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A homossexualidade e os super-heróis: a difícil saída do armário

A homossexualidade e os super-heróis: a difícil saída do armário

15.08.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H13

Estrela Polar

Estraño

Flautista

Apolo e Midnighter

Homossexuais espancados em
história do Arqueiro Verde

Embora não seja exatamente novidade, a homossexualidade ainda é um assunto muito pouco abordado nas HQs de super-heróis. As editoras de quadrinhos americanas costumam ser bastante conservadoras e evitam abordar o assunto.

O primeiro super-herói homossexual da Marvel Comics foi o Estrela Polar, integrante do supergrupo canadense Tropa Alfa. Ele foi desenvolvido pelo ilustrador John Byrne, criador da superequipe, nos anos 80 e, embora fossem muitos os elementos que sugeriam sua opção sexual, o tema não era discutido abertamente. Com a saída de Byrne da série, a Marvel tentou disfarçar a questão revelando que o herói era um elfo (!) e não um homossexual como todos imaginavam. A emenda ficou pior do que o soneto, principalmente porque os sintomas que ele vinha apresentando na época foram explicados como devidos a uma intoxicação típica de elfos expostos ao nosso mundo. A solução esdrúxula não agradou os leitores e, já no início dos anos 90, a direção da editora criou coragem e fez o mutante canadense revelar sua opção sexual em uma das edições da série, o que gerou manchetes nos noticiários da época.

O primeiro herói homossexual da DC Comics foi Estraño, da obscura superequipe Novos Guardiões, criado pelo roteirista Steve Englehart. Latino americano que reunia todos os mais tacanhos estereótipos atribuídos aos gays, Estraño foi um grande embaraço para a editora que decidiu, a certa altura, revelar - em história felizmente inédita no Brasil - que, na verdade, ele sofria de uma doença que afetava seu comportamento (!) e da qual foi curado (?!?). Não surpreende que tanto o herói quanto sua equipe tenham tido vida curta e hoje estejam praticamente esquecidos.

Bem menos ridícula é a segunda personagem homossexual importante da DC Comics. O supervilão regenerado Flautista, ex-inimigo do Flash, revelou sua opção sexual em uma conversa prosaica com o protagonista do título. Ele é uma presença constante na série do herói velocista até hoje, mas sua sexualidade raramente é abordada.

Os heróis homossexuais mais famosos são, sem dúvida, a dupla Apolo e Meia-Noite da equipe Authority, cuja série costumava abordar temáticas mais adultas e polêmicas. Cópias propositalmente mal-disfarçadas de Batman e Super-Homem, os dois vivem um relacionamento matrimonial nas páginas do gibi, o que já rendeu muitas brigas internas na editora DC Comics (que também publica os verdadeiros Super-Homem e Batman!). Nos Estados Unidos, a publicação da revista encontra-se atualmente suspensa.

Homossexuais femininas são muito mais raras no mundo dos super-heróis, mas ocasionalmente elas dão as caras. As inimigas dos X-Men, Mística (conhecida dos espectadores do filme da equipe mutante) e Sina tinham uma relação lésbica implícita. O criador das personagens, Chris Claremont desejava revelar não só que as duas eram amantes, mas que as capacidades transmorfas de Mística permitiram que ela e sua companheira fossem pai e mãe do x-man Noturno! Desnecessário dizer, a Marvel Comics vetou completamente a idéia e concedeu origem bastante diferente ao herói

Por outro lado, a heroína Granizo, da superequipe Gen13, revelou sua homossexualidade em uma das primeiras histórias da equipe E o assunto não voltou a ser abordado na série durante anos! Nunca foram bem explicadas as razões desse silêncio, mas, ao que tudo indica, todas as equipes criativas que passaram pelo gibi tiveram suas idéias para tratar o tema sistematicamente torpedeadas pelos editores. Somente nos últimos anos, o novo roteirista Adam Warren conseguiu retomar o safismo da personagem, mas a série logo foi cancelada.

O caso mais lamentável de retrocesso, porém, aconteceu com a Legião dos Super-Heróis da DC Comics. O supergrupo mais numeroso dos quadrinhos (são mais de trinta heróis!) já teve significativa presença homossexual, quando, no início dos anos 90, o roteirista Keith Giffen tentou dar uma temática menos inconseqüente às histórias. Entre outros temas polêmicos, incluiu dois casais homossexuais na série ambientada no Século Trinta. O primeiro desses pares era lésbico e formado pelas heroínas Violeta e Moça-Relâmpago. Foi mesmo um ato de coragem, uma vez que a homossexualidade feminina é tema ainda mais ausente do que a masculina nas páginas dos gibis.

No entanto, o que causou maior estranheza foi o segundo casal. Tratava-se de um caso de Transsexualidade. O herói Transmutador descobriu que sua namorada, uma policial, era, na realidade, um homem que tomava uma droga futurista para alterar seu sexo (!). Mesmo após revelada a surpreendente verdade, os dois rapazes continuaram seu relacionamento. Sem dúvida, um belo momento de tolerância nas HQs.

Quem não achou nada bonito foi a DC Comics. Durante uma das muitas reformulações do seu universo de super-heróis - posterior à saída de Giffen - a editora aproveitou para eliminar qualquer vestígio de homossexualidade da equipe. Mais uma vez, imperou a tradicional falta de tutano da indústria das HQs de super-heróis em encarar temas polêmicos.

De vez em quando, também os heróis heterossexuais costumam abordar o tema da opção sexual e suas conseqüências. Em uma história publicada no Brasil na extinta revista Os caçadores anos atrás, o Arqueiro Verde (curiosamente um antigo parceiro do Lanterna Verde) enfrentou uma gangue que espancava homossexuais. O escritor Mike Grell - que já abordara o tema em sua antiga série de aventura Jon Sable - assinava o roteiro. A história tem diversas similaridades com a que vai sair na revista do Lanterna Verde, mas, por talvez por não contar com um eficiente esquema de marketing, passou desapercebida pela mídia.

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