Anatomia de Uma Queda, filme indicado ao Oscar

Créditos da imagem: Divulgação

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Oscar: Por que Anatomia de Uma Queda não foi indicado como Filme Internacional?

Longa francês concorre a Melhor Filme e em mais 4 categorias

Omelete
4 min de leitura
30.01.2024, às 14H48.
Atualizada em 31.01.2024, ÀS 09H54

Anatomia de Uma Queda, o filme francês de Justine Triet, tornou-se um dos principais indicados ao Oscar 2024 quando conquistou lugares nas concorridas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz (para Sandra Hüller), Melhor Roteiro Original e Melhor Edição. Causou estranhamento a alguns, no entanto, a ausência do filme em uma categoria em particular: a de Melhor Filme Internacional – especialmente se considerarmos que, não muito tempo atrás, tivemos Parasita, longa coreano premiado não só na categoria, como no prêmio máximo da noite. Mas por que, então, Anatomia de uma Queda não conseguiu seu lugar nela?

A resposta rápida é simples: Anatomia de Uma Queda não foi escolhido como o representante oficial pelo comitê da França – apesar de ter vencido a Palma de Ouro (o prêmio máximo do Festival de Cannes), ter sido aclamado pela crítica e ter feito sucesso também nas bilheterias de seu país, onde arrecadou cerca de 10 milhões de euros. Mas há questões mais complexas por trás dessa não-indicação.

Acontece que ao vencer a Palma, em maio, a diretora Justine Triet fez um discurso contundente contra o governo francês, do presidente Emmanuel Macron. Na ocasião, a cineasta criticou a reforma da previdência em seu país e também as políticas culturais da administração – incluindo, em suas palavras, a “mercantilização da cultura que este governo neoliberal apoia”.

As palavras de Triet causaram controvérsia na França, com parte da opinião pública (e da comunidade cinematográfica) criticando a diretora por ter usado recursos públicos em seu filme, e mesmo assim ter se pronunciado contra o governo. Nas redes sociais, a ministra da cultura do país, Rima Abdul Malak, se disse “espantada” com o discurso e afirmou que “o filme não teria visto a luz do dia sem o modelo de financiamento francês”.

Foi após esse turbilhão que ocorreu a escolha do representante francês para o Oscar, em setembro. O órgão responsável pela decisão, o Centro Nacional do Cinema e da Imagem Animada (CNC), optou por indicar o filme O Sabor da Vida, estrelado por Juliette Binoche e dirigido por Tran Anh Hung. No fim das contas, o filme não entrou na seleção final, e a França ficou de fora da disputa de Filme Internacional. O país, vale notar, não leva a estatueta da categoria desde 1993, quando foi premiado por Indochina, de Régis Wargnier.

O CNC chegou a ser questionado pela mídia francesa sobre possíveis interferências políticas, já que seus membros são apontados pelo Ministério da Cultura, mas negou. “A comissão de nomeação conduz a sua escolha com total independência. Ela é composta por membros nomeados pelo Ministério da Cultura, mas a ministra não intervém em nenhum momento no processo de escolha dos filmes pré-selecionados ou selecionados”, declarou o órgão em comunicado oficial ao canal francês TF1.

Houve ainda outros elementos em jogo. À Variety, uma fonte próxima ao comitê afirmou que alguns dos votantes foram com a escolha que consideraram com mais “cara de Oscar”. O Sabor da Vida, afinal, é um tradicional romance de época, enquanto Anatomia de Uma Queda é um drama de tribunal que se debruça sobre as verdades de um casamento – e de uma morte misteriosa. “Alguns membros têm aquela imagem dos votantes do Oscar como pessoas mais velhas, nostálgicas, sem levar em conta que eles mudaram; os votantes do Oscar estão mais jovens e mais diversos; eles gostam de ser desafiados”, disse a fonte.

Em outubro, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Triet disse não se arrepender de seu discurso: “Eu mantenho o que disse. Eu pude suceder graças a um sistema de financiamento de filmes que faz inveja ao mundo. Eu queria dizer que devemos proteger isso e pensar nas futuras gerações que farão cinema”.

E por que Anatomia de Uma Queda foi indicado em outras categorias?

Para um filme ser indicado ao Oscar, o principal critério de elegibilidade está no fato de ele ser exibido nos cinemas americanos no ano vigente – no caso do Oscar 2024, o filme precisa ter sido exibido em 2023. E Anatomia de Uma Queda atende a isso: o filme foi adquirido para distribuição nos EUA pela Neon, que o levou aos cinemas americanos em outubro, em circuito limitado.

A Neon fez ainda uma forte campanha para o longa, que acumulou elogios nos festivais de Nova York e Chicago. O investimento deu certo: o filme foi premiado no Globo de Ouro e no Critics Choice Awards – e foi lembrado também nas indicações do PGA Awards, o prêmio do sindicato dos produtores, que será entregue em fevereiro.

Agora, resta ver como Anatomia de Uma Queda vai se sair no Oscar, que acontece no dia 10 de março. O filme segue em cartaz nos cinemas brasileiros. 

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