquestra dos Meninos (2008), durante os créditos, conhecemos as pessoas de verdade que deram origem às pessoas de ficção. É inevitável desejar conhecer mais sobre aquela história real, mesmo porque ela parece muito mais interessante do que mostra o insatisfatório filme do diretor Paulo Thiago (O Vestido).

Desde 1978, quando tinha 15 anos, o músico e maestro Mozart Vieira trabalhava para criar uma sinfônica na cidade de São Caetano, a 160km do Recife. Carente de assistência social, o semi-árido pernambucano aos poucos viu nascer na cidade um grupo de jovens instrumentistas, que, nos anos 90, inclusive excursionou no exterior e gravou CDs, sob o nome Banda Sinfônica do Agreste.

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Os Meninos de São Caetano, como eram mais conhecidos, porém, só ficaram famosos mesmo no caderno policial dos jornais. Se você não conhece o caso, não sou eu que vou explicar - deixemos para o filme contar.

Nele, por incentivo do governo do Sergipe, onde o longa foi rodado, a pernambucana São Caetano se tornou a sergipana São Mariano. Murilo Rosa interpreta, com dedicação, o maestro Mozart, enquanto Priscila Fantin faz a aluna Creusa. Já começamos então com o erro de casting: não há suspensão de descrença que compre a idéia de que Priscila Fantin é uma pobre jovem de São Mariano. Basta uma passada de câmera pelos rostos do elenco para notar que ela destoa, de forma agressiva até.

Se o único senão do filme fosse esse Onde Está Wally? global, não haveria tanto problema. O amadorismo do roteiro - de autoria de Thiago, Melanie Dimantas e Graciela Maglie - e da direção é que são os pontos nervosos de fato. Paulo Thiago filma como se estivesse operando uma Mitchell dos anos 20: ele estaciona a câmera em um ponto e são os atores que entram em quadro. Não há um sentido de movimento, de fluência de imagens.

Thiago se entrega na hora de filmar a escolha dos instrumentos, na formação da orquestra: ele deve usar umas três vezes o mesmo plano, passando lateralmente pelas caras enfileiradas de todas as crianças. Isso denuncia sua falta de tato para selecionar e hierarquizar imagens; o que vemos ali é uma mera execução de roteiro, da forma mais burocrática possível. E aí, diante de um filme que é mera ilustração do que está no script, são os defeitos do texto que se evidenciam.

O filme apresenta a nós e a Mozart, por exemplo, o pai de Creusa, como se isso fosse dar conta de todo o backstory da personagem. Se Orquestra dos Meninos vai apostar na subtrama amorosa, precisa fazer mais. E quando a moça apaixonada pelo maestro pede aulas de violão? Outra sugestão interrompida; no instante seguinte ela já se foi, cuidar da vida em outra subtrama, e o espectador fica sem entender o que tanto esses personagens ciscam sem saberem para onde ir. Aliás, não entremos na questão do suicida, porque isso já seria contar demais.

O fato é que, pulando de fragmento em fragmento, sem conseguir dar liga às situações, e inserindo tipos caricatos no meio (o que é aquela promotora? E o delegado?), Orquestra dos Meninos não faz justiça ao potencial do material.

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