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Astro City: Inquisição
Por Érico Borgo
Cansado dos universos tradicionais de super-heróis? Com vontade de acompanhar um mundo super-heróico mais realista, no qual as ações de super-seres de colante tem impacto determinante na política e nas relações sociais? Então talvez você esteja em busca de Astro City.
A série criada por Kurt Busiek já teve uma tentativa safada de publicação por aqui há alguns anos e agora finalmente ganha uma boa edição pela editora Devir. A história acompanha o dia-a-dia de uma cidade (a Astro City do título) através dos olhos de personagens diversos. Nesta edição, "Inquisição", somos apresentados ao lugar pelo adolescente interiorano Brian Kinney, viciado em heróis e que sonha algum dia caminhar ao lado deles.
A aventura se desenrola como numa história de origem, com Brian alcançando seus objetivos ao lado do vigilante mascarado Inquisidor, apenas para deparar-se com uma gigantesca conspiração e descobrir que o mundo pelo qual ele ansiava não é assim tão glamuroso.
A trama é envolvente e a arte de Brent Eric Anderson competente e sólida, mas a edição nacional traz alguns incômodos. O editor insiste em enfiar asteriscos página sim, página não que explicam cada referência da história (que é repleta delas, muitas vezes completamente inúteis). O resultado é uma leitura atravancada, já que cada "*" é uma pausa forçada. Nada contra as explicações, mas elas seriam até valorizadas se fossem reunidas numa página ao final da edição. Seria muito mais decente e menos irritante. A opção da Devir não deixa espaço para a descoberta e subestima a inteligência do leitor.
Prova de que havia espaço para tanto é a grande quantidade de bons "extras" ao final da edição. O volume também traz uma história curta indicada ao Prêmio Eisner, esboços de personagens (ótimos!), estudos de capas e uma longa introdução de Neil Gaiman.
(Astro City 4-9, Wizard Presents Astro City 1/2) De Kurt Busiek e Brent Anderson. Editora Devir. 208 páginas coloridas. Formato: 16,5 x 24 cm. Preço: 45 reais.
Marusaku
Por Érico Borgo
Recentemente comentamos aqui na coluna o lançamento da ótima Sand land, uma aventura empolgante do mestre Akira Toriyama (Dragon Ball) lançada numa edição única pela Conrad editora. Pois chega num formato parecido outra HQ do autor japonês: Marusaku.
Serão três gordos volumes recheados das histórias de Toriyama que antecederam Dr. Slump e Dragon Ball, lançadas no final da década de 1970 e início dos anos 1980. São histórias nitidamente criadas por um iniciante ainda sem muita técnica narrativa, mas que já era dono do traço excelente e das idéias completamente malucas que mais tarde o consagrariam mundialmente.
Assim, não espere que Marusaku traga histórias que rivalizem com as citadas Dr. Slump e Dragon Ball em qualidade. Os três volumes devem ser encarados com curiosidade histórica, já que é possível acompanhar nelas o desenvolvimento de Toriyama como artista e alguns embriões de seus grandes sucessos de crítica e público.
A primeira edição inclui as histórias Wonder Island 1 e 2, Tomato - A policial gatinha, Pola e Roid, Mad Matic e Chobit 1 e 2. Todas devidamente comentadas pelo seu criador.
(Toriyama Akira Maru-Saku Gekijo) De Akira Toriyama. Conrad Editora. 210 página em preto e branco (sentido oriental de leitura). Formato: 13,5 x 20 cm. Preço: 14,90.
Homem-Aranha e Gata Negra - O mal no coração dos homens
Por Érico Borgo
As primeiras notícias sobre a minissérie do Homem-Aranha e Gata Negra, O mal no coração dos homens, a primeira história escrita pelo cineasta Kevin Smith para o aracnídeo, datam de 2001.
A primeira parte da HQ chegou às lojas dos Estados Unidos em julho de 2002. A última (pasme!) só em janeiro de 2006! É isso aí... foram 3 anos e meio para que as seis edições da minissérie fossem lançadas. Culpa do atarefado gorducho Smith, que só não conseguiu bater o recorde de Alan Moore e seus 10 anos para concluir Do inferno.
O problema é que a demora de Moore foi justificada. A graphic novel sobre Jack, O Estripador é uma das melhores obras da nona arte já lançadas. Já a aventura do Aranha e sua ex-namorada felina dava pra ser publicada sem problema algum numa das várias revistas mensais do aracnídeo. Não há nada especial ali, apenas uma diversão despretensiosa sem qualquer relevância. Nem parece o mesmo Smith do excelente filme O balconista ou aquele que sacudiu as vidas do Demolidor e do Arqueiro Verde.
