Música

Entrevista

Omelete entrevista Chris Cornell

Cantor fala sobre novo álbum, turnês e videogames

13.11.2011, às 09H00.
Atualizada em 16.11.2016, ÀS 23H03

Nossos parceiros do Collider conversaram com Chris Cornell, músico que se apresenta no segundo dia do SWU 2011. Na entrevista, o cantor fala sobre shows, grandes momentos da carreira, videogames e seu trabalho no álbum acústico Songbook, incluindo a canção "The Keeper", escrita para Machine Gun Preacher, novo filme do diretor Marc Forster.

Chris Cornell

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Chris Cornell

Sempre ouvimos sobre exigências loucas dos contratos de turnê. Qual é a mais louca que você já ouviu e qual a mais divertida que você já fez?

Com o Soundgarden chegamos à conclusão de ter cuecas e meias entre as nossas exigências. Descobrimos que é algo barato e simples que qualquer um pode conseguir, e também é a coisa mais útil. Passamos também a adicionar escovas e pasta de dente. Parece idiota, mas não precisávamos de mais nada. Tínhamos Jack Daniels nas exigências e daí cuecas e pasta de dente. Eram coisas assim, apenas coisas que te ajudam a passar pelo show.

Qual foi o show de maior duração que você já fez e o que fez ele ser tão longo?

Provavelmente o mais longo foi um show do Soundgarden. Não lembro aonde, mas foi em Nova York. Nós faríamos três noites de shows. Tive laringite antes do primeiro, mas decidi que ia fazer os shows e não cancelar. Acho que se os fãs veem algumas vezes que o cantor perdeu a sua voz e que ele está lidando com isso, pode ser algo especial.

Eu fiz a primeira noite e na segunda, quando o médico veio, minha voz tinha desaparecido completamente. Ele parecia um médico normal, mas me entregou algumas pílulas que estavam soltas no seu bolso. (...) Ele só as retirou do bolso e eu as tomei. Não disse nada sobre não beber. Não bebi muito, mas tomei uma vodka com suco de cranberry antes de subir ao palco para relaxar. Não bebi mais, mas havia bebido. Não lembro que música era, mas era uma muito fácil de tocar na guitarra. Meus dedos não estavam indo a nenhum dos lugares que deveriam ir. Estava um pouco consciente e olhei para a banda. Estavam com um olhar aterrorizado que nunca vira antes e essa é a última coisa que lembro.

Aquele show teve mais de três horas. Foram três horas porque eu ficava dando longas caminhadas entre as músicas e falando, sabe-se lá sobre o que. Não tenho memória disso. Quebrei metade das guitarras durante o show. Lembro vagamente de algumas pessoas me falando para cancelar tudo e eu dizia não. Estava apagado. Foi a única vez que isso aconteceu comigo no palco, mas aconteceu. Não me lembro de nada, mas sei que durou mais de três horas. Foi uma longa noite de entretenimento, por todas as razões erradas.

Como tocar um setlist longo afeta a sua voz no outro dia? O que você faz para mantê-la viva e fresca?

Não sei se uma hora e meia ou três horas fariam isso comigo. Eu meio que faço um aquecimento até a apresentação e é isso. (...) Se canto, não acho que exista muita diferença entra duas horas e meia e uma hora. (...) Fico em casa e me concentro. A única coisa que tentei aprender ao longo de todos esses anos é não sobrecarregar, particularmente com o Soundgarden, porque o som é muito alto no palco. (...). No começo, quando tocávamos em clubes, eu tentava não berrar. Estava tentando me acalmar e ter disciplina. Eu não me permitia deixar tudo de lado e gritar até o fim da minha voz. Tive muita sorte. Minha voz tem sido muito resistente até agora. Realmente posso forçá-la, porque me cuido. Não fumo nem bebo mais. Notava que minha voz falhava porque eu falava muito, fumava e bebia. No dia seguinte, era bem difícil. Não acho que isso seja novidade para alguém - não beber e não fumar. Isso não é mais uma revelação.

