Música

Artigo

Poison on the rocks

Ah o carnaval...

02.03.2010, às 00H00.

Lá se foi mais um Carnaval, e o único ziriguidum que ouvi foi o das sinapses entre os meus neurônios tentando entender como, em quase oito anos de Poison, eu nunca falei da maior festa popular do nosso país. Será culpa? Vergonha alheia? Vergonha pura e simplesmente? Resignação?

Poison on the rocks

None

Acho que é, sobretudo, respeito. Sim, acredite-me: respeito por Noel e Cartola, pela cultura nacional, por quem se dedica às escolas de samba como torcedores do Corinthians pelo time (disso eu entendo \o/), pelo bem que o Carnaval já fez ao Brasil (outro dia explico) e pelas marchinhas. Sim, se tudo ainda girasse em torno de uma "Água Mineral" ou de uma "O Teu Cabelo Não Nega" - o meu não nega, mas eu não tenho nada de samba no pé, apesar de ser uma boa sujeita - eu juro, juro mesmo, que iria atrás do trio elétrico. Mas faz tempo que o negócio não é bem assim. E não, a culpa não é da nudez da mulherada, dos habitantes adoradores de bunda do país idem, do ninguém é de ninguém. Sexo move o mundo não é de hoje, e em clubes e seus dark rooms, raves e que tais, o liberalismo (não confundir com libertinagem!) relacionado ao assunto é idêntico ao do Carnaval.

E por que eu nunca tinha falado do Carnaval então? Porque não existia a Claudia Leitte! Ou não existia com tanta evidência, coloquemos assim.

Para abordar melhor o assunto, resolvi dividir o que é incômodo no Carnaval das três cidades em que a festividade é mais importante - em termos de cobertura das emissoras de televisão, não de cultura brasileira, que fique claro.

Salvador

A Bahia é tão aprazível, bacana mesmo. Eu, paulistana da gema, quase invejo o molejo baiano, o saber viver bem. Península do Maraú? Recomendo com força. A culinária? Quiçá a melhor do país. É como eu sempre digo: dendê é a ambrosia do diabo. E eu gosto, amo.

Mas a Bahia tem um azar sem fim para artista. Para cada Caetano Veloso, gerou um Gil, um Carlinhos Brown, um Raul Seixas, uma Claudia Leitte e - adivinhe - o mala-mor nacional: ele, João Gilberto.

A Ivete, bom, a Ivete é um azar duplo. Porque não fosse ela ter nascido na terra do axé, daria uma bela cantora de, sei lá, jazz, quem sabe? Ivete tem uma baita voz e, confesso, dou risada com a espontaneidade da baiana sempre que a vejo no sofá da Hebe (ahan, você leu bem: sofá da Hebe). Mas Ivete nasceu na Bahia e se criou no axé. E isso nem Iemanjá conserta.

O pior de Ivete? Ter dado cria a coisas como Claudia Leitte. Se "Festa" e "Poeira" já é dose de aguentar, o que dizer da cópia? Que além de cantar o que canta - o que já seria suficiente pra ela ter que passar a vida inteira lavando a escadaria da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim - ainda se acha a bala que matou o Kennedy? Alguém mande avisar Claudinha que uma hora a euforia do povo passa e que, se ela quiser que o seu nome sobreviva de alguma forma, é bom começar a fazer algo de qualidade. Bunda cai, peito cai, pele fica com ruga e cabelo, branco, portanto, melhor fazer algo DE FATO, antes que seja tarde. Não que o cofrinho de Claudinha já não esteja suficientemente cheio, evidente.

E aí tem os trios elétricos. Eu olho, olho, e sinto pena, Juro. Acho um horror aquela massa de gente espremida com os braços pra cima, pegando qualquer coisa que se mexa e passe na frente. O que tem de cultural nisso? O que tem de valor em "Na Base do Beijo" e "Rebolation" (!!!!!!!!!)? Por favor, elucide-me.

Por fim, não sei se é impressão minha, mas... O Carnaval baiano está querendo competir com o do Rio de Janeiro? Jura? Não é de hoje, né? Só tá faltando tradição, carisma, bateria, musicalidade, alguma poesia, gringo, cartão-postal, samba no pé, Cartola, Noel, celebridades, Madonna, raça, alegria (e não histeria coletiva)...

Assim sendo, por favor, menos. Mesmo não gostando de Carnaval, eu sei que aquilo ali que acontece na Bahia é festa, é popular, é eufórico, mas não é Carnaval. É outra coisa.