Na trama da HQ, o misterioso desaparecimento de uma velha amiga leva Felícia Hardy, a Gata, até a cidade de Nova York em busca de respostas. Mas, graças à sua sorte, um certo escalador de paredes - que também é seu ex-namorado - está seguindo os mesmos rastros do desaparecido.
Nem os apetitosos traços de Terry e Rachel Dodson servem como consolo. Afinal, já são velhos conhecidos de uma das séries mensais do teioso. Mas não deixa de ser uma HQ divertidinha (beeem "inha") ideal pra ler no metrô (ou locais menos nobres e mais privativos).
(Spider-Man/Black Cat: The Evil That Men Do) De Kevin Smith, Terry e Rachel Dodson. Panini Comics. Formato americano. 60 páginas coloridas. R$ 6,50.
Crimes macabros - Um conto de Cal McDonald
Por Marcelo Forlani
Este álbum ia entrar na última edição da Aqui dentro (leia aqui), mas como o próprio Érico Borgo já tinha dito no texto, só havia naquela quinzena obras cinco ovos... e apesar de ser ao mesmo tempo divertida e horripilante, Crimes macabros - Um conto de Cal McDonald não se encaixava neste quesito. Por pouco, mas não se encaixava. E assim cá estamos.
Escrita por Steve Niles e com arte de Ben Templesmith, a mesma dupla de 30 dias de noite, esta romance gráfico deve agradar aos amantes do sangue nos quadrinhos. Não apenas do líquido vermelho presente na violência gratuita (e divertida) de um Justiceiro (o do Garth Ennis, claro!), mas também daquele tanto falado e mostrado em histórias de vampiros, lobisomens e outros monstros. Afinal, este é o cenário em que vive o anti-herói da vez, Cal McDonald, um cara que "faz um mutante barra pesada como Wolverine parecer uma Menina Superpoderosa", como escreveu o roqueiro, cineasta e amante do terror Robie Zombie em sua hilária introdução.
A história começa como um simples caso de vampirismo investigado por McDonald - um ex-tira alcoólatra, boca-suja e durão pra cacete, que costuma andar por aí ao lado de zumbis - e descamba para um plano mirabolante bem maior que isso. No meio do caminho o detetive das aberrações explica que não tem este papinho de balas de prata e estacas para matar monstros, e que ele não tinha encontrado um ser deste ou de outro mundo que sobrevivesse a um tiro bem dado no meio da testa... até aquele momento.
Apesar de uma boa idéia e uma forma divertida de contar sua história, Crimes Macabros tem muito de Preacher, Constantine e até Men in Black para ser chamado de inovadora. Nada que diminua, porém, o prazer de virar a página rapidamente pra ver como McDonald vai chutar os traseiros dos monstros que ousarem cruzar seu caminho.
(Criminal Macabre: A Cal McDonald Mistery) Formato americano. 180 páginas. Preço: R$ 34,90. Pixel Media.
Reino dos malditos
Por Marcelo Forlani
Uma folheada rápida a partir do começo de Reino dos malditos levará o leitor ao equívoco de imaginar a obra como um álbum infantil. E isso é proposital, já que a história escrita por Ian Edginton e com arte de DIsraeli é focada na vida de um escritor de livros infantis, Christopher Grahame.
Porém, à medida que a leitura avança, você verá que não é nada disso. O que começa como uma historinha bonitinha vai se mostrar uma complexa e interessante viagem ao subconsciente do ser humano.
Castrovalva, o mundo imaginado por Christopher quando ele era uma criança solitária e com problemas de saúde mudou bastante desde sua última passagem por lá. Não só ele cresceu. Os personagens fofinhos e educados que um dia foram seus melhores amigos estão hoje sufocados pelo Grande Ditador, que invadiu este mundo e cometeu as maiores barbáries imagináveis. O que foi criado como uma mistura de "Avalon e Oz, A Terra do Nunca e Nárnia, todas em uma só", havia se transformado em lama e sangue.
A história é relativamente curta, apenas 110 páginas, mas muito bem escrita, com momentos até poéticos, enquanto o protagonista tenta entender o que está acontecendo, o que é real, o que está acontecendo apenas na sua cabeça e por que ele voltou a sofrer com desmaios repentinos depois de tantos anos.
Já dá até para imaginar o que Tim Burton faria com uma material destes nas suas mãos...
(Kingdom of the wicked) Formato americano. 130 páginas. Preço: R$ 32,90. Pixel Media.