Esse ano é o 20º aniversário de muitos álbuns importantes. O Soundgarden tem um disco fazendo 20 anos. Existem planos para fazer alguma coisa especial?

Somos uma banda há 25 anos. Nosso primeiro lançamento foi o EP da Sub Pop, Screaming Life. Acho que foi em 1987. Então esse aniversário de 20 anos já passou. Nós poderíamos ter feito o aniversário de 20 anos do Badmotorfinger, mas estamos gravando um álbum novo, e acho que isso é mais emocionante. Talvez a gente comemore o aniversário de 25 anos do Badmotorfinger.

Há alguns anos, se alguém cedia suas músicas para um comercial de TV, estava se vendendo. Agora, todos estão na TV, no cinema e no game Rock Band. O que você considera como limite até que alguém tenha se vendido? Já teve alguém que o abordou, esperando usar suas músicas, e você disse não?

Acho que muitas das coisas que eu fiz, as pessoas acharam que eu estava claramente me vendendo. Trabalhar com o Timbaland como produtor, por exemplo. Mas fazia sentido para mim, depois de décadas vendendo milhões de discos, fazer um álbum que poderia ser difícil para muitos fãs de longa data entender. Para mim, foi um experimento. (...) Mas tenho feito músicas para filmes. Também tive ofertas para fazer músicas para diferentes comerciais, mas não é o que eu gostaria. Um bom exemplo é o Soundgarden permitindo que nossas músicas fossem usadas em Road Rash. A razão para isso é porque amo esse game. Sempre joguei a versão anterior e achava muito divertido. Naquela época, isso era algo que você se questionaria e seria cauteloso, mas nós achamos que era um ótimo jogo.

Você ganhou um Grammy, fez turnês mundiais, fez uma canção para um filme do James Bond e Johnny Cash chegou a fazer um cover de uma composição sua. Teve alguma coisa que nem acreditava que teria a oportunidade de fazer, ou que quando aconteceu, você ficou surpreso?

O momento com Johnny Cash foi uma coisa grande para mim, definitivamente. Lembro de gravar a música para o James Bond e era algo muito caricato. Lembro de ouvir "Live and Let Die" sem saber que essa canção era de um filme do James Bond. Nunca fui ver esses filmes no cinema, sempre assisti na TV - não era um grande fã de James Bond.

Mas gostei mais do filme com Daniel Craig e tive a oportunidade de ver o começo do filme antes de escrever a canção. Então realmente fiz parte do processo. Pude conhecer a rainha da Inglaterra, que é algo que eu adoro poder dizer, mas para um americano isso não é a mesma coisa. Mas tudo isso perde a cor quando comparado a conhecer Johnny Cash.

Encontrei com ele uma vez, depois de ele lançar Rusty Cage. (...) Era assustador simplesmente falar com ele. Sua voz era tão baixa que quase vibrava. Foi simplesmente uma alegria. Lembro que meu irmão trouxe para casa o disco At San Quentin, quando eu tinha uns sete anos e nós ouvíamos muitas vezes. Então quando você começa a gostar de uma coisa dessas tão jovem, e depois, quando adulto, aquela pessoa que você admira está gravando uma música que você escreveu, parece inacreditável. Não parece possível. Isso não pode estar acontecendo. Não importa o que digam, ele é um rock star. Ele é considerado um artista country, mas não o vejo dessa forma. (...) Acho que nos termos da vida dele, composições, paixão, desempenho - ele era um roqueiro com certeza. (...) Ele era uma lenda viva. Foi realmente incomparável.

O que você pensa de jogos como Rock Band e Guitar Hero?