Rio de Janeiro

A cobrança em cima do Carnaval carioca é maior ainda, afinal, eles, sim, sabem fazer Carnaval. Mas, desde que uma amiga minha começou a compor samba-enredo assim como repentista faz repente, apenas juntando palavras como império, natureza, índio, povo, dom Pedro, navegação, colônia, negro, o Carnaval do Rio também perdeu o encanto pra mim, uma fanática por Carnaval, como se pode ver. É que, desde então, percebi o quanto é tudo mais do mesmo. O quanto poderia ser tão mais legal. O quanto se perdeu do samba de raiz, de Ivone Lara, de carioquismo mesmo, de brasilidade.

O Carnaval do Rio se tornou uma festa burocrática, redondinha demais, cronometrada, com hora para acabar. Os camarotes da empresa X ou Y tomaram a Sapucaí de assalto e, envoltos por aparelhos de ar-condicionado de última geração, Gerard Butler, Paris Hilton e Madonna se divertem como se estivessem em um parque da Disney. Aliás, por que importaram uma devassa, se há tantas por aqui?

Quer um exemplo? Angela Bismarchi. Não conhece? A mulher é campeã de cirurgias plásticas e tem 109 mil ocorrências no Google. Entre ditos e não ditos, depois de sair na avenida com o corpo pintado de bandeira do Brasil e de Lula (quanta honraria, senhor presidente!), Angela teria feito uma cirurgia para extrair os mamilos. Bizarro, certo? O motivo é mais: segundo corre a boca pequena, porque queria ficar parecida com a... BARBIE!

Infelizmente, Angela Bismarchi é a cara do Carnaval carioca atual: artificial, sem profundidade, uma fabricação pra gringo ver... Mas mesmo assim, a cervejaria prefere importar a Barbie devassa, afinal, tudo o que vem de fora é melhor - também no Carnaval.

E eu não vou mencionar a cafonice dos carros alegóricos. Oops, já mencionei. Que pena...

São Paulo

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Só tenho a dizer que... Um dia ainda saio pela Gaviões da Fiel. Na bateria, comportada, disfarçada, se Deus quiser, com algo como uma cabeça gigante de peixe cobrindo minha identidade. Ou seja, com nada de samba no pé e sem a menor noção do que é Carnaval - tipicamente paulista.

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DOSE EXTRA!

Atendendo a pedidos, aqui está a Dose Extra de Veneno, espaço reservado aos internautas do (o), que enviam missivas nem sempre educadas à colunista. Por que será, hein? ;-P

Sobre "Maquinária Vip" - coluna de 10/11/09

Por Mauro

Oi Luciana,

Estou lendo sua coluna na madrugada de terça-feira às 3h da manhã (depois de ter acordado p. da vida por ter perdido uma baladinha ocasional de segunda... é a idade... sono...).

Acho que você conseguiu descrever um pouco da sensação que eu tive no festival, só que por outra perspectiva da situação.

Eu fui sozinho ao Maquinária. Queria ver de perto o Jane´s e o FNM, duas das bandas que fizeram parte da minha adolescência (estou com 33 anos) e que me acompanharam por boa parte da faculdade fazendo parte do repertório das "rádios rock" de São Paulo que eu ouvia. Eu assisti a apenas esses dois shows. Depois de tanto tempo (e com um pimpolho a caminho) a vida passa a ter outras prioridades e não dava pra chegar antes.

Enquanto esperava o início do show do FNM (na pista normal - sou pobre mas sou limpinho...rs) eu ficava olhando para as figuras que compunham o "design" do Maquinária (se posso definir dessa forma). Olhava os detalhes, as pessoas, a rádio que promovia (MIX FM... uma rádio que alguma vez tocou alguma coisa de rock - popular claro! - porque era mais rentável e hoje toca o que é moda somente e apenas)... Eu tinha a sensação que tinha algo errado.

Acho que você definiu bem quando mencionou "pode ser nostalgia ou conflito de gerações". Eu fiquei pensando "qual é a identidade desta geração?". Festivais "modernos", com estrutura "diferenciada", com "temática", e os artistas, ícones da geração passada que não tocam nas rádios há anos e são promovidos por pessoas que dificilmente fazem ideia de quem são ou da importância que têm.

Eu acho que esta geração ainda não conseguiu ter seus "heróis" e, principalmente, uma identidade clara. Como explicar que uma banda como AC/DC lota um Morumbi (certamente com vários alienados que compareceram por ser o show do momento e não por gostarem) sem praticamente tocar nada nas rádios de massa?

Pode ser filosofia barata da minha parte ou ando muito alienado do mundo atual.

Ou pode ser apenas que estou ficando velho.

Só isso.

