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Crítica

Umbrella Academy: Dallas | Crítica

Segunda aventura pós-moderna da bagunçada família de hipster-heróis investiga o coração da América

21.04.2011, às 00H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 13H02

Depois de sua reunião familiar em "Suíte do Apocalipse", os jovens superpoderosos da Umbrella Academy estão na pior:

Sir Hargreaves, seu pai adotivo, está morto - assim como Pogo, o macaco inteligente e única figura paterna que os irmãos ainda tinham. A Violino Branco ficou em estado catatônico após levar um tiro na cabeça. Space fica o dia inteiro vendo televisão e engordando. Rumor está muda após ter a garganta cortada pela irmã adotiva. Seánce só se preocupa com seu visual e suas drogas. Mas o Número Cinco continua desaparecido após o massacre na lanchonete, e somente o Kraken se preocupa em descobrir o que aconteceu. Isso levará os heróis por uma divertida e violenta trama de espionagem e viagem no tempo, que os colocará em uma aventura tortuosa para impedir o fim do mundo e o assassinato do presidente Kennedy em 1963.

Quem diria que Gerard Way, vocalista da banda My Chemical Romance, seria a celebridade a se dar melhor nos quadrinhos? Ao contrário da maioria dos roteiristas de Hollywood, de atores, atrizes e diretores, Way não criou apenas um arremedo de história (usando seu rosto no personagem principal, como a maioria faz) para que os estúdios de cinema comprem os direitos e produzam uma adaptação. Antes de ser rock star, Way era um nerd como qualquer um e aos 16 anos publicou dois números da revista On Raven's Wings pela Boneyard Press, acostumada a lançar títulos de terror gore. Logo depois, o rock entrou em sua vida e o resto é história, mas ele parece não ter perdido o amor pelos quadrinhos, mostrando aqui que absorveu muitas influências, que gosta de misturar.

Não por acaso, o escocês Grant Morrison apadrinhou Way e escreveu a introdução do primeiro volume (a de Dallas foi feita por Neil Gaiman) - é clara a influência de obras como Patrulha do Destino na construção dos estranhos personagens, mais deslocados e desajustados que a maioria dos X-Men. Mais que isso, a avalanche "morrisoniana" de ideias atinge o leitor em alta velocidade e o transporta para aquele mundo como se alterasse sua consciência. Não apenas pela presença de figuras como o Inspetor Lup, o mordomo Abhijat, a mãe-manequim Sra. Hargreeves, os assassinos viciados em açúcar Hazel e Cha-Cha, o oficial Carmichael e a agência temporal Temps Aeternalis, mas pelo jeito esperto e ao mesmo tempo quase inadvertido que Way mistura ficção científica, humor, política e conceitos malucos, com a facilidade dos melhores episódios de Doctor Who.

A outra dupla responsável por atiçar os sentidos é formada pelo ilustrador brasileiro Gabriel Bá e pelo colorista Dave Stewart, que repetem e incrivelmente conseguem melhorar a combinação que já funcionava tão bem no primeiro volume. O traço de Bá está mais detalhado, suas composições ainda mais elaboradas e a ambientação ainda mais cheia de clima. Cada página dupla que abre os capítulos é de tirar o fôlego. Bá consegue dar graça quando o roteiro pede humor negro e narrar muito bem as sangrentas cenas de ação, criando cenários e aparelhos retro-futuristas que fazem qualquer artista do sub-gênero steampunk jogar longe de raiva seus óculos de aviador. As cores de Stewart, um dos melhores "diretores de fotografia" dos quadrinhos atuais, puxam para o verde e roxo nas cenas que precisam de uma atmosfera de estranhamento, e são claras e básicas como o sol de verão quando a ação chega em 1963.

O enredo de Dallas é um pequeno exame de Way sobre seu país. Os Estados Unidos que reverenciam a liberdade, o dinheiro, a família e as armas. Uma arma que gerou um de seus momentos mais traumáticos, o assassinato de JFK - a cena que tirou o país à força da infância e o jogou sem paraquedas na adolescência. E é justamente a figura do Número Cinco, o viajante do tempo que se apresenta como um homem de sessenta anos preso no seu corpo de um menino, que vai decidir se Kennedy vive ou morre - e quais os benefícios dessa decisão, se é que cabe a ele. Algo assim não acontece sem motivo - e tem sérias consequências morais para toda a realidade.

Gerard Way já estaria trabalhando em uma terceira minissérie de Umbrella Academy, algo que seria mais que bem-vindo. Afinal, nem a Marvel nem a DC conseguiram na última década gerar um objeto pop tão bem acabado como este da Dark Horse (publicado no Brasil pela Devir). Aventuras de personagens tão humanizados e deslocados como essa família de crianças adotivas forçada a se entender - que ressoam facilmente com jovens dos mais variados tipos, em busca de entendimento e respeito. Eles podem parecer "hipster-heróis" que posam com ar superior, profundo e distante para impressionar, mas no fundo são apenas pessoas carentes e incompreendidas, que precisam de amigos, como qualquer um.

Nota do Crítico
Bom

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