Música

Artigo

Poison on the Rocks

Antony & The Johsons: eu não vou! Mas queria muito!

11.09.2007, às 01H30.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 20H02

A ingênua, ponderada, generosa, porém pobre criatura avisa os amigos por e-mail: "amanhã vou comprar ingressos pro Tim Festival. Se alguém quiser fazer alguma encomenda é só avisar. Como já vi o show da Björk da outra vez, vou amargar a dor de não vê-la de novo. Para assistir ao show da bonequinha (juro que coloquei assim mesmo, tamanho o carinho pela cantora) e do Antony, eu teria que desembolsar 320 reais e isso está definitivamente fora de cogitação".

Ao me lembrar de ter enfrentado uma fila gigantesca e não ter conseguido comprar ingressos para o show do U2, mas ter enfrentado outra fila gigantesca, desta vez para ver o Tim Festival há alguns anos, e ter conseguido comprar os ingressos, reflito calmamente, "sou uma pessoa madura. Eu, minha bata hippie e meus 33 anos não combinam com a fila de teens descolados que vai comprar no primeiro dia de vendas como se fosse uma verdadeira sangria desatada", e concluo, "Luciana, agora você é uma pessoa zen, equilibrada, muita calma que não há tanta gente milionária em São Paulo para esgotar os ingressos em um só dia."

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Antony & The Johnsons

logo

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O plano é bem simples e praticamente à prova de falhas: no dia seguinte, já passadas as 24 horas da euforia inicial da venda dos ingressos, iria comprar os tickets do Antony.

PORÉM... À tardinha, à tardinha mesmo, ali pelas duas da malfadada segunda-feira, a criatura vai a uma consulta oftalmológica - ainda por cima é míope! - e quando volta, cedinho, cedo mesmo, ali pelas quatro, SURPRESA! Acabaram-se os ingressos do Tim para o dia do Antony! Aqueles que eu ia comprar no dia seguinte, sabe?

Dor de cotovelo, teu nome é Luciana! Eu estou espumando, indignada, alimentando uma gastrite a doses cavalares de saliva incontida, possessa, irada, enfurecida!!! E descobri que zen é um estado de espírito extremamente passageiro, como bem atestam minhas orelhas afogueadas e a personificação no espelho da expressão "sangue nos zóio". P* da vida.

Por quê?

Porque se você quer alguma coisa, simplesmente vá atrás. Vá. Corra. Mexa-se. Arrume um como se você tem um por quê. E isso eu já aprendi faz tempo, pena ainda não ter colocado em prática. Tem coisas que não se explicam por meio de estatísticas. Em um país com salário mínimo que nem chega ao valor de um par de ingressos para ver a Björk e cujo álbum mais vendido é o da Sandy Jr., EU TINHA que saber que todos queriam, muito mais do que eu, ver o (até onde eu achei que sabia) quase anônimo Antony & The Johnsons! Fato é que não tinha que prever nada, mas por que fui arriscar? Qual é a graça de ser alguém maduro se você não realiza seus sonhos? Que superioridade espiritual há nisso? Eu queria? Pois que tivesse me rendido a isso, ora pipocas!

Se você está achando que o negócio é grave, pense que parte do que eu disse ali em cima é verdade. A não ser que eu esteja REDONDAMENTE enganada, não foi o Antony o chamariz para tanta gente. A grande maioria que ESGOTOU as minhas possibilidades de ver o show do cara quer mesmo é ver a Cat Power. É ou não é um mundo injusto? Alô, organização! Eu não quero ver a aclamadíssima Cat Power, eu só quero ver meu Antony, poxa. Por que diabos misturar alhos com bugalhos? Por que vender tudo junto? Por que, por quê?!