Bjos,
Mauro Andres


Resposta

Oi, Mauro, é realmente muito estranho. Dias antes do show do AC/DC tava uma fissura louca por conta de ingressos, que tinham esgotado e blablablá. Se eu já não entendo a fascinação por um FNM por parte desta geração, imagine se entendo pelo AC/DC, que, na nossa época, era uma banda super-restrita a fãs de heavy metal e só.

Se há um lado bom disso é ver que hoje todo mundo se permite gostar de tudo. Outra coisa que podemos concluir é que essa galerinha já está definindo quem são os "clássicos" deles, assim como os nossos são os Stones, o Led, bandas talvez muito longínquas pra eles.

Mas a sensação de que não se "aprecia" arte como antes, isso é o que mais incomoda, né, não? Essa coisa de ir a um evento qualquer, porque tá todo mundo indo, chegar lá e não dar pelota pro artista, isso é um reflexo do imediatismo de hoje, acho eu. É tudo muito rápido, tudo se transforma, morre, some numa velocidade difícil de acompanhar. O apego, me parece, não existe. Quem viver verá pra ver no que isso vai dar.

Beij(o)!,

Lu

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Sobre "Toca Raul! Not!" - coluna de 14/09/09

Por Marcelo

Toca Raullll!
Yes!


Marcelo M. Bovo

Resposta

;-P

Tréplica

Por Marcelo

Vocês estão de gozação comigo, né? Primeiro você, Luciana, agora o pessoal do OmeleTV fala mal do Raulzito...

Toca Raul, pow

YES!!





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Sobre a Poison

Por Julio Cesar

Olá, Luciana,

Descobri hoje que EU, um acompanhante assíduo do Omelete e da Poison há uns dois anos, não tinha a menor ideia de quanto tempo tem que esse trabalho está no ar.

Andei olhando o histórico e achei umas Poison de 2002!

Acabei lendo, já que não resisto a seus textos e achei o seu segundo post, sobre como Engenheiros do Hawaii (eu jurava que era Havaí) é horrível. Engraçado que se eles tivessem morrido num trágico acidente de avião antes de aparecer o Charlie Brown Jr., eu diria que estes inomináveis herdaram dos Engenheiros o talento pra letras ridículas...

O que você acha do Carlinhos Marrom?

Abraço,

Julio Cesar Pietroluongo Junior

Resposta

Mas que barbaridade... O mais curioso é (re)ver minhas fases. Confesso que não é muito saudável pra mim... Andei melhorando o português, amadurecendo o discurso, acho eu. Então as lá de trás me parecem coisa de moleca. :)

A diferença entre o Engenheiros e o Charlie Brown é a proposta. O primeiro se julga sério, aí danou-se... Não que o segundo seja bom, longe disso!

O Little Charles Brown? ;-P Um pé no saco. Serve?

Beij(o)!
Lu


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Sobre "Maquinária Vip" - coluna de 10/11/09

Por Roberto do Vale

Olá,

Li seu texto e, como não tem espaço para comentar, resolvi enviar este e-mail.

Não concordo em muitos pontos que você escreveu.

Logo na entrada da VIP eu fui revistado e ainda, inclusive, mandaram abrir todos os bolsos da minha cartucheira. Essa parada de tratamento diferenciado sinceramente eu não vi acontecer.

O motivo de eu ter comprado VIP era que as bandas da minha infância estariam ali, principalmente o FNM que comecei a ouvir com uns 9 anos de idade. Não sou rico... mas não poderia perder a chance de ir na pista próxima ao palco... Se fossem bandas de que gosto menos, na certa iria de comum.

A ideia de fazer pista premium, analisando bem, é muito boa, vale cada centavo... Mas eu permaneci na VIP somente nos dois últimos shows... Nos demais, Deftones e Sepultura, ambas bandas que amo, estava na comum justamente pra curtir a vibe, entrar em umas rodas e ficar perto de alguns amigos que estavam na comum... Realmente o pessoal da VIP não iria quer bater cabeça, presumi eu.

No show do FNM todos estavam curtindo que nem loucos, muitos chorando (inclusive eu.. hehe)... A última coisa que eu iria fazer era ficar olhando para o lado pra ver se tinha gente "blasé" como você disse... Você citou tanto o Perry e sequer mencionou Dave Navarro, que é um sujeito tão importante quanto ele no mundo do rock... Mas mesmo com a presença desses dois, o show foi bastante chato.

Sobre outro ponto seu... foi exatamente o que eu fiz, fui comer no show do Jane's e ficar na área lounge conversando e observando o movimento... Foi um dos shows mais mortos que já vi na vida.

