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Propriedade Privada - Festival do Rio 2007

Drama familiar com Isabelle Huppert tem direção austera e ótimo elenco

02.10.2007, às 22H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 07H08

Crescer não é fácil, especialmente na hora em que filhos devem sair do abrigo dos pais e seguir caminhos próprios. Propriedade Privada (Nue Propriété, 2006), drama do diretor belga Joachim Lafosse, mostra como esse processo pode ser pesado, por vezes incompleto.

Thierry e François (vividos por Jérémie Renier e Yannick Renier, irmãos na vida real) não são exatamente crianças - pelo contrário. Mas o fato de morarem longe do pai em um casarão restaurado no campo talvez os impeça de sair debaixo da asa da mãe, Pascale (Isabelle Huppert). O pai envia dinheiro, a mãe dirige até a cidade quando precisam de algo... Não é uma realidade que parece precisar urgentemente de uma mudança.

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Mas Pascale chegou em um ponto de sua vida que, sente ela, já pode deixar o papel de genitora de lado. Ao lado do namorado, ela pretende abrir uma pousada nos Alpes; Thierry e François já podem se cuidar sozinhos. Pascale então anuncia que planeja vender a casa.

Lafosse começa aí a empreender uma dura crítica não só à estagnação desse estrato da elite européia e à falta de perspectiva da juventude, mas também ao senso de posse que Propriedade Privada nos indica como sendo elemento central da psicologia desses personagens.

Antes de Pascale contar seus planos aos filhos, a câmera de Lafosse acompanhava Thierry e François como sendo um só: os dois brincando quando a mãe se veste para sair, os dois jogando videogame, os dois tomando banho juntos, os três jantando com uma sintonia que parece inabalável. Mas é só Pascale anunciar que venderia a casa para que os conflitos aflorassem. Lafosse, a partir daí, se detém a registrar a reação de cada um - e então Thierry se mostra espantosamente instransigente como o pai, enquanto François se retrai e se cala, como quem puxou a mãe.

Propriedade Privada pode dar a sensação, aqui, de ser um filme tremendamente implacável com os seus personagens (e talvez seja mesmo), mas o fato é que Lafosse comanda a narrativa de forma bastante limpa: o espectador não há de se sentir ofendido pelo formalismo de planos estáticos do cineasta, jeito bastante austero de filmar.

E ainda que os personagens estejam jurados sob um determinismo um tanto calculado, de alguma maneira fica a esperança de que haverá alguma válvula, uma fuga, uma redenção para aqueles personagens. Essa impressão pode ser fruto da atuação segura do elenco, especialmente da estupenda Isabelle Huppert, como também pode ser fruto do domínio cênico de Lafosse. O que quebra esse compasso é o final do filme, que evidentemente não contarei. Mas é um final fácil demais para quem ensaiava retrato tão complexo daqueles personagens.

Como roteirista, Lafosse faz escolhas simplistas, mas o lado cineasta compensa as falhas: o travelling em plano aberto que encerra o filme, no qual finalmente podemos ver o casarão por inteiro, depois de 90 minutos catando apenas relances do interior e da fachada da propriedade, é de derrubar.

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