E essa gente desocupada e milionária que certamente também vai comprar TODOS os ingressos para o show da Björk, hein? Ninguém tem mais nada pra fazer, não? Ora bolas. Isso que dá carregar o Brasil nas costas. Enquanto uma dúzia se dá ao luxo de perder horas de trabalho, outros sentem o amargo sabor do arrependimento... Cento e vinte reais, assim por extenso mesmo, cento e vinte reais!

Nem queria mesmo, tá!?

Não adianta, Luciana, teu nome é dor de cotovelo. Tempo a gente arruma e dinheiro dá-se um jeito, desde que você encare o quanto realmente quer alguma coisa. Tivesse eu enxergado a situação com um pouquinho de idealismo juvenil, mais um tantinho de experiência que já devia ter adquirido nessas 33 primaveras, tinha deixado de lado a empáfia e ido em busca de uma noite que promete explicar o significado da palavra memorável. Com tanta coisa ruim no mundo da música, é imprescindível participar do show de um talento sobrenatural. Imprescindível. Tem coisas que não acontecem duas vezes. Não. E nunca mais é muito tempo, como diria minha mãe.

*-*-*-*-*-*-*

DOSE EXTRA!

Atendendo a pedidos, aqui está a Dose Extra de Veneno, espaço reservado aos internautas do (o), que enviam missivas nem sempre educadas à colunista. Muito obrigada aos que atenderam ao apelo da coluna passada!

Sobre "solidariedade" - coluna de 23/07/07

Por Alexandre Carlos Aguiar

Obs.: a quem interessar possa, verdadeira aula sobre como realmente ajudar o planeta.

Cara Luciana

Esse tema que você abordou é muito interessante. Atual e instigante, ele nos remete a uma coisa que todos sabemos que existe, mas poucos sabem como fazer: nosso papel na sociedade. Cai na dicotomia individualismo x coletivismo.

Há uma situação pontual que ocorreu comigo recentemente, que gostaria de colocar como ilustração. Numa reunião entre pais e professores no colégio de meu filho, o diretor levantou o fato de que a escola precisava de uma manutenção. Pinturas nas paredes, cortinas novas, jardinagem, restauração de calçadas. Enfim, algumas coisas que deveriam ser feitas para dar uma cara mais bacana ao estabelecimento de ensino, além de melhorar a sua funcionalidade. Pois bem, eu e alguns pais nos dispusemos a ajudar no que fosse preciso, tomando um sábado ou domingo para os serviços necessários. E aí, para nosso espanto, o diretor foi radicalmente contra. Ele disse, categoricamente, que era contra serviços voluntários. Ficamos sem entender como alguém poderia, num país onde as "mangas arregaçadas" são raras, rejeitar a disposição de abnegados pais numa ajuda à comunidade.

Ele pensou e disse: "se todo mundo começar a fazer trabalhos voluntários por aí, o nível de emprego formal cairá radicalmente, as pessoas não receberão por seu trabalho e, assim, a economia não anda e, mais grave", segundo ele, "o comprometimento pelo trabalho será bem menor. Prefiro que façamos uma arrecadação em dinheiro e paguemos operários para o que for preciso", disse ele ao final.

Claro que é um ponto delicado, com senões, alguns contra, outros a favor. Sugere uma discussão bem mais avançada sobre a caridade, o desprendimento e coisas assim. Daria uma boa tese de doutorado em sociologia, quem sabe. Mas o ponto crucial é exatamente este: o que fazemos em nível social, coletivo, é para satisfazermos o nosso ego, ou para realmente tornar o mundo melhor? Nos importamos, de verdade, com as dificuldades de nosso vizinho, ou o fazemos para dar uma satisfação íntima?

Como biólogo e ambientalista, estou envolvido até a careca com a questão do aquecimento global. Muita gente palpita, muitos se dão conta do mal que a humanidade está a fazer com a Terra, mas na maioria das vezes as soluções são mais de jardinagem do que de ecologia. Poucas são as disposições sérias e científicas. E, cá para nós, me aponte um ser humano que vai deixar seus confortos diários para ajudar o planeta. Eu, particularmente, ando de carro. Claro que procuro manter o motor em dia, diminuindo os gases maléficos eliminados. Mas sei que os pneus, por exemplo, serão jogados nas valas comuns das oficinas e o óleo do motor trocado periodicamente não tem um destino dos mais agradáveis para nossos mananciais.

