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Os Novos 52 | Entrevistamos a Panini a respeito da nova linha DC Comics

Os mixes, os preços, o material exclusivo para comic shops e a decisão de publicar todas as 52 séries no Brasil

06.06.2012, às 17H05.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H36

Desde a semana passada, os leitores brasileiros já começaram a encontrar nas bancas as primeiras edições dos Novos 52 - a meia centena de séries da DC Comics que reiniciam o universo de heróis da editora, todas renumeradas a partir da edição 1. A Panini mexeu com toda sua linha DC, que ganha série mensal nova e terá HQs exclusivas para comic shops, além de várias edições especiais (confira todos os mixes aqui).

O Omelete conversou com Érico Rosa, gerente de publicações da Panini Brasil, a respeito da nova estratégia com a DC no país. Na entrevista abaixo, ele fala sobre a polêmica dos mixes (a combinação de séries diferentes em uma mesma revista), o que se pensa a médio prazo quanto à estratégia de publicar tudo dos novos 52, como leitores novatos podem se adaptar (ou não), sobre coletâneas e inclusive sobre quadrinhos digitais.

Embora não seja relacionado aos Novos 52, mesmo que tenha a ver com a DC, aproveitamos para perguntar outra coisa: Before Watchmen vai sair no Brasil? Érico Rosa só respondeu: "Estamos vigilantes. Falaremos sobre isso muito em breve".

É possível que seja a primeira vez na história de publicação da DC no Brasil que serão lançadas aqui todas as séries que a editora publica nos EUA (pelo menos da linha de heróis). O que levou a essa decisão?

Embora tenhamos considerado vários fatores, a principal motivação dessa iniciativa foi a de proporcionar ao nosso público leitor a mais próxima experiência possível à obtida pelos fãs da DC Comics no seu mercado original.

Alguns anos atrás nós alteramos os formatos dos produtos, promovendo uma diferenciação que tanto favoreceu a acomodação dos agrupamentos de personagens e marcas (por exemplo, com o título Lanterna Verde somente com as histórias relacionadas à marca principal, e esse critério se estende a toda a linha) quanto ao potencial de "colecionismo" das séries (Batman e Sombra do Batman etc). E demos especial atenção no que diz respeito à política de preços, pois com produtos diferenciados conseguimos dar mais poder de escolha aos fãs. Embora tenhamos tido alguma polêmica na época, a resposta que precisávamos veio quase que imediatamente - e as vendas aumentaram. Ficou claro então que o vetor estava correto, e a reformulação da DC nos deu a oportunidade de dar o próximo passo.

Além disso, existe uma coisa muito fundamental na DC, que conecta tudo à compreensão de que é mesmo um universo (na verdade, mais de um...) coeso e complexo, e acreditamos que os leitores apreciariam verdadeiramente ter a oportunidade de procurar detalhes (porque eles estão em toda parte mesmo, no decorrer das páginas, em lugares inesperados) desse grande mosaico. Além de reencontrar todos os ícones e dinastias de heróis que, passados mais de 70 anos, transcendem o imaginário e alcançam as fronteiras da mitologia moderna.

Somos o único país a ter essa condição de ver todas as 52 séries originais, fora do território americano e de língua inglesa (que lê as revistas produzidas nos EUA).


Será uma política da editora publicar sempre todas as séries (e minisséries, especiais etc.) da DC?

Nossa política é a de corresponder da melhor forma possível àquilo que nosso público espera, e é claro que isso implica em questões comerciais e de viabilidade, mas acredito que a resposta que precisamos para seguir adiante estará no desempenho das revistas. Existe hoje um grande esforço para fazer o conteúdo chegar ao público interessado, seja ele um produto de massa ou de nicho. Nossa iniciativa em parceria com as comic shops é um exemplo dessa abordagem.

Há sempre a discussão sobre os mixes: o leitor precisa comprar uma revista inteira cheia de personagens/histórias que não lhe interessam para ter acesso a personagens/histórias que ele procura. Como a Panini busca equilibrar isto?

É possível notar que temos um critério bastante consistente quanto a isso. O formato de apresentação dos produtos sempre é de um "mix" de títulos (originais) compondo a revista, e relacionado à marca principal. A partir de certa altura conseguimos ter com o material original uma melhor condição para apresentar materiais agrupados com o máximo de coerência possível.

Sempre gosto de dar o exemplo do Batman. O leitor ocasional, que vê o Batman na TV ou no cinema e se interessa pela leitura em quadrinhos pode comprar a revista
Batman, que tem somente o herói (Bruce Wayne) na revista. Embora isso já acontecesse, agora com os novos 52 temos de forma ainda mais enfática, porque todos os títulos (hoje) diretamente relacionados ao Batman (Batman, Dark Knight e Detective Comics) estarão na revista mensal. O leitor que quer ter uma imersão no universo do Cavaleiro das Trevas irá inevitavelmente acompanhar A Sombra do Batman e seu "mix" de personagens relacionados a Gotham City e à Corporação Batman, e o colecionador e fã que além de comprar os já citados quiser a experiência completa buscará os Grandes Astros do Faroeste, com o Jonah Hex na Gotham do passado, entre outros tantos especiais que a seu tempo irão se apresentar.

Isso vale para todos os personagens e agrupamentos, porque também consideramos as sinalizações da DC Comics (com "The Dark", "The Edge", "Young Justice"...). Com a potencial receptividade do mercado, é possível ter um número de publicações que permite isso, e é claro que títulos como
Universo DC trazem uma proposta diferente, onde se tem a oportunidade de ter uma diversidade maior de personagens e abordagens numa mesma publicação, destinado a um leitor mais eclético.

