HQ/Livros

Entrevista

CCXP 2015 | "Éramos um dos melhores trios das HQs", diz John Totleben sobre sua fase em Monstro do Pântano

Parceiro de Alan Moore fala da sua expectativa para a convenção em São Paulo

15.04.2015, às 18H54.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Ao Omelete, John Totleben, veterano desenhista e arte-finalista de quadrinhos como Monstro do Pântano e Miracleman, falou sobre sua expectativa para a CCXP - Comic Con Experience 2015, que acontece de 3 a 6 de dezembro no São Paulo Expo (ex-Espaço Imigrantes). Totleben é um dos quadrinistas confirmados na convenção, ao lado de Alex Maleev, Mark WaidFrancis Manapul, Jae LeeJune Cheung

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Totleben, estamos muito empolgados em tê-lo como convidado da CCXP. É a primeira vez que o senhor visita o Brasil?

Sim, será a minha primeira vez no Brasil, e na CCXP, então estou na expectativa de que será ótimo para todos os envolvidos. Muito obrigado por me convidar para a convenção deste ano - é uma grande honra!

Você trabalhou como arte-finalista em uma das fases mais celebradas da história dos quadrinhos, com Alan Moore e Stephen Bissette, na HQ do Monstro do Pântano. Você era fã do personagem antes? E como foi trabalhar com Moore e Bissette?

Desde criança, na primeira edição lançada em 1972, o Monstro do Pântano era minha HQ favorita, quando era feita por Len Wein e Bernie Wrightson. Sempre fui mais interessado em monstros e coisas esquisitas do que os super-heróis típicos da época, então o Monstro do Pântano chegou facilmente ao topo da minha lista de favoritos.

Trabalhar com Steve e Alan no livro foi, sem sombra de dúvida, a experiência criativa mais empolgante da minha carreira. Foi muita coisa acontecendo na época: a empolgação de ter conseguido um emprego na indústria, ainda mais no Monstro do Pântano, que foi a HQ - provavelmente a única - que acredito que era a mais indicada para nós; e o fato de que tínhamos, na época, uma atípica liberdade criativa. Tudo isso nos deu muita motivação, e direcionamos tudo para as histórias. O Monstro do Pântano não vendia muito bem quando assumimos. Provavelmente estava entre as menos rentáveis da DC, não tenho certeza, e estava perto de ser cancelada, então os executivos não ligavam muito para ela.

Felizmente, nós nos importávamos. Steve eu já haviamos preparado o terreno criativamente, desde a edição #16. Lembro-me de Len Wein comentando comigo no telefone que ele acreditava que seriamos artistas reconhecidos porque havia muita energia no trabalho, "e a energia é contagiosa". Acho que ele tinha um ponto. Quando Alan apareceu na edição #20, e quando realmente começamos na #21, era óbvio que algo muito legal estava acontecendo. No primeiro ano e meio, Alan, Steve e eu éramos invencíveis - certamente entre os melhores trios que já trabalharam na indústria de quadrinhos. Acho que fizemos algo correto, já que as pessoas ainda falam sobre isso depois de tanto tempo.

Um dos personagens que você ajudou a criar, John Constantine, ganho uma série de TV. Existe outro personagem dos seus trabalhos que você gostaria de ver em um filme ou uma série?

Obviamente, Miracleman. Agora que a Marvel está no controle do personagem, é questão de tempo, já que eles só querem saber de filmes, mas não tenho ideia se há algum plano imediato para isso.

Falando em Miracleman, sua colaboração com Moore também fez história nos quadrinhos. Como foi trabalhar com o escritor novamente, e quais diferenças você aponta entre o trabalho em Miracleman e o trabalho no Monstro do Pântano?

Alan e eu saímos direto de Swamp Thing #60 ("Loving The Alien") para Miracleman #11, a primeira edição do volume três, Olympus, então não foi muito uma situação de voltar a trabalhar com Alan, já que só continuamos juntos, com algo diferente. Naquele ponto, estávamos a mil, então nosso impulso criativo acabou indo para Miracleman do mesmo jeito. Em termos de enfoque criativo, o Monstro do Pântano foi muito mais orgânico, enquanto a construção do Miracleman foi mais "arquitetônica"... mais construída no modo como utilizamos técnicas para contar históricas, como a divisão cinematográfica dos painéis de movimentos e cenas, e as imagens panorâmicas gigantescas como o quadro do centro de Olympus na edição #16, entre outras. Tudo isso foi muito difícil de conseguir, e precisou de muita "construção", por assim dizer. O Monstro do Pântano foi muito mais intuitivo nesse aspecto.

