Na coluna irmã da LÁ FORA, o Omelete mergulha nas bancas e livrarias para comentar os principais lançamentos recentes. Nesta edição: Batman: O Cavaleiro das Trevas - Edição Definitiva, Samurai - O céu e a terra, Wolverine: Saudade, Mistérios Divinos, Schem Ha-Mephorash e O Mundo é Magico.
Batman - O Cavaleiro das Trevas - Edição Definitiva
Érico Borgo
Desnecessário comentar Batman: O Cavaleiro das Trevas e Cavaleiro das Trevas II. Muito já foi falado - e analisado - aqui no Omelete sobre essas duas importantíssimas obras de Frank Miller. Assim, para o lançamento da Edição Definitiva, optamos por discutir apenas os extras e os aspectos gráficos.
O calhamaço com 516 páginas e formato igual ao das primeiras edições da Panini no Brasil (19x28 cm, um pouco menor que a edição dos EUA, com 21,8x32,5 com) reúne as duas séries embaladas numa edição capa dura. A embalagem especial, prateada, traz a ilustração inédita de Frank Miller sem as cores, com um belo efeito. O design interno respeita a edição original, desenvolvida pelo premiado Chip Kidd, com ampliações reticuladas de detalhes da arte separando as seções. Uma introdução recente de Frank Miller (re)apresenta as duas obras e o material inédito não pára por aí. Quase 70 páginas de extras fecham a publicação contendo muitos esboços de Miller (estudos de personagens, páginas e capas), uma versão preliminar de roteiro (que mais tarde transformou-se em Batman: Ano Um), imagens dos bonecos e estatuetas, comentários do autor, galerias de capas...
Uma edição belíssima e indispensável, à altura da obra, e com um preço decente. Os 90 e tantos dólares da edição "mande in USA" se transformaram em 95 reais por aqui. Metade do preço! Se considerarmos que qualquer livro branco e preto com 200 páginas está saindo por absurdos 40 ou 50 reais por aqui, está justíssimo o preço da caprichada edição da Panini.
(Absolute Dark Knight) Panini Comics. Formato 19x28 cm. 516 páginas. Papel LWC. Preço 95,90. Compre aqui
Samurai - O céu e a terra
Érico Borgo
A editora Devir publica em uma só edição a minissérie da Dark Horse Samurai: Heaven and Earth, escrita por Ron Marz (Lanterna Verde) e ilustrada pelo paulista Luciano Queirós, conhecido nos EUA como Luke Ross.
Na trama, que mistura ação e romance no início do século 18, Akusai Shiro é um dos mais exímios guerreiros do exército japonês. Durante uma batalha com forças chinesas, sua amada Lady Yoshiko é raptada e vendida como escrava. Shiro não medirá forças para reencontrá-la, numa jornada que o levará do Japão à França de Luís XIV.
O roteiro razoável de Marz parece mera desculpa para o lindo trabalho do artista brasileiro. Ross dá um show com um estilo totalmente diferente do que apresentou no passado, em títulos como Homem-Aranha. Aqui, mais realista, ele busca a precisão histórica, com belíssimas recriações de edifícios clássicos parisienses - como o Palácio de Varsailles e Notre Dame -, figurinos elaborados e a paisagem rural do Japão feudal.
A edição da Devir é boa, apesar do formato reduzido (16,5 x 24cm). Ela não apresenta as falhas gráficas de tantas outras publicações suas recentes (digitalizadas e borradas), o que mantém intacta a atração principal - os traços de Ross. Uma seção de esboços de personagens e capas fecha o álbum, além de uma galeria de imagens por outros artistas.
(Samurai: Heaven and Earth) Editora Devir. Formato 16,5 x 24 cm. 144 páginas. 40 reais. Compre aqui.
Wolverine: Saudade
Érico Borgo
Não é uma das melhores histórias do mutante canadense, mas vale a pena ser conferida, especialmente porque se passa no nordeste brasileiro e evita clichês turísticos, como passar por cartões postais a cada página para "situar" o leitor.
Wolverine: Saudade coloca o x-man em férias no Ceará. Mas a diversão dura pouco. Nem bem ele chega ao estado brasileiro e já recebe uma missão de Charles Xavier: encontrar um poderoso mutante local. O desenvolvimento da história respeita o passado do mutante, notório adepto dos parceiros mirins descartáveis. Assim, sua motivação para lutar contra uma perigosa gangue de malandros é honesta.
Outro diferencial do álbum são os criadores. Os franceses Jean David Morvan e Philippe Buchet, responsáveis pela saga espacial Sillage, construíram uma aventura no estilão das bandes dessinées franco-belgas, sem preocupações cronológicas, com uma história fechada, bem amarrada e com arte impecável.
Uma curiosidade: o álbum, lançado na Europa no final de 2006, é a segunda iniciativa da Panini com os personagens norte-americanos da Marvel. A primeira foi L´Uomo Ragno: Il Segreto del Vetro, uma aventura do Homem-Aranha produzida pelos italianos Tito Faraci e Giorgio Cavazzano em 2004.