Mas achei interessante sua crítica!

Eu também escrevi uma, caso queira ler:

















http://seguealinha.blogspot.com/2009/11/criticas-musicais-6-maquinaria-rock.html


Robert.


Resposta

Oi, Roberto, tudo bom?

Talvez eu estivesse num momento atípico da revista então... O curioso é que observei que não foi só comigo, sabe?

Eu entendo perfeitamente sua motivação, mas, como falei na coluna, minha sensação na premium foi que, se tivesse pagado para estar ali, não teria curtido tanto quanto lá atrás. Veja, você mesmo foi se juntar aos seus amigos quando quis. Talvez, num mundo ideal, se pudéssemos juntar todos que gostamos na vip, pra curtir junto, seria sensacional. Não é o caso. Sempre fica faltando algo. E eu, cricri que sou, vi que tinha muita gente ali que merecia estar lá atrás, enquanto muita gente lá de trás merecia estar na frente. Enfim...

Não mencionei Navarro porque não dá pra mencionar tudo, entende? Mesmo porque não foi uma resenha de show, portanto, me pareceu importante pro contexto que eu queria expor, dizer que o Perry Farrell se esforçou horrores. Show chato é ponto de vista, né? Nem adianta a gente discutir. Eu AMEI.

Beij(o) e obrigada pela mensagem!

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Sobre "Toca Raul! Not!" - coluna de 14/09/09

Por Nery Jr.

Oi, Luciana,

O problema com o Raul é realmente o estereótipo criado em volta do cabra. Claro que o próprio "roqueiro baiano" cultivou a imagem "maluco beleza", mas aí pra bicho-grilagem do mundo achar que Raul é só isso é uma bobagem tão grande quanto aquelas matérias jornalísticas sobre malucos de verdade serem sempre embaladas pela tal canção do Raul ou ainda pela velha "Balada do Louco" dos Mutantes.

Eu passo longe do perfil cabelo-comprido-barbicha-camiseta-preta-do-disco-gita, assim como passo longe dos bêbados que se reúnem todo 21 de agosto pra vomitar, como grito de guerra, uns desafinados "viva a sociedade alternativa"- antes de vomitar de verdade.

Mas eu gosto do Raul.

O fato puro e simples é que alguns caras criaram uma persona pública tão grande e espalhafatosa que o que existe de bom em suas obras às vezes se dilui em mitos como diálogos com John Lennon ou banquetes de lixo com palhaços. Mas quando você vai além dos clichês, dos hits e dos ícones, sobram preciosidades como "Magia de Amor", "Canto Para Minha Morte", "How Could I Know" ou "A Maçã" e experimentações de primeira como "Let Me Sing", "Para Noia" e "À Beira do Pantanal". Isso sem falar nos rocks bons e básicos como "Al Capone" e "Rock do Diabo", que não pretendiam passar mensagens metafísicas ou nhé-nhé-nhés e só e tão somente balançar o esqueleto de um jeito básico e bom.

Mas quase ninguém vê esse Raul. Quase ninguém capta as ironias, o humor, as idiossincrasias. Porque raulseixismo virou religião e daí tudo que você fala vira heresia.

Mas eu ainda ouço-o, na privacidade do meu lar, com meus Velvet, meus Doors, meus Floyd (adoro a pretensão boba de The Wall), meus Garbage (com direito aos trocadilhos necessários) e meus Fellini e DeFalla (já que faço parte da perdida geração perdida dos 80).

E grito "Toca Raul!" em shows, pra zoar mesmo, principalmente quando os artistas se acham grandes bostas. Porque se eu fosse músico ou banda, na hora que ouvisse um "Toca Raul!", tascava logo um "Dr. Pacheco", e a grande maioria dos maiorais nem ia sacar que eu estava "tocando Raul".

Abraços,

Nery Jr.

Resposta

É como eu sempre digo: tem fãs que tornam o artista chato, algo que não necessariamente ele é. Esta é só uma das desvantagens do fanatismo. Muito da antipatia que tenho por Los Hermanos, Iron, Legião vem justamente daí. Tem realmente que dar uma importância extra ao cara, às letras dele? É aí que mora o perigo: você vai dar uma analisada e nem de longe enxerga o que os fãs enxergam... E começa a questionar a razão de tanta fissura. E não vê. E cria antipatia.

Eu consigo ver coisas boas na obra do Raul, te juro. Mas realmente, ouvi-lo sem lembrar dos fãs é muito difícil.

E, a bem da verdade, o Raul foi só uma citação rápida na coluna, né? Ela falava de buracos mais embaixo... ;-)

Beij(o)!

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