Como você se sente vendo o seu trabalho ser apresentado para um novo público, agora que a Marvel está republicando as histórias do Miracleman?

É evidente que, dado o enorme período de tempo - cerca de 20 anos - que Miracleman esteve fora de circulação, eu me sinto aliviado de finalmente vê-lo sendo republicado. É sempre interessante ver que o meu trabalho ainda tem apelo com novos leitores. Acho que os fãs mais novos perderam o aspecto de novidade que a história do personagem trouxe - quando a HQ apareceu, os conceitos e ideias exploradas, principalmente em torno da mitologia dos super-heróis, eram muito avançadas e tiveram um impacto poderoso nos leitores da época. Agora, muito da influência do Miracleman já foi absorvida pela cultura pop moderna, e os leitores mais novos não sofrem o mesmo impacto. Já que eles foram expostos aos trabalhos que vieram como consequência do que fizemos com o personagem - principalmente em HQs e filmes -, eles estão familiares com essas ideias, e provavelmente já devem estar um tanto cansados e nem tão impressionados como a geração anterior de fãs. Acho que é a natureza das coisas.

No começo do ano, tivemos uma edição anual do Miracleman que trouxe novas histórias ao cânone do personagem pela primeira vez em 20 anos. O que você acha disso?

Ainda não li a HQ, então não posso comentar em partes específicas, mas a ideia de novas histórias do Miracleman é boa e esperada. Não sei se eles vão interferir com o que Neil Gaiman e Mark Buckingham planejam para encerrar suas histórias (a HQ foi interrompida no meio da fase dos dois). No que concerne a integrar Miracleman ao Universo Marvel, ou deixá-lo à parte, eu não sei e, honestamente, não me importo. Meu envolvimento com o personagem nesse ponto é mínimo - e apenas relacionado às edições nas quais trabalhei. Criativamente, tinha praticamente terminado meu trabalho com Miracleman em 1989 e, apesar de ter feito capas e outros trabalhos especiais com o personagem depois disso, ele não tem mais tanta importância criativa para mim como quando eu estava trabalhando em sua HQ, então não gasto muito tempo pensando nisso.

O que você espera dos fãs brasileiros, e o que eles podem esperar de você nesta CCXP?

Hah, essa parece complicada! Considerando que eu tento não ser dominado por expectativas, só vou dizer isso: espere coisas boas nas duas frentes! Por conta de problemas de visão, não posso mais desenhar, mas ainda posso assinar e sou bem aberto aos fãs, de forma geral. Não ligo de responder possíveis perguntas sobre meus problemas de vista - muitos fãs se preocupam ou têm curiosidade sobre isso, ou mesmo têm seus próprios problemas de vista, mas são relutantes em falar sobre o assunto. Não tenho problema em conversar sobre isso. Novamente, estou empolgado em participar da CCXP este ano, e espero que ela seja fantástica para todos!

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Aos 57 anos, Totleben é um dos nomes mais influentes das HQs americanas. Nos anos 1980, ficou conhecido por suas parcerias com Alan Moore. Quando o roteirista assumiu o Monstro do Pântano, Totleben fazia a arte-final do lápis do desenhista Stephen R. Bissette e marcou uma geração de artistas com seu trabalho que mesclava hachura e pontilhismo nas páginas da HQ. Entre outras histórias dessa consagrada fase de Moore, Totleben finalizou a edição de Swamp Thing que apresentou John Constantine, em 1985.

Também em Swamp Thing, Totleben assinou capas em óleo e acrílica, trabalho igualmente influente que marcou sua carreira; por anos o americano recebeu encomendas de capas para outras séries, embora uma doença, a retinite pigmentosa, tenha limita sua visão. (Hoje Totleben frequenta convenções e autografa seus trabalhos mas não faz esboços ao vivo.)

Ao lado de Bissette, Totleben criou a antologia de horror Taboo, em 1988. Espaço que revelou diversos quadrinistas, a revista foi a primeira a publicar material de Do Inferno, de Alan Moore. Depois disso, refez a parceria com o escritor britânico em Miracleman. Totleben foi responsável tanto pelos desenhos quanto pela arte-final do terceiro volume de Moore com o personagem; a editora Eclipse gostou tanto do resultado que Totleben é o único desenhista creditado nesse arco, que vai das edições 11 a 16 de Miracleman.

Ano passado, a CCXP reuniu 97 mil pessoas em quatro dias e foi o maior evento indoor em primeira edição da história do Brasil. Os ingressos para a CCXP 2015 começam a ser vendidos em junho. Para saber mais novidades, siga os perfis da CCXP - Comic Con Experience no Twitter  e no Facebook e visite o site oficial da CCXP.

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