(Wolverine: Saudade) Panini Comics. Formato 20,5 x 27,5 cm. 52 páginas. Papel LWC. R$ 7,50. Compre aqui.
Mistérios Divinos
Érico Borgo
Neil Gaiman, apesar de sempre competente, não mostra há anos a genialidade arrebatadora com que ajudou a tirar os quadrinhos do gueto em Sandman. Mistérios Divinos, infelizmente, também não muda isso, mas chega perto. Especialmente porque na condução da graphic novel está P. Craig Russel, um dos artistas cujo traço melhor combina com as tramas de Gaiman. Quem consegue esquecer, por exemplo, Sandman 50 - "Ramadan" - uma das mais belas histórias de toda a série? Ou a história da Morte em Sandman: Noites sem fim?
Para Mistérios Divinos, Russel usou como ponto de partida o conto homônimo de Gaiman, do livro Fumaça e espelhos, que David Goyer quer levar ao cinema desde 2001. Nele, o autor apresenta uma curiosa história de assassinato. Numa noite solitária em Los Angeles, um homem troca um cigarro por uma história com um senhor misterioso. Nela, Raguel, o Anjo da Vingança, é despertado para investigar o primeiro homicídio no Paraíso.
Russel é um mestre em sua arte. Sua visão do Paraíso e a retratação inusitada de Los Angeles dão uma nova dimensão à história de Gaiman, enriquecendo a narrativa. Mas não há como deixar de lamentar a opção editorial de lançar a edição em capa dura, verniz, etc. Depois do sucesso de público e crítica de Sandman da Conrad, virou moda glamourizar toda a obra de Neil Gaiman. Não é para tanto. A história é boa, mas poderia ser mais acessível. 42 reais por 64 páginas de quadrinhos é exagero.
(Murder Mysteries) Editora Devir. 64 páginas. Formato Americano. Capa dura. R$ 42,00. Compre aqui.
Schem Ha-Mephorash - Uma Noite Em Staronova
Érico Borgo
Fazer quadrinho independente no Brasil não é fácil. De qualidade então... nem se fala. Dá pra contar nos dedos as histórias que conseguem injetar alguma novidade no mercado autoral indie - geralmente dominado por obras pretensiosas, ininteligíveis ou simplesmente copiadas de material estrangeiro.
Pois chegou recentemente às comic shops, com o camaradíssimo preço de 5 reais, Schem Ha-Mephorash - Uma Noite Em Staronova, uma HQ de Marcela Godoy e Sam Hart. Ela assina o texto. Ele, mais conhecido no mercado (Front, Kaos, Contos Bizarros), as ilustrações.
A história é bem pesquisada e interessante. Trata-se de um conto de horror que se passa durante a Segunda Guerra Mundial, quando soldados alemães deparam-se com o Golem, ser artificial mítico da cultura judaica criado pelo rabino Judah Loew, de Praga, durante o século 16.
Hart tem grande domínio de luz e sombra e suas seqüências de perseguição no interior da sinagoga - lindamente retratada logo no início da edição - são claustrofóbicas e competentes. Só o Golem não me agradou. Ficou "super-heróico" demais. A figura clássica do monstro de lama, imortalizada por toda Praga em cartões postais e placas, é mais intrigante. Suas curvas, apesar de não serem musculosas, têm um poder inexplicável, que ameaça e reconforta ao mesmo tempo.
Independente. 24 páginas em preto e branco. 5 reais (apenas em comic shops).
O Mundo é Mágico
Érico Borgo
Desconfie de quem não goste de Calvin & Haroldo. A cativante criação de Bill Watterson emociona a cada página, alternando momentos de saudosa doçura infantil com alguns dos diálogos mais filosóficos e encantadores da literatura de ficção. Nos quadrinhos, só mesmo a politizada Mafalda teria nível para uma discussão com o hiperativo Calvin.
Com O Mundo é Mágico, a Conrad inicia a coleção As Aventuras de Calvin & Haroldo, que promete publicar completa por aqui, em quatorze belos álbuns no simpático formatão 30 x 23 cm, alternando o branco e preto das tiras semanais com as belas cores das tiras dominicais. Curiosamente, a série começa pelo fim, já que este livro reúne os últimos anos da tirinha (criada em 1985 e encerrada uma década depois), inéditos por aqui.
É um livro pra não largar. Genialidade da primeira à última página. Cuidado apenas com a melancolia decorrente de uma overdose de Calvin e seu tigre de pelúcia. A dupla escancara a mediocridade da vida adulta de forma que... quer saber? Está um domingo lindo e chega de texto. Vou lá fora brincar.
(Calvin & Hobbes: It's A Magical World) Conrad Editora. Formato 30 x 23 cm. 168 páginas (pb e colorido). Compre aqui.
