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Demolidor | Fomos à Cozinha do Inferno atrás dos segredos da nova série da Netflix

Estreia da Marvel no serviço de streaming promete ser fiel aos quadrinhos, mas com novidades

03.03.2015, às 00H32.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H36

Nova York, 10 de outubro de 2014. O Omelete está na cidade que nunca dorme para um evento secreto e exclusivíssimo. Estamos no primeiro grupo convidado a visitar a Cozinha do Inferno criada pela Marvel e Netflix para filmar a série do Demolidor. Depois de pegar uma van do centro de Manhattan para o Brooklyn, fomos levados até uma sala onde as paredes brancas ostentavam meia dúzia de quadros igualmente brancos. Foi ali que, alguns dias antes, Wilson Fisk foi flagrado - provavelmente aumentando sua nada humilde coleção de arte. O ambiente todo claro é uma ironia e tanto para um set de um personagem cego.

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Uma das primeiras pessoas que conhecemos por lá foi a figurinista Stephanie Maslansky. Foi ela que chegou e resumiu bem o que veríamos a seguir: "Nosso objetivo era criar uma Cozinha do Inferno que praticamente não existe mais. Dos anos 50 até os 80, aquela vizinhança era uma área muito barra pesada [...] Matt Murdock e Wilson Fisk querem transformar a Cozinha do Inferno em um lugar melhor para se viver. Cada um fazendo as coisas do seu jeito. Fisk é um cara que tem coração e um passado. É um personagem profundo e cheio de camadas. Ele está longe de ser um personagem caricato e exagerado. Deixamos isso para os outros programas que passam na TV", disse Stephanie.

O ator escolhido para interpretar o Rei do Crime foi Vincent D'Onofrio e a figurinista falou sobre as semelhanças e diferenças para outras encarnações que já vimos de Wilson Fisk nas telas e HQs. "Vincent D’Onofrio se parece muito com o personagem que vocês conhecem dos quadrinhos. É um cara grande, que tem 1,93m e muita presença. Diferente de algumas versões das HQs, nós optamos por figurinos menos chamativos. Pensando na sua riqueza, nada fazia mais sentido para mim do que vesti-lo apenas com ternos feitos por alfaiates especialmente para ele. Se pensarmos que os heróis sempre usam uniformes, este é o dele", resumiu. Parte importante deste "uniforme" são as abotoaduras. "Construímos cerca de 12 pares de abotoaduras, inspirados em uma peça do fim dos anos 50, início dos 60. Se você olhar para elas verá que elas não são idênticas, mas se complementam. Parecem olhos. São como a visão do seu pai, que o acompanha. Gosto de pensar neste tipo de coisa quando estou criando figurinos", disse Stephanie.

Já para o nosso herói, o jovem Matt Murdock, que quando pequeno perdeu a visão após um acidente, mas ganhou um raro poder que aumentou seus outros sentidos, Stephanie disse que achou a resposta nas texturas. "Construí seu guarda-roupa pensando no tato e também no fato de que tudo teria de ser muito bem organizado e com possibilidades de combinação. Ele pode colocar qualquer gravata, qualquer sapato com qualquer terno que vai ficar bom. Esse é o uniforme dele: uma camisa com o último botão desabotoado, uma gravata mais afrouxada e o terno", falou a figurinista. Já sobre o OUTRO uniforme que será usado pelo ator inglês Charlie Cox, Stephanie não pôde falar nada - o que nos faz crer que o Demolidor uniformizado só deve dar as caras no fim da temporada, fazendo link para as outras séries urbanas da parceria Marvel-Netflix: Jessica Jones, Luke CagePunho de FerroDefensores.

Karen Page (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden Henson) completam o elenco principal. Juntos com Matt Murdock, eles formam o Escritório de Advocacia Nelson & Murdock (que fica bem na frente da Atlas Investments - homenagem ao nome da editora que depois ganhou o nome de Marvel Comics). Recém-chegada do interior, e completamente dura, Page vai vestir roupas de segunda-mão, compradas em brechós, mas customizadas por ela. Já o melhor amigo de Murdock, o gorducho Foggy vai usar roupas mais coloridas, gravatas estampadas e um prendedor de gravatas com a letra F, que ganhou de seu pai. Pudemos visitar o escritório, colocado no coração da Cozinha do Inferno. O local, decadente, aparenta ter mais de cem anos. Parte do seu teto caiu e as camadas de tinta se acumulam nos conduítes e aquecedores. O local tem a recepção onde fica Page, uma sala para Matt, outra para Foggy e uma pequena sala de reuniões. Enquanto o diploma de Foggy estava na parede, torto, o de Matt ainda estava no chão. Enquanto a mesa de Foggy tinha livros de direito, uma bola de beisebol e uma agenda, a área de trabalho de Matt só tinha uma caixa. Já Karen tinha balas de goma, um cinzeiro em formato de pomba e uma igreja.

