Perlimps

Créditos da imagem: Perlimps/Vitrine Filmes/Reprodução

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Entrevista

“A cor manda na gente”: Como Alê Abreu concebeu o universo de Perlimps

Diretor abre seu processo “amalucado” de criação para dar vida à sua nova animação, que estreia nesta quinta (9) nos cinemas

Omelete
4 min de leitura
10.02.2023, às 13H01.

“É através de uma luz tão forte que se entra nesse mundo”. É com essa frase que o sábio João de Barro (Stênio Garcia) introduz o público ao universo colorido e pulsante de Perlimps, novo filme do diretor brasilerio Alê Abreu depois do indicado ao Oscar, O Menino e o Mundo. A escolha de palavras para o personagem e para este momento tão crucial do filme não é à toa. A natureza do Bosque Encantado, cenário da aventura da duplinha Claé (Lorenzo Tarantelli) e Bruô (Giulia Benite), é uma verdadeira explosão de tons vivos e contrastantes, e é justamente por isso que precisa ser defendido da ganância dos Gigantes, que o querem para si.

A combinação entre o conceito e a efervescência visual da animação é precisa, mas agora definir qual foi o ponto de partida de Perlimps é um pouco mais complicado. “Meu processo de trabalho é meio amalucado, né?”, explicou o cineasta, em entrevista ao Omelete. “Vou recebendo um monte de informações, que eu chamo de peças desse quebra-cabeças imenso que vira o filme. Mas vem principalmente das coisas que tocam a gente — a mim e a muitas pessoas”.

Para Abreu, os elementos se combinaram em tela menos por planejamento e mais por feeling. “Repito o que o Paul Klee dizia: na verdade a cor manda na gente, e não o contrário”. E, para a história que ele queria contar, essas sensações eram especialmente importantes. “Esse é um bosque iluminado pela gama de cores da infância, que traz uma psicodelia natural, né? Então quis contaminar os cenários com esse colorido”. Por isso, para defini-los, o diretor foi experimentando e vendo as combinações que faziam mais sentido para cada momento primeiro no papel, e depois no computador.

Perlimps
Perlimps/Vitrine Filmes/Reprodução

“Fiz várias bases com tinta acrílica. Escolhia uma lá que tinha mais a ver com o que eu precisava, e então podia enxergar ali, no meio daquelas manchas, alguns elementos. Isso aqui é uma árvore, isso aqui é uma pedra…”, descreveu. “Aí meu trabalho era só delinear um pouquinho mais digitalmente para deixar mais claro, colocar o foco do olhar naquele lugar onde os personagens estão atuando e deixar o entorno nessa abstração multicolorida. Foi isso que, de uma forma consciente ou talvez menos consciente, me dirigiu a usar assim”.

CONSTRUINDO CLAÉ E BRUÔ

O visual, embora essencial para a experiência imersiva de Perlimps, não seria o suficiente sem as performances dos dubladores Giulia Benite e Lorenzo Tarantelli. São eles que dão vida aos contrastes que permeiam toda a trama e, ainda, dão o tom adoravelmente infantil para a fábula. No entanto, o projeto foi inédito para ambos. No caso de Benite, que vinha dos filmes e da série live-action da Turma da Mônica, este foi seu primeiro trabalho na dublagem mas não somente isso.

“Foi meu segundo trabalho da vida, tem um peso a mais ali”, contou. Para a jovem atriz, sua experiência anterior como a Dona da Rua, um papel que dava espaço para muita fisicalidade, foi muito importante no desenvolvimento da sua personagem, Bruô, porque “dar a voz para um personagem não é só dar a voz”. “Você precisa também usar o corpo, porque suas emoções precisam estar lá presentes para passar verdade. Até porque acho que todo dublador precisa ser um ator muito bom também”.

Tarantelli sabe bem o que a colega quer dizer: há anos ele é a voz brasileira do protagonista de Young Sheldon. Mas, mesmo para ele, a experiência foi nova. “[A voz original] é totalmente diferente da dublagem. Você não tem uma base, é um pouco mais complexo”, afirmou. Contudo, o ator achou o desafio bem-vindo. “A gente tem uma liberdade para criar nosso personagem e dar características próprias para eles. Isso é muito legal”.

É claro que nenhuma etapa deste processo foi solitária. Na realidade, os exercícios que faziam juntos com a direção de Abreu, é claro foram fundamentais para encontrarem a emoção de cada cena. Aliás, foi justamente assim que nasceu o momento preferido deles do filme. “Não sei se foi coisa da minha cabeça, mas alguém me segurava e eu tinha que correr”, lembrou Benite, que foi corroborada tanto pelo diretor, quanto por Tarantelli. “Lembro do Alê falando ‘mais garra, eu quero ver o Claé’. Ele fazia assim ‘pensa nos dentes, nele salivando’”, completou o jovem ator.

“Foi o que você falou, né? Olha como o corpo é importante. Ele interfere na emoção”, arrematou o diretor, que também tem muito orgulho da cena. “A gente saiu arrepiado da sessão de gravação nesse dia. Foi muito forte e isso ficou no filme”

Perlimps já está em cartaz nos cinemas.

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