Eu vejo que a grande questão é não atacarmos os problemas como uma crença e não sermos levados a solucionar as conseqüências, mas identificar as causas e agirmos preventivamente. Isso demanda, por exemplo, pensarmos de forma coletiva. Imagino que as pessoas têm vergonha de agir assim, pois têm medo de serem tachadas de "abelhas", de "formigas". E, cá para nós, a grande maioria das pessoas quer mesmo é se tornar celebridade. Ninguém quer fazer parte do "bando", mas ser chefe do bando. Ou, ao menos, dizer: eu estive lá. Cada um quer assinar a sua obra.

Resposta

Oi, Carlos.

Eu entendo a posição do diretor, mas acho que é o tipo de pensamento que só acontece no Brasil. Explico: só aqui voluntariado tiraria o emprego formal de pessoas, porque o desemprego é tamanho que a gente acha que está ajudando a, pelo menos, não tirar o emprego de alguém. Ou seja, acho que uma coisa não justifica a outra. Ninguém garante que por motivos diversos, com a economia oscilante como ela é, o emprego das pessoas que vão arrumar a escola do seu filho está acima de qualquer risco... E aí se deixa de "ajudar" (o que eu chamaria de posição de protecionismo) os empregados e não há o esforço coletivo (porque vocês teriam dado o dinheiro para a reforma).

Eu acredito que em países mais desenvolvidos as duas coisas convivem pacificamente. Existe emprego para a grande maioria (ou um bom seguro-desemprego) e existe espaço para que a comunidade se una. Outra coisa: neste país é tremendamente difícil não pensar (mesmo que fique em segredo) que o dinheiro será desviado para outros fins. E aí a atitude coletiva seria mais uma vez uma boa solução. De qualquer forma, na situação que você ilustrou, não há como colocar o tal do ego, que parece ser um problema tão grande quando a gente resolve questionar tais atitudes - quanto realmente deveria importar se é o ego da Madonna que está servindo como propulsor? Não é a mensagem, o resultado da atitude, o mais importante, especialmente num mundo carente como este de soluções para a humanidade? - Digamos que você esteja sem grana, sem cash, dinheiro vivo, verdinhas, por que não pode pagar com trabalho? E onde está o ego neste caso? Pra mim, na sua história, comprova-se que muitas vezes a gente só quer contribuir de alguma maneira. No seu caso, contribuir com a escola, que, evidentemente, será uma contribuição com o seu filho, mas também com outras crianças de outras gerações... Ego? Que ego? Quanto ao bem-estar e tal... Você, biólogo, não acredita em sustentabilidade? Que a gente possa encontrar alternativas menos poluentes? Que o homem seja capaz de encontrar soluções menos destrutivas? Reciclagem não foi uma boa solução? Álcool como combustível não é uma solução, no mínimo, melhor? Não acho que tenhamos que abrir mão do bem-estar, mas de repente, não colocá-lo acima de qualquer coisa, acima do futuro de quem vem por aí. Teríamos sim, que encontrar soluções melhores e aplicá-las. Evidentemente, neste caso uma andorinha só não faz verão. E pra chegar no resto das andorinhas? Não será por meio do bater na mesma tecla pra sempre, até que todos tenham mais consciência?

Às vezes penso que tudo depende de mais boa vontade e mais freqüência. Se a Globo pusesse no ar uma novela de qualidade, novelão mesmo, com mensagens ecológicas, será que não surtiria efeito? Campanhas, campanhas e mais campanhas. Claro que só comunicação não adianta... Não adianta martelar na cabeça do cidadão que ele precisa jogar lixo na lixeira se quando ele sai à rua não há lixeira... E aí chegamos também nos políticos. E aí sim, a porca torce o rabo, pelo menos a que eu tenho aqui no quintal de casa... Porque acreditar em político bom é demais até pra mim...

