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Lembra desse? Havaí 5-0

Conheça uma das maiores séries policiais da história da TV, que ficou no ar por 12 temporadas

19.01.2011, às 02H00.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 15H05

A estreia da versão atualizada e rebatizada para Hawaii Five-O renovou o interesse pelo original, uma combinação de belas paisagens, casos policiais e bandido preso no final. Book’em, Danno!

Em abril de 1980, a rede CBS exibiu o último episódio de Havaí 5-0. No ar há 12 anos, acabava ali o seriado policial há mais tempo em cartaz na TV estadunidense. No ano seguinte, o horário seria ocupado por outro sucesso, Magnum, mas, o recorde de permanência no ar só seria batido por Law & Order mais de 20 anos depois.

Havaí 5-0

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Havaí 5-0 nasceu de uma ideia de Leonard Freeman, um ex-ator que iniciou a carreira de produtor em Rota 66, série que mostrava dois amigos viajando pelos Estados Unidos, passando um episódio em cada lugar do país. Provavelmente inspirado por este primeiro trabalho, Freeman defendeu a ideia de filmar totalmente em locação, uma das marcas registradas do trabalho anterior. Foi Freeman quem convenceu o então governador do Havaí que uma série filmada no local seria uma boa fonte de renda e negócios para o 50º estado. Como Hawaiian Eye, série de 1959 que também usava o estado como cenário, tinha sido filmada na Califórnia, Havaí 5-0 tornou-se a primeira série de TV nacional filmada no lugar.

Durante a produção foi também trabalho de Freeman manter contato com as autoridades locais para obter a cooperação necessária às filmagens, e com moradores das ilhas para conhecer seus interesses. Muito antes dos nova-iorquinos verem Sex and the City como parte de sua cidade, os havaianos tomaram posse de Havaí 5-0. O dinheiro despejado na economia local, estimado em 15 milhões de dólares ao ano, além do emprego de atores locais, também era um grande incentivo ao romance.

A história

A estrutura da série mostrava o trabalho de uma pequena unidade de policiais, diretamente subordinada ao governador do estado. O grupo era chefiado por Steve McGarrett, um ex-comandante da Marinha totalmente dedicado ao trabalho. Sob seu comando estavam três policiais, Danny Williams, Chin Ho Kelly e Kono Kalakaua. Com poucos protagonistas, a produção podia adicionar outros personagens ao grupo conforme a necessidade dos roteiros, como o patologista Doc Bergman ou técnico Che Fong. O quartel general da equipe ficava no palácio Iolani, residência dos reis do Havaí e, após a anexação aos Estados Unidos em 1893, sede do governo do estado.

Para interpretar McGarrett, Freeman e a CBS escolheram Jack Lord, veterano de produções da Broadway e ex-aluno do Actor´s Studio, onde estudou ao lado de Marlon Brando e Paul Newman. Lord também havia trabalhado em Rota 66 e, em 1962, foi o primeiro Felix Leiter da série James Bond em 007 Contra o Satânico Dr. No. Assim como McGarrett, o ator, que na verdade se chamava John Patrick Ryan, como o personagem de A Caçada ao Outubro Vermelho, tinha um passado naval. Ele passou o período da Segunda Guerra Mundial a serviço da Marinha Mercante e a Guerra da Coréia na Marinha dos Estados Unidos antes de voltar à Nova York, onde havia nascido. O papel de McGarret, no entanto, não foi seu logo de cara. A primeira opção de Freeman foi Gregory Peck.

Em contraponto ao poderoso McGarrett, Freeman escalou um policial jovem, alguém que poderia herdar o comando no futuro, Danny Williams. No piloto, o personagem foi interpretado por Tim O´Kelly, mas, como acontece com frequência nos seriados, o personagem ganhou outro rosto após a aprovação do programa e O´Kelly foi substituído por James MacArthur. Um artigo em uma edição do TV Guide de 1969 culpa a exibição teste pela troca do ator. Segundo a matéria, o público achou O´Kelly muito jovem para interpretar o segundo em comando da unidade. MacArthur e Freeman haviam trabalhado juntos em A Marca da Forca, western estrelado por Clint Eastwood. Filho adotivo do roteirista Charles MacArthur e de Helen Hayes, ganhadora do Oscar, Emmy e Tony, e detentora de duas estrelas na Calçada da Fama, James MacArthur chegou a ser descrito como o melhor candidato a herdeiro do trono de James Dean e atuava desde os 8 anos de idade.