Criando mofo

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O aspecto religioso, tão utilizado na série, aparece também no apartamento de Matt. Situado no topo de um prédio de uns oito andares, o local será iluminado principalmente pela luz que vem de rora e entra pelos vidros coloridos das janelas arqueadas que lembram muito os vitrais de igrejas. O apartamento tem um pequeno corredor, que esconde a cozinha e a mesa de jantar. Uma outra parede com uma porta de correr dá um pouco de privacidade para o quarto, enquanto uma escada dá acesso à parte externa do prédio. "Como nos quadrinhos ele está sempre andando pelos topos dos prédios e nós também teremos várias cenas lá no alto, então pensamos que ele precisava de um acesso rápido à cobertura. Fizemos algumas mudanças por aqui, para deixar mais com cara de sótão, começando um pouco mais baixo no canto e subindo. Esta escada leva à saída e, para mim, representa a transformação de Matt Murdock para o Demolidor. Não sei se vocês notaram, mas não tem nenhum tipo de arte nas paredes, o que foi um enorme desafio para mim como designer. A saída, para não deixar tudo chapado foi deixar um pedaço da tinta da parede saindo aqui, um tijolo aparecendo ali, uma mancha de mofo, etc. Foi uma forma de dar uma textura", disse o simpático designer de produção Loren Weeks, que tem no currículo outras séries. "Criar ambientes enferrujados, manchas de água é o que mais diverte as pessoas do meu departamento. Eu trabalhei em Gossip Girl e lá tudo era lindo e perfeito. Era um tédio! Olha só aqui no canto, este mofo, as marcas de vazamento. Isso que é gostoso de fazer", se diverte.

Andando pelo local é impossível não se impressionar com o nível de detalhes criado pelas equipes, e como cada elemento está ali por um motivo, uma história. "Nós tivemos a ajuda de um consultor visual. Foi ele que nos ensinou a usar estes alfinetes que ajudariam uma pessoa com dificuldades visuais a entender o que é o quê. A iluminação que temos aqui seria a original da reforma. O que você não vai ver aqui são, por exemplo, luzes de leitura, pois não fariam sentido. Tapetes ajudam a dar uma textura, e foram uma discussão interessante. Achamos que poderia atrapalhar, mas nosso consultor disse que qualquer pessoa consegue andar na sua casa de olhos fechados", nos lembrou Weeks.

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Após passar pelos dois principais sets da série, fomos até o Metro-General Hospital, que também será bastante visto. "Não é um hospital rico e tudo o que você vê aqui foi bastante envelhecido por isso. É um hospital por onde passa muita gente. Nós voltamos bastante para cá. Deveria até ser maior, se levarmos em consideração o número de cenas que fizemos aqui", resume Weeks. É lá que deve trabalhar a personagem de Rosario Dawson, a enfermeira Claire Temple. Como já vimos nas primeiras cenas exibidas do programa, Matt Murdock vai precisar muito da sua ajuda. "Apesar de ser uma série de super-heróis, nossos personagens são bastante realistas. Estamos mais para The Wire do que para Arrow ou outros projetos da Marvel, sejam séries ou filmes. As habilidades físicas do Matt são incríveis, mas ele ainda fica restrito a fazer o que um ser humano consegue fazer. Não espere saltos triplos. Ele consegue dar suas piruetas, mas não rodando três vezes no ar", complementou rindo.

Liberdade criativa

O último cenário que visitamos foi a oficina de Melvin Potter e aqui entra a liberdade criativa sempre bem-vinda na hora de adaptar histórias para uma nova mídia. "Nos quadrinhos, Melvin Potter é um alfaiate e engenheiro que, como Gladiador, vai de vilão a eventual companheiro do Demolidor. Na nossa versão, ele está mais para funileiro. A oficina dele está mais para um especialista em máquinas. Nós estamos homenageando o material original, mas com liberdade de criar a nossa própria interpretação, o que é muito divertido", lembra Weeks.

Quem falou mais sobre o personagem foi Michael Jortner, chefe do departamento de elementos de cena: "Melvin Potter é meio designer, mas também um cara bastante técnico que desenvolve muitos uniformes de super-heróis, mas principalmente de vilões, com características e armas diferentes. Ele vai aparecer no programa como o cara que fez o terno do Wilson Fisk, com um tecido fino de kevlar - à prova de facadas e alguns tipos de tiros. Veremos também ele trabalhando na blindagem dos carros do Fisk. E damos também uma dica de que o Gladiador está ali, em algumas cenas da sua oficina. Não só do Gladiador, mas de outros personagens do Universo Marvel. São plantas de armas ou uniformes em que ele trabalhou ou está trabalhando. Vai haver uma progressão, mas não teremos muita tecnologia no programa. Está mais para evolução do que ele tinha nas mãos em direção ao que ele usaria hoje em dia. Estamos mais preocupados em criar uma identidade para os personagens."

Foi lá na oficina de Potter que pudemos ver um pouco da ação. O local, que tinha uma van da Porsche toda desmontada, era pequeno para comportar toda a equipe técnica, os atores e as câmeras, então acompanhamos a filmagem dos bastidores, vendo tudo por um monitor. A cena que estava sendo rodada naquele dia era do oitavo episódio e tinha o Rei do Crime conversando com seu consultor financeiro, Leland Owlsley (Bob Gunton) - que muitos devem conhecer como o vilão Coruja. Após tirar as medidas de Leland para um novo terno de kevlar, Potter sai, deixando os dois sozinhos para discutir o que estava deixando o consultor financeiro de Fisk tão nervoso. A cena é bastante longa para uma série de TV, com mais de 3 minutos direto, sem interrupções. D'Onofrio solta alguns grunhidos, mas quando fala, sua voz grave marca presença.

Entre um take e outro, Vincent D'Onofrio passou por lá para dar um oi. Seu porte físico e atitude impõem respeito. Se um bom herói só é tão bom quanto seus vilões, acho que podemos esperar uma boa série do Demolidor.

Aguarde, para as próximas semanas mais matérias especiais sobre o Demolidor e entrevistas com os atores e os produtores da série, que estreia na Netflix em 10 de abril.

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