Eu não faço questão de assinar obra nenhuma, te juro. Eu gostaria mesmo era de sair na rua e respirar um ar decente e não ser assaltada. Pra mim já está de bom tamanho...

Beij(o) e obrigada pela ótima mensagem,

Lu

E de novo:

Oi, Luciana;

Muito boa a sua discussão. É uma pena que tais debates não façam parte do cardápio diário dos jornalões que andam por aí. Volto ao ponto inicial: será que todo o desprendimento das tais celebridades em torno de um "mundo melhor" tem foco no objetivo, ou seria na repercussão? As empresas que procuram o selo ISO 14.000 (o selo ambiental) estão preocupadas realmente com o desenvolvimento sustentável, têm plena consciência do que seja sustentabilidade, ou querem ficar bem na foto em relação aos seus clientes? É aí que entra a exacerbação do ego. Nas minhas andanças tenho notado que a maioria das pessoas acredita, sinceramente, que o contato com a natureza se resume em ter ao menos um vasinho de plantas em casa, ou tratar bem os animais. E por trás disso há a idéia (difundida pelas religiões e tendências filosóficas) de que o planeta está ao nosso dispor.

Concordo que devamos, urgentemente, buscar alternativas menos poluentes. Que também é urgente a troca do sistema energético. Porém, há consciência do que isso realmente representa? Você sabia que a reciclagem de latinhas de alumínio não colabora em quase nada para diminuir o impacto na extração de bauxita, a matéria prima para produção do alumínio? Quantas sacolas plásticas de supermercado seriam necessárias para mantermos em níveis aceitáveis a extração de petróleo? Será que a idéia é cada um "fazer a sua parte", mesmo? Segundo o discurso do Betinho, "as pessoas têm as suas urgências", mas o que as deixou tão carentes?

Nós, da área científica, e grande parte da mídia, somos responsáveis pela má compreensão, por parte do leigo, de todo desse processo. Não somos capazes de transmitir com real exatidão toda a complexidade dessa situação. Traduzimos de forma ligeira e descontextualizada algo que merece uma análise crítica mais bem elaborada.

A compreensão da sustentabilidade, do tal desenvolvimento sustentável, amplia-se em múltiplas dimensões, na medida em que vamos avançando em seu conceito. Implica em compreender as etapas e relações entre os indivíduos e de suas próprias relações com o meio. Compreender, de verdade, que não somos o usuário, mas fazemos parte do processo. E, enquanto não questionarmos o nosso sistema de produção, o discurso se torna vazio. Ou seja, Madonna, Bono Vox, Bob Geldof fazem seus shows por um mundo melhor, usando energia elétrica até a tampa do crânio, ou invadem, com a sua cultura, espaços culturais sem qualquer compromisso de discussão desses projetos. Sou fã do rock n' roll, mas ele é o melhor divulgador de um mundo melhor? É esse o canal?

Há que se entender o que são as reservas de recursos naturais e seu envolvimento com o processo de produção; a recomposição dos ecossistemas; a qualidade de vida da população envolvida, que se traduz na compreensão das desigualdades que poderão ser minimizadas em políticas de distribuição de renda, universalização do atendimento na área social, como saúde, educação, moradia; a construção da cidadania, que passa pelo aprimoramento das posturas éticas; a gestão de recursos tanto do investimento privado como público; a capacidade de suporte do espaço social, seja urbano ou rural; a manutenção da diversidade cultural e, por fim, o fortalecimento das instituições.

Sem esse entendimento, vamos ficar apenas nos discursos e nos shows beneficentes.