Os outros dois membros da equipe original davam uma amostra demográfica da população local. Chin Ho Kelly era parte chinês, parte irlandês, enquanto Kono Kalakaua era a presença havaiana no time principal. Kam Fong, que ficou com o papel de Chin Ho, contou ter sido escalado pelo próprio Freeman quando esperava a vez numa audição para outro personagem. Dono de uma vida movimentada, que incluiu testemunhar o ataque a Pearl Harbor, perder a família quando dois B-24 caíram sobre sua casa, e trabalhar como policial por 18 anos, Fong trabalhou em Havaí 5-0 até Kelly ser morto, na décima temporada. O escalado para viver Kono foi Gilbert Kauhi, um músico, comediante e DJ de rádio que ganhou o apelido de Zulu dos colegas de escola e o assumiu como nome artístico. O personagem basicamente atendia às ordens de McGarrett e fez parte da série por quatro temporadas, até Zulu ser demitido do elenco. Apesar do apelo ao público local que a presença de um havaiano no grupo principal representava, a participação pequena de Zulu, e o uso de havaianos e chineses nos papeis de criminosos sempre foi motivo de crítica.

Na quinta temporada dois novos personagens foram adicionados ao time. Ben Kokua, interpretado por Al Harrington, foi escalado em substituição a Kono, e Duke Lukela, papel de Herman Wedemeyer, apareceu primeiro como policial uniformizado e depois como detetive. Na última temporada, foi a vez de três novos nomes. James “Kimo” Carew, interpretado por William Smith, Truck Kealoha, papel de Moe Keale e a primeira policial a fazer parte do time, Lori Wilson, interpretada por Sharon Farrell.

A Música

Mesmo anos após o final da série pessoas que jamais acompanharam uma aventura de McGarrett reconheciam o tema de abertura. A música, que servia de trilha para imagens do Havaí, incluindo uma onda, uma dançarina e uma olhada fatal da modelo Liz Logue, não teria sido criada se não fosse a interferência de Annie Stevens, esposa do compositor Morton Stevens. Indicado a dois Emmys pelas trilhas de Gunsmoke e Police Woman, Stevens pretendia usar uma música já pronta, "Call to Danger", que ele havia composto para um piloto não aprovado. Mas, quando apresentou a proposta à sua esposa, Annie rejeitou a ideia. Zangado, Stevens foi para o piano, onde descontou a raiva no teclado criando a primeira versão do tema em 20 minutos, resultado mais uma vez rejeitado por Annie. Refeito e finalmente aceito por sua crítica particular, a gravação foi feita nos estúdios da CBS em San Fernando Valley.

Após a estreia da série, o grupo The Ventures gravou uma versão do tema, que vendeu três milhões de cópias numa época em que a única maneira de ter uma música era comprando o disco.  Para a série atual, os produtores tentaram usar uma versão modernizada do tema, com toques eletrônicos. A recepção do público que viu a abertura da nova série na Internet mandou o projeto de volta para o estúdio onde a música foi gravada como todo mundo conhece. Para agradar ainda mais ao público, os produtores convocaram os músicos originais para a gravação. A abertura também replica a original, incluindo o close de McGarrett no topo do hotel Ilikai, onde a maior parte da equipe de produção e convidados se hospedava durante as gravações nos anos 1970.

A Competição

Havaí 5-0 estreou num ano, para dizer o mínimo, complexo. Em 1968, os noticiários estavam cheios de eventos mais importantes que um seriado, mesmo nos programas de TV. Em abril, a Chrysler tentou cortar um especial de Petula Clark e Harry Belafonte porque a cantora britânica havia colocado as mãos no braço de Belafonte. A cena só foi ao ar porque Clark detinha os direitos do programa e destruiu todas as outras versões da música, obrigando a emissora a aceitar as cenas. Dias depois da exibição, Martin Luther King foi assassinado, complicando ainda mais o movimento pelos direitos civis. Em maio, os estudantes franceses protestaram em Paris, movimento que se transformou em uma greve geral. No início de junho, foi a vez de Robert Kennedy ser assassinado durante a campanha para a presidência dos Estados Unidos, enquanto a Tchecoeslováquia era sacudida pela Primavera de Praga. Em agosto, o país seria invadido pela União Soviética. Num momento em que tudo parecia instável, o público podia ser tanto difícil de atrair como fácil de se apegar a um programa de TV para esquecer as notícias. Além de Hawaí 5-0, também estrearam em setembro daquele ano O Prisioneiro, Terra de Gigantes, Nós e o Fantasma e The Mod Squad.

