Paulo Miklos em Saudosa Maloca (Divulgação)

Créditos da imagem: Paulo Miklos em Saudosa Maloca (Divulgação)

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Entrevista

Paulo Miklos não quis imitar Adoniran Barbosa: “Criei minha própria versão dele”

Ator disse que cresceu com histórias do cantor biografado em Saudosa Maloca

Omelete
3 min de leitura
22.03.2024, às 06H00.

Para o diretor Pedro Serrano, escalar Paulo Miklos para interpretar Adoniran Barbosa ainda em 2015, quando estava produzindo o curta-metragem Dá Licença de Contar, foi um golpe de sorte — e um sinal claro da amizade que floresceria entre eles nos anos seguintes, a ponto de culminar no longa Saudosa Maloca, mais uma vez inspirado nos sambas do ícone paulistano.

O fato de Paulo ter chegado nesse projeto quando ainda era só o curta-metragem diz tudo o que você precisa saber sobre ele”, apontou Serrano em entrevista ao Omelete, no set de Saudosa Maloca. “Ele é um cara aberto, acessível, doce... entramos em contato com ele quando ainda tínhamos muito pouca estrutura, muito pouco capital, e mesmo assim ele já se mostrou super interessado, quis ler o roteiro, e topou super rápido”.

A escolha de Miklos passou, é claro, pelo fato de que Serrano precisava de alguém que pudesse convencer no gogó. “O Paulo tem o mesmo tipo de timbre que o Adoniran tinha, o timbre de alguém que fumou durante a vida, que atinge certas tonalidades específicas… é a ‘anti-voz rouca’, como diz o Antonio Candido”, adicionou o diretor, citando o discurso do célebre crítico carioca sobre o sambista.

O próprio ator admite que sua experiência musical “adiciona uma camada interessante” ao desafio de interpretar Adoniran Barbosa. É importante dizer que não estou recriando, nem imitando ele. Quando estou cantando e atuando nesse filme, estou meio que criando o meu próprio Adoniran, inspirado no dele. E as pessoas gostam por causa disso, não gostariam se fosse só uma imitação — imitação não tem vida, criação tem”, definiu Miklos ao Omelete.

Sinto uma responsabilidade imensa ao interpretar um personagem tão icônico de São Paulo, mas também sinto que, por ser paulistano também, tenho uma familiaridade muito grande com ele”, continuou o Titã. “Durante toda a minha vida ouvi falar do Adoniran, por onde ele andava, que ele dormia no sofá da Rádio Eldorado... histórias que ecoavam na minha juventude. Como todo fã eu tinha o meu Adoniran, o Adoniran que eu admirava. Poder interpretá-lo agora é um grande presente”.

Especificamente, o Adoniran encarnado por Miklos é aquele que pintava uma cena, construía um cenário” como ninguém. O ator se derreteu em elogios à consciência social disfarçada por um humor muito fino que marcava a obra do sambista. As tintas que ele usava eram sempre críticas, era sempre com o objetivo de te fazer ver um outro lado de cada acontecimento que ele narrava. Por trás do samba que 'incendiou' a Casa Verde, por exemplo, tem o fato do samba ser a única diversão do povo pobre, que trabalha duro, que não tem acesso à cultura”.

No fim das contas, tudo se resume na escolha de Miklos quando perguntado sobre seu verso preferido de Adoniran. “Eu gosto muito do 'nóis não semo tatu' [do clássico “Samba do Arnesto”]. Quer dizer, a gente não se esconde! A gente se mostra, e se mostra com orgulho”.

Saudosa Maloca já está em exibição nos cinemas brasileiros.

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