Séries e TV

Artigo

Animal Kingdom | Com "Família Soprano surfista", série promete sexo, violência e imprevisibilidade

A série baseada no premiado longa-metragem de David Michôd chega ao TNT com a responsabilidade de honrar o original

08.06.2016, às 16H55.

No ano de 2010, o diretor e roteirista David Michôd deixou a crítica cinematográfica do mundo todo aos seus pés ao lançar seu primeiro filme, o intenso e controverso Animal Kingdom. O filme, que venceu prêmio do júri do Festival de Cinema de Sundance, surpreendeu o público com uma história minimalista e brutal sobre como as famílias podem ser apodrecidas por um legado criminoso, regado de sangue e drogas, liderado por um homem frio e cruel que é ironicamente chamado de “Papa”.

None

Com uma coleção de prêmios e uma premissa muito acessível, logo foi anunciado como oAnimal Kingdom frutificaria na televisão, numa adaptação feita por Jonathan Lisco e produzida pelo próprio criador do universo. Michôd se juntou à produtora principal Liz Watts e juntos, eles começaram a arriscar uma transposição para a TV que tanto poderia funcionar, como poderia arranhar a preciosa reputação do longa. O projeto foi comprado pela TNT, que no final do ano passado encomendou uma primeira temporada completa, de 10 episódios, e que estreou oficialmente no último dia 07 de Junho.

Welcome to the Jungle

Animal Kingdom começa quando a mãe do jovem Josh (Finn Cole) morre de uma overdose galopante e deixa-o aos cuidados da vó materna, que há anos não via o menino. Josh sempre soube que havia alguma coisa de errada com sua família. Ao chegar na casa da avó, Josh logo percebe as razões pelas quais sua mãe nunca o quis perto da família.

Ellen Barkin (que vocês conhecem como a Nana, de The New Normal), ficou com a responsabilidade de viver a versão televisiva da emblemática “Smurf”. A avó de Josh administra uma casa tomada de homens temperamentais, que têm como “profissões” o latrocínio, o sequestro e o tráfico. Ser “fora da lei” naquela família é tão natural quanto ir ao banheiro e é claro que numa rotina como essa, nenhum outro comportamento que não fosse o da conivência seria permitido. Josh não tem para onde ir e tampouco acredita que ficar seja sua melhor saída, algo que ele percebe já nos primeiros minutos, o que deixa sua perspectiva de futuro como membro da “quadrilha” dos Cody ainda mais assustadora.

Quem Sai aos Seus Não Degenera

A narrativa do episódio-piloto é praticamente a mesma do longa-metragem. Muda-se apenas o cenário, criando outra atmosfera. Sai a rústica Austrália e entra a Califórnia ensolarada dos Estados Unidos. Apesar de ter uma história que se conduz de forma muito semelhante a do longa, era preciso distanciar as obras, o que tornou a mudança de cenário ainda mais eficiente.

O clima alaranjado do verão norte-americano providenciou um elenco masculino sarado e bronzeado. Saiu de cena a melancolia e o tom “acinzentado”, o minimalismo tanto visual quanto textual do longa. Entrou uma paleta quente, uma certa urgência imagética e uma linguagem mais objetiva e estrategicamente comercial. Algumas cenas do filme até se repetem no piloto, mas considerando que o longa não pode virar um grande spoiler, é bem provável que as semelhanças terminem por aí.

A escolha de John Wells para a direção da premiere também foi bastante calculada. O showrunner, que é especialista em dramaticidade super-eloquente (vide ER e Third Watch, algumas de suas criações), tem na bagagem a adaptação da igualmente transgressora Shameless, uma comédia também focada na forma como o legado negativo de uma família pode impedi-la de viver em paz por gerações infinitas. Essa auto-referenciação que Wells faz em si mesmo esbarra em referências ainda maiores como The Sopranos e Sons of Anarchy, ambos sobre o crime dentro do seio familiar, que soterram todo e qualquer sinal de paz de espírito.

Vista por esse lado, Animal Kingdom não é uma série que pode ter muito de novo a oferecer. Porém, sua notável qualidade de produção salva-a de constrangimentos hipotéticos e a coloca no lugar de interesse de um setor específico da audiência: aquele que procura sexo, violência e imprevisibilidade. Sim, porque se a série decidir honrar o original, absolutamente tudo pode acontecer. Por isso, somente ao final dessa temporada é que poderemos descobrir se o “experimento forçado” que levou Josh a passar esse tempo com os parentes, poderá ser verdadeiramente comparado a uma “viagem” pelo complexo e metafórico “Reino Animal”.

* Animal Kingdom ainda não tem previsão de estreia no Brasil.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.