Naqueles tempos pré-canal por assinatura, a TV estadunidense era dominada pelas três grandes redes. Às 8h da noite, quando McGarrett e sua turma entravam no ar na CBS, a ABC apresentava A Noviça Voadora, enquanto a NBC continuava com o episódio da noite de Daniel Boone, que começava às 19h30. Às 20h30, depois de A Noviça Voadora, a ABC exibia A Feiticeira. Cabia, portanto, ao novo seriado, tirar público de três veteranas. Sally Field como a freira que voava estava na segunda temporada, Fess Parker desbravava a fronteira há quatro anos, e Elizabeth Montgomery sacudia o nariz pelo quinto ano consecutivo.

Na luta para tirar público de duas comédias e uma aventura, Havaí 5-0 concentrava sua munição no crime a ser resolvido no dia com a justiça vencendo no final. Não havia muito foco na vida pessoal dos personagens e pouco se sabe deles mesmo após 12 temporadas, esquema que seria usado justamente pela série que roubou de Havaí 5-0 o posto de longevidade, Law & Order.

The Lord

A decisão de filmar longe da Califórnia deu a Havaí 5-0 um toque de pioneirismo. Sem estúdio, a produção usou no primeiro ano um armazém da Marinha adaptado para o trabalho. Carinhosamente batizado de Mansão Mangusto, em homenagem aos animais que caçavam ratos no lugar, o armazém carecia de ar condicionado e isolamento acústico, o que garantia interrupções nas gravações a cada caminhão ou avião que passava. Por sorte, apenas as cenas de interiores como o escritório de McGarrett e do governador, eram gravadas ali. A maior parte das cenas era feita em locação, às vezes cinco lugares diferentes em um episódio. Para dar conta do recado, atores e equipes trabalhavam cerca de 18 horas por dia, seis dias por semana, embora esta carga seja comum nos seriados mesmo nos dias de hoje.

O sucesso deu à série um novo estúdio perto de Diamond Head, utilizado nos últimos quatro anos da série. Em mais uma prova do apoio do governo à produção, o estúdio foi construído em terreno público para ser utilizado pela série e depois cedido à Universidade do Havaí. O que não melhorou ao longo do tempo foi o relacionamento entre os atores. Considerada a última chance de sucesso para um ator já passado dos quarenta anos, Havaí 5-0 recebeu total atenção de Jack Lord, que dedicava toda a sua vida ao programa. Seu relacionamento com os outros atores era apenas profissional, e ele nunca visitava ou recebia os colegas. Em uma de suas raras entrevistas, Lord reconheceu que quando não estava no trabalho preferia ficar em casa com sua esposa. O comportamento era considerado normal para quem tinha apenas um dia de folga na semana, e a dedicação elogiada, mas, as críticas não se limitavam à falta de sociabilidade do astro da série. Lord era conhecido por ser controlador, ditatorial e por interferir na parte técnica e na direção, aspectos que ele conhecia bem. "The Lord", como era chamado no estúdio, não permitia fotos sem autorização e também não admitia que os outros atores recebessem créditos como “co-stars”. Apesar de ser um artista de sucesso com um clube noturno lotado toda noite, Zulu jamais mostrou seus talentos na série porque Lord não permitia. Em outra matéria da TV Guide, um assessor de imprensa descreveu os avisos que recebeu sobre The Lord e como foi demitido por ter se recusado a buscar o ator e a esposa no aeroporto. A situação ficou ainda pior após a morte de Leonard Freeman, quando Jack Lord assumiu de vez o cargo de produtor, passando a controlar ainda mais tudo o que se referia à série.

Seguro em sua posição, James MacArthur mantinha um diplomático silêncio em relação ao colega, mas, um comentário mostra que a atmosfera entre os dois também não era das melhores. No início da última temporada, Lord reclamou que alguns roteiros tiveram de ser reescritos porque MacArthur teria deixado a série sem nenhum aviso prévio. Em resposta, MacArthur disse que havia informado o estúdio e que era funcionário da CBS e não de Jack Lord. Outro que mantinha silêncio sobre a atitude de Lord em relação aos colegas era Kam Fong.

Universo Expandido

Logo após a estreia, Havaí 5-0 atraiu a atenção do mercado editorial. Os dois primeiros livros foram publicados em 1968 e 1969 pela editora Signet, seguidos por dois volumes para jovens leitores, lançados em 1969 e 1971.