Abraços,
Alexandre Carlos Aguiar

Resposta

Oi, Alê. Tá rendendo, né? É porque é um assunto que me interessa bastante, pessoal e profissionalmente. Sempre penso que se não tivesse seguido as letras, teria embarcado em uma carreira de biológicas dessas. É muito, muito legal. Pensando bem, se fosse hoje, tenho quase certeza... Ai, ai, mas ontem não é hoje, né? :)

As celebridades eu ainda brindo com a dúvida, mas as empresas, eu sei a resposta: sim. Elas estão interessadas na repercussão e no que aquilo vai render em caixa. Certeza absoluta. Que interesse haveria se não esse? Empresa tem como objetivo lucrar. A sociedade como ela é está baseada no conceito que lucrar não combina com investir em pessoas (pessoinhas, pessoas da comunidade, não os funcionários, que em algumas empresas já são "itens" de investimento). Lucrar rápido e muito, este é o lema.

Você descrevendo a pessoa que acredita que o contato com a natureza se reduz a um vasinho de flor me lembrou uma propaganda, acho que de um carro da Ford, que, mostra os funcionários de um escritório correndo pra janela para fotografar o pôr do sol ou ver um beija-flor. É espetacular. Eles pegaram bem o espírito da coisa. Mas sabe o que é pior? Eu, por exemplo, tenho plena consciência do quanto não convivo com a natureza e do quanto isso me faz falta, mas não vejo escapatória. Será que as outras pessoas conseguem ver? Quando você se dá conta, já está há 12 horas em frente do computador porque precisa pagar as malditas contas do mês! E não é que as contas do mês incluem uma viagem para a África do Sul, onde tudo seria temporariamente recompensado. Não, é pra pagar plano de saúde, dentista, telefone, internet, etc. Tem que ter muito culhão, e aqui eu te dou parabéns, para optar por uma carreira que nem sempre vai render dinheiro, mas certamente vai render qualidade de vida e consciência aliviada. Os outros pensam em ganhar o bocado suficiente para "comprar" qualidade de vida. Só que quando conseguem já é tarde demais. Ou não conseguem comprá-la simplesmente porque a sociedade os impede. Explico: se eu cismo em ter uma casa, eu sozinha, com um carro legal na garagem, e bem equipadinha e tal. Quem me garante que não serei alvo fácil de assalto?

Confesso que não sei nada disso que você está falando, só sei o básico. Neste momento concordo contigo que precisaria haver uma melhor comunicação do que acontece na sua área para que a gente tivesse consciência do que fazer, como fazer, por qual optar... Será que houve uma preguiça dos biólogos? Conheci alguns de perto, a grande maioria se tornou professor do Estado... Será que é a isso que se resume a profissão de biólogo? Acho linda a profissão de professor, mas não deixo de questionar se não será uma via mais fácil, falando particularmente de Biologia.

Concordo novamente contigo. Compreender é o primeiro passo para atuar. Posso dizer que me vejo como um inseto insignificante no meio do mundão, acho que isso tem a ver com o seu "fazemos parte do processo", mas não creio que faça parte da maioria, não nesse assunto. As pessoas são muito direcionadas para fins específicos que não envolvem sinergia com a natureza e parecem estar usando cabresto, tamanha falta de questionamento do que estão fazendo.

Olha, Alexandre, eu amei sua mensagem. Verdadeira aula. Certamente vou digeri-la melhor e publicar. Obrigada mesmo e parabéns de novo. Tomara haja outros como você soltos por aí.

Beij(o),
Lu

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Sobre "solidariedade" - coluna de 23/07/07

Por Caio Moritz Ronchi

Olá, Luciana.

Escrevo apenas para te dar os parabéns pelo artigo do dia 23 de julho da coluna Poison on the Rocks (que eu nunca havia lido, mais por falta de tempo do que de interesse), que deu um tapa na minha cara ao estilo "otário, acha que o Gore é o cara mais bonzinho do mundo só porque ele fez um filme e ganhou um Oscar?".

