Séries e TV

Entrevista

Wayward Pines | M. Night Shyamalan fala sobre sua chegada na TV, mistérios, referências, novos filmes e muito mais

Em entrevista exclusiva, o diretor e roteirista contou detalhes sobre a carreira e revelou quais dos seus filmes são seus prediletos

27.04.2015, às 12H33.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 09H10

Quase que M. Night Shyamalan não chegaao Brasil. Depois de perder seu passaporte e ter os governos brasileiro e americano trabalhando para garantir sua passagem pelo Rio Content Market, o diretor do clássico O Sexto Sentido apareceu para falar a respeito de sua mais nova empreitada.

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Na véspera de sua chegada, imprensa e convidados puderam assistir ao episódio piloto da nova série produzida pela Fox, Wayward Pines, aguardada como uma das grandes apostas do canal nessa temporada. A série estreará em 125 países no dia 14 de maio e já com esse investimento, coloca sobre a primeira investida do diretor na televisão, uma grande expectativa.

Shyamalan chegou pontualmente, estava extremamente disponível e simpático e já começou falando sobre como foi parar na televisão: "estava esperando pelo material certo e esse roteiro tem um mistério muito bem construído, além de uma dose de humor. Quando li, sabia que conseguiria como aquela história. A série é um quebra-cabeça maravilhoso". Seduzido pelo tempo menor de produção e pela oportunidade de contar histórias interessantes que talvez encontrassem certa dificuldade em serem compradas por grandes estúdios, o diretor abraçou a trama adaptada do livro de Blake Crouch e ouviu o chamado da televisão: "quanto mais diferente você conseguir ser, mais vamos querer você".

Quisemos saber se a televisão havia feito algum tipo de pressão para que  ele honrasse sua fama de fazer finais esquematizados para surpreender. Shyamalan admitiu ter feito isso em O Sexto Sentido, Corpo Fechado e A Vila. Tentou tirar Sinais da receita, mas estávamos lá para dizer que não necessariamente o filme estrelado por Mel Gibson se safaria dessa. "Amo ser surpreendido, gosto de reviravoltas na trama e imagino que o público também goste. É divertido ver quando alguma informação aparece e muda o curso da história", explicou.

Porém, ele garantiu que apesar de Wayward Pines ter seu mistério, ele será revelado antes da temporada terminar: "estava interessado no que acontece após a revelação do segredo". Ele não pôde falar mais sobre a série ser, na verdade, uma minissérie, mas não descartou uma segunda temporada.

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Conhecido por ter uma filmografia de muitos roteiros originais, Shyamalan também respondeu com bom humor nossa pergunta sobre precisar conter-se numa adaptação: "mesmo quando estou dirigindo algo que escrevi, eu me volto para a pergunta 'o que o autor quer com isso?', ainda que eu seja o autor, e fico parecendo uma pessoa maluca. Mas eu literalmente faço isso, porque preciso interpretar as falas visualmente. É curioso pensar agora que estou dirigindo algo que eu não escrevi. Eu mesmo tinha esquecido disso. Mas parece mais confortável do que você imagina... Eu sofro menos pressão como diretor porque ouço mais do que está fora da minha cabeça", contou Shyamalan.

Outro aspecto importante com relação à criação de Wayward Pines diz respeito ao seu ator principal. Estamos numa era em que muitos atores conhecidos pelo cinema começam a migrar para a televisão em busca de personagens mais complexos. Shyamalan foi direto, afirmando que um ator com uma carreira cinematográfica foi pensado imediatamente para o papel. Depois, a escolha se deu por Matt Dillon por conta de sua capacidade de alternar a intensidade dramática exigida com boas doses de humor negro (o diretor falou sobre humor em muitos trechos das entrevistas, como algo que ele quer resgatar em seus filmes).

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No final das contas, falar sobre Shyamalan com Shyamalan toca numa questão referencial. Wayward Pines mistura uma série de referências que vão desde Além da Imaginação até Twin Peaks. No entanto, ele foi categórico ao afirmar que "como havia um material básico, todas essas referências já se encontravam nele. Foi por isso que ele me interessou e que provavelmente foi oferecido a mim".

Questionado sobre ter se tornado uma referência após o lançamento de O Sexto Sentido, o diretor resolveu filosofar um pouco: "se eu te mostrasse uma pintura sem nenhum contexto, nenhum. Ao olhar para ela você imediatamente procuraria pela referência mais próxima e julgaria o trabalho baseado nela. Acho que é por isso que eu me sinto bem a respeito, porque nós somos assim, estamos sempre procurando pela referência mais próxima. O que me anima é contar histórias diferentes e então aí nós temos um problema. Eu vou te mostrar uma pintura e você vai para referência mais próxima... A boa notícia é que eu sou a referência mais próxima e a má notícia é que eu sou a referência mais próxima. Você acaba ficando preso nessa questão referencial e o desafio é encontrar outras formas de expressão".

Foi provavelmente essa busca por novas expressões que levou o diretor a investir em projetos que causaram estranheza no público, como por exemplo com A Dama na Água. "De todos os meus filmes, esse é o que tem um séquito mais apaixonado. É muito pequeno, mas é quase uma religião. Tenho uma história agridoce sobre isso... Um jovem que estava no hospital, morrendo, assistia a esse filme todos os dias. Ele me escreveu e eu enviei para ele um roteiro assinado do longa. Fiquei sabendo depois que quando ele morreu, estava abraçado ao roteiro. Essa é uma história sobre inocência, um conto de fadas adulto e eu não prestei nenhuma atenção a como ele seria vendável, não me preocupei em nenhum momento com isso. Se um filme com "dama" no título seria comercial, se o público viria com expectativas de final surpreendente... Nada disso era relevante. E foi tão libertador poder fazer isso. Costumo dizer que aquele filme é como jazz... Meus filmes prediletos todos têm essa energia. Costumo dizer que se minha casa pegasse fogo e eu tivesse que resgatar três dos meus filmes favoritos, eles seriam Corpo Fechado, A Dama na Água e A Visita, que vou lançar agora. Todos esses três são indesculpavelmente estranhos. E isso tem muito a ver comigo... Esse sentimento de não estar ajustado, sabe? Todas as vezes em que tentei usar as roupas que os garotos legais usavam, eu não as usei muito bem".

Por fim, quisemos saber um pouco mais sobre A Visita, o longa que ele lançará em setembro e que, segundo ele mesmo, assim como em Sinais, lhe proporcionou uma das filmagens mais divertidas de sua carreira. Ele definiu A Visita como um "pequeno thriller focado em personagens" e disse que adorou a relação dele com o público: "fiquei fascinado... A relação das pessoas com o filme é muito vocal. Eles gritavam, gargalhavam, reagiam a tudo. É definitivamente um filme para o público".

Já que A Visita só chega aos cinemas no segundo semestre, vocês podem se contentar com a primeira (e talvez única) temporada de Wayward Pines, que estreia dia 14 de maio na Fox e já promete respostas para aqueles que andam com medo de segredos.

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