Recentemente a DC nos EUA começou a publicar coletâneas dessas primeiras séries. Está nos planos da Panini fazer isto no Brasil também?

Diferente do que ocorre nos EUA, onde essas coletâneas costumam chegar relativamente rápido ao mercado, aqui temos uma outra abordagem para esse tipo de material. Nossa coleção de livros DC Deluxe (que não por acaso até o momento apresentava a fase moderna do Lanterna Verde, e o Batman do Grant Morrison) é o formato em que compilamos o que chamamos aqui de "clássico instantâneo", que é o material relevante e que a DC manteve, em grande parte, na nova proposta de continuidade. Vamos ter novidades a esse respeito mais à frente, mas para o momento podemos dizer que o material que tiver potencial para outros formatos certamente terá a atenção devida.

Outra mudança significativa da DC original com o reboot foi o lançamento simultâneo de versões impressa e digital. A matriz da Panini recentemente lançou um portal de venda de quadrinhos digitais para a Europa. O que já existe de planos para os quadrinhos digitais no Brasil?

Sabemos que existe muita expectativa em torno desse tema, mas realmente não tenho nada que possa declarar nesse momento, exceto que temos esta questão presente constantemente nas nossas pautas, e certamente iremos informar nossa política tão logo isso seja possível.

Por que a opção de lançar algumas HQs somente via comic shops? E por que elas são mais caras que as edições de banca com mais páginas?

Primeiramente, tentamos criar alternativas para que todos os 52 títulos originais pudessem encontrar a melhor forma de ser apresentados. Já existia a ideia, mas faltava a oportunidade. Alguns personagens e títulos são de interesse mais específico, ficam mais distantes do centro do universo DC e seus heróis mais tradicionais, e justamente por isso (e o fato de a comic shop ser um lugar de colecionadores) é que destinamos alguns títulos para esta experiência. Como poderá ver pela proposta dos títulos, estamos testando mais de uma abordagem.

Quanto ao preço, foi necessário adequar o produto à viabilidade para esse segmento. Como produzimos diretamente e exclusivamente para as comic shops, as tiragens são evidentemente menores do que as de distribuição nacional, o que influencia no preço. De outra forma esses produtos poderiam não vir a ser publicados aqui. Tanto nós como o pessoal da Comix e da Devir [as duas principais lojas de quadrinhos de São Paulo] acreditamos que essa experiência nos dará as bases que precisamos para novas experimentações.


Como funciona o acompanhamento das críticas dos leitores aos títulos e estratégias da Panini na internet?

Sempre observamos com atenção as manifestações do público. No Brasil temos uma audiência muito crítica e participativa, que reage com bastante entusiasmo e eloquência ao que é anunciado e publicado. É evidente que a grande maioria não imagina tudo o que acontece nos bastidores para uma revista chegar às mãos dos leitores. Algumas das coisas que são levantadas pelo público já são discutidas nos bastidores (algumas vezes) há anos, porque mesmo antes de alguns materiais virem a ser finalizados para que sejam publicados em seus mercados originais, já os temos em nossas discussões.

Estamos trabalhando sempre buscando melhores caminhos, no que acredito termos apresentado um trabalho que certamente respeita as diferentes relações de consumo com nossos produtos, seja para o leitor ocasional, para o experimentador ou para o ávido colecionador. Até onde posso dizer, sempre teremos boas surpresas.


Uma das promessas da nova linha DC, no exterior, foi conquistar novos leitores - o que levou a mudanças no próprio estilo dos quadrinhos, para tentar deixá-los mais convidativos ao público não tradicional. Passamos as novas edições para leitores que não conheciam quadrinhos e eles ainda se sentiram perdidos. Houve dúvidas como "Quem é Bernardo?", em referência a uma nota do editor Bernardo Santana - comum para um leitor de sempre, estranho para os novos. Há algum novo direcionamento editorial para receber e atrair estes leitores novatos?

Acho que para essa questão "quem é o editor" ou qualquer outro estranhamento que aconteça, a resposta virá com a própria experiência de leitura, porque o nome do Bernardo está no expediente e nos créditos, e com o aprofundamento no relacionamento com a revista o leitor (mais cedo ou mais tarde) irá perceber isso, e as coisas passarão (como é para os veteranos) a parecer cada vez mais familiares.

Quando eu era criança era um desafio decifrar os códigos (naquele tempo a informação sobre a edição original não era tão clara como fazemos hoje, vinha em um código de letras e números pequenos na borda dos requadros) e deduzir onde algum material havia sido publicado originalmente era uma grande prova de "nerdice" entre os garotos naquela época... Tudo era parte da diversão. A relação com as informações mudou, e todo o mais deve acompanhar esse movimento.

Acredito que aquilo que você chama de direcionamento é na verdade o resultado das nossas convicções aplicadas a esse novo momento, ajustando os produtos para que sejam acessíveis aos leitores, com a máxima atenção em como o mercado responde a isso. Nos EUA as pesquisas mostraram que o número de novos leitores não foi tão expressivo quanto o número de novos "velhos" leitores (aqueles que haviam abandonado a leitura ao longo dos anos, e retornaram nesse momento). Temos todos os motivos para acreditar que no Brasil seremos positivamente surpreendidos, superando expectativas. Todos têm algum nível de relacionamento com esses personagens. Todos amam suas aventuras e sua inspiração construtiva, sejam crianças, jovens ou veteranos leitores ou"nerds".

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