Assim como os livros derivados de séries como Bones e CSI, as histórias não eram baseadas em episódios da TV. O primeiro volume, escrito por Michael Avallone e simplesmente intitulado Hawaii Five-O, envolve a morte de um empresário do ramo naval. O segundo também de Avallone, coloca seis assassinos contratados para matar McGarrett. Nos dois livros para o público jovem, Top Secret, de Robert Sidney, e The Octopus Caper, de Leo R. Ellis, McGarrett e equipe combatem espiões e o crime organizado.

A popularidade da série no Reino Unido gerou mais dois livros, publicados pela Star Books e escritos por Herbert Harris, Serpents in Paradise e The Angry Battalion, ambos lançados em 1972. O foco do primeiro é o tráfico de drogas, o segundo trata de terrorismo.

O grande inimigo

Além dos roteiros básicos de “vamos pegar o bandido da semana”, Havaí 5-0 teve um arco narrativo estrelado pelo grande inimigo de McGarrett, Wo Fat, membro da inteligência chinesa. A batalha entre os dois começou no piloto, quando Wo Fat tortura um agente da inteligência dos Estados Unidos e amigo de McGarrett. Contrariando o chefe da inteligência estadunidense no Havaí, interpretado por Leslie Nielsen, McGarrett investiga e se envolve num plano para passar informações erradas para Wo Fat. O plano é bem sucedido, mas isso significa deixar o bandido escapar e aparecer em 11 dos 278 episódios da série. O papel foi interpretado por Khigh Dheigh, que já havia sido um agente inimigo em Sob o Domínio do Mal (1962), e que não era chinês ou mesmo descendente, mas tinha a aparência certa para o papel. Após a famosa reaproximação entre Estados Unidos e China, promovida por Nixon em 1972, o personagem mudou, e Wo Fat deixou de representar o governo chinês. A partir dali, o ex-agente considera que seu governo traiu seus ideais comunistas ao fazer amizade com os Estados Unidos. A saga de Wo Fat terminou apenas no último episódio, quando ele foi capturado. Mas os roteiristas deixaram a porta aberta. Na última cena, Wo Fat tira uma lixa do sapato indicando que ele poderia escapar.

O Episódio Desaparecido

Além do novo relacionamento com a China, outro evento real interferiu na série. Em 1970, a CBS exibiu "Bored She Hung Herself", episódio em que uma mulher morre enforcada num exercício relacionado à ioga. Segundo a esposa de Leonard Freeman, algumas pessoas tentaram a mesma técnica mostrada no enredo e morreram, o que levou a CBS a retirar o episódio de circulação. Até hoje a história não foi reprisada nem incluída nos lançamentos em DVD.

Fim e recomeço

Apesar de introduzir novos personagens e ainda contar com o ator principal, Havaí 5-0 foi cancelada após a 12ª temporada. Para aproveitar a estrutura montada para a série, incluindo o estúdio de Diamond Head, a CBS produziu Magnum, com Tom Selleck, que ficaria no ar por oito temporadas.

Com o final da série, Jack Lord partiu para outro piloto, M Station Hawaii, também para a CBS, que não foi aprovado. Comprovando sua previsão de que Havaí 5-0 era sua última chance de sucesso, o ator aposentou-se e dedicou-se à sua vida pessoal. Sua reclusão deu origem a todo tipo de boato, incluindo que ele sofria de mal de Alzheimer ou outra doença degenerativa.

Em 1996 foi feita a primeira tentativa de trazer Havaí 5-0 de volta à TV. O piloto foi escrito e produzido por Stephen J Cannell, que tornou-se escritor e apareceu em Castle como um dos parceiros de pôquer de Nathan Fillion. Em busca dos fãs do original, o enredo incluía James MacArthur de volta ao papel de Danny Williams, agora governador do Havaí, e participações de Zulu (Kono), Herman Wedemeyer (Duke Lukela), Harry Endo (Che Fong), Moe Keale e mesmo de Kam Fong (Chin Ho Kelly), apesar de seu personagem ter morrido na série original.

O entusiasmo dos envolvidos, no entanto, não foi suficiente para obter a aprovação e o projeto de reviver Havaí 5-0 foi cancelado, voltando para a prancheta por mais 14 anos. Nesse período, os atores da versão original se aposentaram ou faleceu, deixando James MacArthur e Al Harrington como únicos sobreviventes a verem a nova versão, que estreou nos segundo semestre de 2010. Já havia planos para uma participação especial de James MacArthur, que havia dado sua aprovação para o novo programa. O ator, no entanto, faleceu em outubro, cortando os planos dos produtores de ligar o novo programa com o original.

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