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Lollapalooza Brasil 2013 | O primeiro dia

The Killers e deadmau5 se destacam em dia com muita lama e show lunático do Flaming Lips

30.03.2013, às 13H50.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H41

As atrações do primeiro dia do Lollapalooza Brasil 2013 cumpriram todas as expectativas. Em um Jockey Club enlameado e com 52 mil pessoas, o The Killers fez um show de rock com hits para a multidão e o deadmau5 impressionou pelo espetáculo visual e sonoro; enquanto o Flaming Lips entregou uma apresentação tão esquisita quanto a esperada.

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Durante a 1h20 em que esteve no Palco Cidade Jardim, os americanos do The Killers comprovaram sua vocação para ser a atração principal - boa parte disso se deve a presença de palco e ótima voz de Brandon Flowers, líder do grupo. Com quatro discos na carreira, a banda tem sucessos suficiente para conduzir um show sem perder o ritmo. Além das consagradas "Somebody Told Me" e "Mr. Brightside", puderam ser ouvidas "Runaways" e "Miss Atomic Bomb", ambas do recém-lançado álbum Battleborn.

A apresentação seguiu exatamente o mesmo roteiro da última turnê da banda, inclusive com os mesmos diálogos e paradas estratégicas por parte de Flowers - os fãs que assistiram ao DVD/Blu-ray no Royal Albert Hall reconhecerão cada segundo do show. Em breve momentos, como quando tocou "Here On Out", também de Batlleborn, o Killers viu o público se dispersar um pouco. Nem mesmo "Miss Atomic Bomb" se mostrou tão efetiva como outros singles antigos. Por fim, a banda de Las Vegas deixou estampada em sua apresentação a primazia técnica de cada um de seus componentes, a lembrança dos ótimos discos que um dia produziu e a expectativa para que essa época retorne - agora que há um claro amadurecimento do grupo como um todo.

Algum tempo antes, do outro lado da arena montada no meio do Jockey, o deadmau5 iniciava as apresentações do mundo eletrônico no Palco Butantã. Com seu tradicional capacete, o DJ símbolo do house progressivo fez uma performance palatável a todos os públicos. O deslumbre visual dos inúmeros telões de led e seu gigante capacete impressionam até os mais resistentes às batidas eletrônicas. Para estes, o Ratão, como é conhecido, ainda tocou "Killing In The Name", hino do Rage Against The Machine. Deadmau5 reuniu a maior parte do público presente no Lollapalooza, comprovando mais uma vez a força que seu estilo de música têm em grandes festivais, e como foi uma aposta correta da organização apostar em um line-up forte de DJs - ele é apenas o primeiro de uma série que ainda conta com Kaskade, Steve Aoki, Felguk e Mix Hell.

A esta altura, a estrutura montada pela organização tinha passado pelos principais problemas do dia e conseguiu superar parte deles. As filas caixas estavam bem reduzidas e não havia nenhuma confusão para comprar novas fichas ou mesmo pegar uma bebida. Apesar de não ter lotado sua capacidade (60 mil pessoas), a arena comportou bem o público presente, que pôde acompanhar com tranquilidade os maiores shows da noite. O problema maior estava na espera e na qualidade dos banheiros. Com a chuva, a lama se misturou com a areia e em alguns pontos formou uma espécie de pântano. O cheiro do estrume também não ajudava, apesar do esforço da produção em repôr o papel higiênico e até álcool gel nos banheiros químicos.

A alucinação do Flaming Lips

Não é tarefa fácil ser a última banda no palco principal antes de um grande headliner. Para Wayne Coyne e seu grupo de Oklahoma, a situação se agravou com um show conceitual, que não foi compreendido muito bem pelo público.

Decorando o palco estava um grande objeto cenográfico, feito de fios de led, cujo formato deixava margem para muitas interpretações (era uma teia? Um ovo? Uma nave?). Preso a ele por fios de led, como cordões umbilicais, estava um bebê de brinquedo, que Coyne segurou no colo durante grande parte do show, cuidando dele como se fosse de verdade, tornando tudo aquilo uma cena bizarra e surreal. A atmosfera instaurada era de estranheza, e o repertório era dominado pelo novo disco, The Terror, cujas músicas são introspectivas e altamente experimentais, logo, não cabem em um ambiente de festival.

Foi uma apresentação difícil, sem potencial para atrair novos fãs e mesmo os de longa data precisavam estar abertos a uma experiência  muito mais próxima da arte performática do que de um show de rock. Era preciso se abrir e aceitar a nova fase do Flaming Lips, assim como um dia aceitamos que o Radiohead nunca mais tocaria "Creep" ou músicas do The Bends. Para os que conseguiram entrar na onda,  foi algo recompensador apenas pelo fato de ser totalmente novo e digna do título deste novo disco. Ao redor, a indignação do público e seus comentários revoltados eram nítidos, o terror foi, de certo modo, instaurado.

Faltando meia hora para o fim, a banda mostrou um repertório antigo e conhecido, com músicas do álbum Yoshimi Battles the Pink Robots (2002). "Are You a Hipnotist??" abriu a sequência, seguida de "One More Robot", "Yoshimi Battles the Pink Robots Pt. 1" e "Do You Realize?", tocada em um ritmo um pouco mais lento, tornando-a mais triste ainda. No fim das contas, o Flaming Lips trouxe ao Lollapalooza um show muito interessante, mas totalmente inadequado à proposta do festival e que falhou em conectar-se com a plateia.