Acho que fazer o bem pelo mundo está nas pequenas ações de cada dia e não nas grandes, pois quem faz grandes boas ações em geral espera boas e grandes recompensas, sejam elas materiais ou não. O Live Earth é uma jogada de marketing, acima de tudo? Acho que isso não é realmente importante, se ao menos eles conseguirem levar as pessoas a pensar por mais de uma hora a respeito do assunto. Eu, por exemplo, que não sou santo nem nada, acabei parando de comer carne há alguns anos (o que considero uma boa ação) motivado por ideologias de uma banda de rock. Será que elas não têm realmente autoridade? Não sei, mas que elas tocam as pessoas, disso não tenho dúvida. E o mundo do showbizz, afinal, é cheio dessas coisas: pessoas com o poder de tocar muitas pessoas. Temos que torcer para que as pessoas sejam tocadas por bons princípios, não?

Sucesso pra ti!

PS: Problemas com vírus de computador? Sugiro que tentes utilizar o Linux! Você pode pedir o Ubuntu Linux de graça.

Resposta

Oi, Caio, obrigada por escrever.

Concordo contigo quando diz que "fazer o bem pelo mundo está nas pequenas ações do dia-a-dia", mas não tenho certeza se todo mundo que faz grandes coisas espera realmente por grandes recompensas. Talvez no mundo de hoje sim. Mesmo porque está difícil acreditar que qualquer um faça qualquer coisinha que seja sem pensar em retorno. Tudo virou negociata, né? Troca de interesses...

Eu, como você, parei de comer carne, mas por que fui me conscientizando de como era dispensável abater um animal para que ele me alimentasse. Se somos diferentes deles justamente por que temos "razão", não seria o caso de aplicar essa mesma "razão" e tomar uma decisão que nos faça ser realmente diferentes? Ficou complicado, né? Deixa pra lá... ;-P

Mas sim, acredito que qualquer pessoa que venha a público botar a cara pra bater tem responsabilidade pelo que diz e faz, e pode divulgar mensagens positivas ou não. Veja o que uma banda fez efetivamente na sua vida, né?

Assim como você, torço para que todos sejam tocados por bons princípios. Espero estar ajudando de alguma maneira com a Poison, é por isso que ela existe.

Estou usando o Mozilla, parece que melhorou bem... O problema, segundo me diz o técnico, é a placa-mãe, tadinha, tá ficando velha... Mas isso é outra história.

Obrigada novamente e beij(o),

Luciana

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Sobre "solidariedade" - coluna de 23/07/07

Por Jessé Correia Junior

A arte não deve servir como meio para discursos panfletários. Como você mesma disse, ela fica muito previsível. Fazendo mão de argumentos de senso comum, já tão clichês, e que são aceitos como verdade única e absoluta. A arte é antes de tudo uma experiência estética. A arte não representa o mundo. Não é uma mimese da realidade. Reconstruímos e damos um novo sentido para o "real" com a arte. Por isso, não devemos fazer da arte veículo de discursos pré-concebidos e de finalidades claras de controle do pensamento. A arte deve refletir sobre o mundo. Levantar questões que nos levem a buscar respostas. Não deve ser doutrina.

É bom que pessoas públicas, como artistas, venham a público e revelem que devemos prestar muita atenção no que estamos fazendo com o nosso planeta e, principalmente, com o elemento humano que aqui está presente. Mas a partir disso construir discursos já batidos, aí é demais. Nada me convence de que esse tipo de atitude seja em última instância um movimento em benefício próprio.

Mas eu penso que ainda existem "vozes" conscientes que vêm a arte apenas como arte. Fruição. Prazer estético e não panfletagem barata.

Para mim hipocrisia pura que deve ser desconstruída.

Resposta

Jessé, adorei seu e-mail. Bem embasado, claro, opinativo. Tenho pouco a acrescentar, é sua opinião e ponto, né?