Joguei uma vez e foi a única vez que tive a oportunidade. Foi no camarim de Chester Bennington, do Linkin Park. Ele tinha e me convidou para jogar. Ele e sua mulher estavam jogando e eles eram bons no jogo, e estavam se divertindo. Tentei jogar e foi meio divertido, mas é só um videogame. É uma questão de coordenação do olho e da mão. Se você está tentando pensar musicalmente, isso não vai ajudá-lo. É melhor ignorar o que está acontecendo melodicamente e só olhar para os pequenos pontos na tela e as cores correspondentes e tentar apertar na hora certa. Não entendo porque as pessoas escolheriam jogar Rock Band ao invés de jogar Halo ou algo assim, que é um jogo bem mais legal. Gosto mais desse tipo de game, mas essa é só a minha opinião. (...) Acho ótimo é que a música é uma grande parte [do jogo]. Isso também acontece em outros jogos. Acho que música é algo que está se tornando mais importante e proeminente em termos de programação e apresentação. Quando o Soundgarden cedeu músicas para o game Road Rush, foi uma das primeiras vezes que uma banda cedia músicas já gravadas para uma trilha sonora. Agora, há bandas criando trilhas originais para games. Acho isso ótimo.

Você já tocou com o Pearl Jam algumas vezes. Quando isso vai acontecer novamente?

Nós conversamos sobre isso. Nós tocamos duas noites no festival do Pearl Jam em Wisconsin, no Alpine Valley. Então nós decidimos que nós faríamos o show juntos lá, mas não iríamos ficar repetindo porque é algo especial. Então decidimos fazer essas duas noite e privar todo mundo em Toronto, por exemplo, por mais que eu estivesse lá também.

Definitivamente quero te perguntar sobre Machine Gun Preacher. Como você se envolveu com o projeto?

Um amigo meu é um grande amigo de Marc Forster [diretor]. Ele leu o roteiro e, por algum motivo, achou que eu devia fazer uma música para o filme. Então liguei para Marc Forster e disse, "Quero escrever uma música para seu filme". Ele ficou bem empolgado. Nunca o conheci pessoalmente, só falei com ele ao telefone, provavelmente nos primeiros dias de filmagem. Li o roteiro, mas não vi o filme antes de fazer a música. Nós tivemos breves conversas sobre como poderia ser a música e o que ele queria. Ele não queria nada muito literal. Ele só me deu algumas indicações gerais, como por exemplo visitar o site de Sam Childers - o cara em que o filme é baseado. A canção que eventualmente escrevi é na maior parte baseada nisto. Foi consultando o seu site, The Angels of East Africa, que é a organização que constrói casas, dá roupas e alimentos para as crianças no Sudão. Essa é basicamente a história.

Eu tive algumas ideias, mas "The Keeper" foi a que realmente se encaixou. Foi bem difícil por que existem muitas facetas. Ele é um motoqueiro viciado e fora-da-lei que se torna cristão. Primeiro você tem esse motoqueiro/ roqueiro dos anos 70 e então você tem aquele toque gospel, e eu amo música gospel. Aí eu fui para a África. No filme há música africana, libanesa e hip hop. Mas acabei fazendo uma música no estilo de composição do Bob Dylan, que teoricamente funcionou bem nas cenas do orfanato - que é de onde veio a inspiração.

Qual é a sua cidade favorita nos EUA para tocar? E qual a cidade favorita fora dos EUA?

Estou pensando em shows recentes. Fiz um pequeno show em Austin antes de começar a minha turnê acústica e o público foi incrível. (...) Estava muito nervoso e ia tocar por duas horas e meia e fiquei com medo que eles não fossem gostar, mas o público foi incrível. Foi algo emocionante. Tive a mesma experiência em Toronto nessa turnê. Fui para Toronto muito doente. Tive febre e estava um pouco mal. Não tinha nem certeza de onde era o estúdio. Lembro de olhar para as pessoas e pensar "Eu vou tentar sobreviver a esse show. Vou lá tocar essas canções e espero isso seja bom". E o público foi tão legal e o ambiente era tão aconchegante. Foi memorável. Voltei com o Soundgarden para Toronto. O primeiro show da nossa turnê de verão foi lá e o público era incrível.

O que você está gravando agora?

Soundgarden.

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