Cake e a surpresa do Of Monsters and Men

Uma enorme plateia esperava pelo show do Cake no palco Butantã, que começou com problemas técnicos e som muito baixo. Havia dois shows diferentes acontecendo ali, e os que não chegaram cedo e tiveram que assistir do fundo acabariam saindo prejudicados. Sentindo isso, o cantor John McCrea se esforçou para entreter a plateia e conseguiu chegar ao fim do show com a multidão dançando - momentos assim deixam clara a habilidade do experiente McCrea em conduzir o público. O vocalista suplantou o alto som do Palco Perry, que mais uma vez atrapalhou algumas bandas do Butantã, e conseguiu optou por dinâmicas de grupo para chamar atenção do público.

Tudo indicava que seria uma apresentação ruim. Além dos problemas técnicos, longas pausas para decidir a próxima música (o Cake não usa setlist, o que deixa a sequência meio errática), colaboravam para a dispersão. O show começou a animar em "Sick of You", do último disco Showroom of Compassion (2011), quando McCrea dividiu a multidão em partes para cantar o refrão. Normalmente essa escolha é um tiro no pé, mas ali funcionou e todos, enfim, estavam envolvidos. Além das músicas, o viés político dos discursos de McCrea tornou o show muito interessante, abordando respeito às minorias, liberdade individual e até religiosidade, em "Satan Is My Motor", em que o vocalista alertava que era apenas uma metáfora.

Hits como "Never There", "Short Skirt/Long Jacket" e o famoso cover de "I Will Survive", lançado no disco Fashion Nugget (1996), fizeram todos cantar e dançar, mas sem a emoção apaixonada típicas de fãs. O público do Cake respondia na mesma medida que a intensidade das músicas: todos se divertindo muito, mas de um jeito tranquilo e totalmente adequado àquele rock alternativo californiano. Outro destaque foi o cover de "War Pigs", do Black Sabbath, que ficou muito legal na versão do Cake. O resultado da apresentação foi ótimo e parecia ter surpreendido até a própria banda, que agradeu aos fãs por "Se lembrarem da gente depois de tanto tempo" - parece que eles não esperavam tanto do público brasileiro.

O já prejudicado terreno do Jockey virou um lamaçal de vez com a chuva que o Of Monters and Men trouxe ao entrar no palco. Direto da Islândia, o sexteto indie rechaçou qualquer previsão de antipatia e foi a melhor surpresa do primeiro dia de festival. A troca entre os vocais de Nanna Bryndís e Ragnar Þórhallsson só não impressionaram mais do que a versatilidade de Kristján Kristjánsson, que alternou entre teclado, trompete, acordeon e diversos instrumentos de percussão. No decorrer da apresentação a banda tocou os maiores sucessos de seu primeiro e único disco, além de singles vindo do EP Into the Woods. Apesar de possuir composições recheadas de onomatopéias e com letras simplistas, Of Monsters and Men possui um talento inegável, não demorará até se tornar uma banda conhecida pelo grande público.

O Palco Alternativo e The Temper Trap

Em sua segunda vinda ao Brasil, os australianos do Temper Trap fizeram um show muito bonito, mas muito calmo, sem aproveitar as músicas mais agitadas e dançantes de seu repertório. O vocalista Dougy Mandagi demonstrava toda a amplitude de sua voz em músicas mais introspectivas, com performance sentida, mas sem se conectar muito com a plateia. O show parecia desenhado para ir acelerando aos poucos, e os problemas técnicos iniciais logo ficaram para trás com "Love Lost". "Rabbit Hole" e "On My Own" continuaram a sequência calminha e dramática, mas ainda com o público muito distraído para as sutilizas da interpretação de Mandagi.

O clima logo foi se transformando, com um longo interlúdio instrumental mais agitado, com direito a trocas de instrumentos, catarse total do baixista e até uma descida à grade, com o vocalista abraçando todos e cantando junto com a plateia. O ponto alto do show foi o hit "Sweet Disposition", da trilha de 500 Dias com Ela, que encerrou o show e fez todos cantarem junto, causando uma mudança até na fisionomia de Mandagi, que ficou muito feliz ao ver todos imersos na música - quem sabe ele teria mais momentos como aquele se tivesse escolhido as músicas certas para o setlist, sem deixar de fora alguns singles mais conhecidos.

Mais cedo, o Crystal Castles não se importou com o tamanho do Palco Alternativo e começou o show com uma festa. A vocalista de cabelos roxos, Alice Glass, se jogou no público logo na primeira música. Para os que trasitavam pelo local, era difícil ouvir a voz ou discernir o que ela dizia, no entanto, não se podia dizer que faltava animação. O som característico da banda, cheio de sintetizadores e uma série de modificadores na voz de Glass, era perfeito para o lugar onde estavam, onde conseguiram alcançar um publico reduzido e satisfazer os poucos fãs que foram lá para ver o seu trabalho.

O Passion Pit reuniu um grande público para encerrar as atividades do Alternativo, que a esta altura estava com um som muito baixo. A plateia compareceu mas se mostrou pouco empolgado com o show e parecia economizar energia para assistir The Killers, que viria logo em seguida. "It's Not My Fault I'm Happy" fez todos cantarem junto e o single "Little Secrets", do álbum Manners (2009), foi o ponto alto com o refrão "Higher and higher and higher", que finalmente convocou a energia para a galera pular e dançar encerrando a apresentação.

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