Mas eu te pergunto: partindo do pressuposto que você está correto e que "essa movimentação é em última instância em benefício próprio", ela ajuda ou não serve pra nada?

Grande beij(o), adorei!

Lu

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Sobre "solidariedade" - coluna de 23/07/07

Por Paulo Ferreira

Olá Luciana!

Como usuário fiel da Poison, essas demoras me deixam em crise de abstinência! Mas vamos ao que interessa.

Realmente pode até haver algo de bom no programa de Al Gore sobre aquecimento global, mas a classe política anda tal malfadada que realmente fica difícil dar algum crédito. Ele promove palestras com jovens por todo o país debatendo e discutindo, talvez falte um pouco de crédito a ele.

A Madonna é a rainha do pop e principalmente do marketing, quando todos pensam que ela sossegou, ela arruma alguma coisa pra sair na mídia, se é involuntário ou não, é difícil dizer, mas que é tudo muito conveniente isso é. Vide casamento com Sean Penn, seguido de umas bofetadas, procriar um filho com o personal trainer, casar com um diretor inglês, ganhar um globo de ouro, fazer filmes bobos, beijar a Britney, adotar crianças de países pobres e por ai vai.

Assim como Ophra, aquele apresentadora americana, construiu UMA superescola na África, atitude louvável por sinal. Mas com a mesma grana que ela colocou nessa escola, poderia ter construído umas dez de excelente qualidade.

Assim como Brad Pitt e Angelina adotam crianças pelo mundo pobre afora. Se pegassem a grana que gastam na viagem para "adquirir" essas crianças, dava pra sustentar uma pequena comunidade por um bom tempo...

O Bono está sempre engajado na luta contra as potências que contaminam o mundo, mas não dispensa a primeira classe e o camarim repleto de absurdos antes dos megashows que consumem milhares de megawatts de energia elétrica.

Fazer algo realmente altruísta, no meu modo de ver é ajudar, fazer a sua parte e ficar na sua, ter a consciência tranqüila de que estamos contribuindo, em vez de ficar fazendo alarde sobre o assunto: "Olhem pra mim, eu sou bondoso!".

Acho que a música é um importante veículo de protesto, mas antes de tudo é entretenimento, e deve ser encarado como tal. Cante, toque, pule, reclame do vizinho, fale do que quiser, mas quando quiser realmente fazer algo pelo planeta, desça do palco, desligue o ampli e vá limpar a sujeira que você deixou quando passou.

Resposta

Oi, Paulo, eu tava fazendo bem pro mundo, por isso me atrasei... ;-P

Não sei nem se a questão é duvidar da boa intenção dos políticos, mas ter certeza de que a mensagem que os caras querem passar realmente chega a alguém... Assim, não importa muito o que a pessoa faz em sua vida particular, se efetivamente cumpre o que prega, mas se diz coisas que valem a pena e, mais importante, se quem os vê falando assimila alguma coisa. Não sei.

A Madonna... Nutro uma simpatia muito grande por ela, sabe? Marketing ou não, a mulher tem culhão! Sem falar que não tem artista melhor quando a gente só quer se divertir.

Interessante o que você falou da Ophra, eu não sabia. A atitude dela parece bastante uma tentativa de querer aparecer mais do que fazer o bem, né? Realmente, no caso dela é quase gritante.

É. Você tem um ponto quando diz que não é necessário fazer alarde sobre boas ações, mas será também que não é uma maneira de dizer "se você é meu fã, me admira, faça igual"? Do jeito que o mundo tá precisando de boa ação, chego a achar que qualquer tentativa de espalhar a mensagem de contribuição é válida... Mas, como disse na própria coluna, é um assunto difícil e a respeito do qual cada momento penso uma coisa diferente.

Gostei do que você disse sobre a música e o seu papel... Às vezes mais ajuda quem não atrapalha, né?

Obrigada pela mensagem. Beij(o),
Lu

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