Cena da primeira temporada de Novela

Créditos da imagem: Prime Video/Divulgação

Séries e TV

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Novela é uma sátira literal até demais – infelizmente

Comédia do Prime Video tem mais defeitos que acertos

Omelete
3 min de leitura
01.08.2023, às 18H13.

O produto audiovisual mais importante do Brasil é a novela – é, sempre foi e talvez sempre será. Então, a ideia de abraçar os absurdos e as confusões por trás de um gênero tão vivo no nosso imaginário popular é fascinante, e isso, Novela, a nova comédia do Prime Video faz bem. Quer dizer, em meia sinopse ela faz bem. Já a outra metade é, no mínimo, interessante – isso para não maldizer totalmente a produção em seus primeiros episódios. 

Novela apresenta a história de Isabel (a sempre ótima Monica Iozzi, de Assédio, Tá no Ar e CQC), uma roteirista que dedicou sua vida para alcançar o posto mais nobre do entretenimento brasileiro: o de autora de uma novela das nove, a "Rebote do Destino". Para isso, ela conta com a ajuda de Lauro Valente (Miguel Falabella), um ex-roteirista e executivo de novelas que decide dar uma polida em seus scripts. Aos poucos, parece surgir uma dinâmica que remonta à de Liz Lemon (Tina Fey) e Jack Donaghy (Alec Baldwin) em 30 Rock: Izabel, a neurótica e nervosa escritora; Lauro, o ambicioso e pragmático executivo. 

Rapidamente essa dinâmica se desmonta, uma vez que descobrimos que Lauro é praticamente um vilão de cinema mudo dos anos 20 – até bigode para isso ele tem. Em uma reviravolta típica de novelas, ele rouba o projeto de Izabel. No entanto, sua trama maquiavélica é descoberta quando a mocinha ouve seus planos sussurrados entre cômodos. Este é um ponto negativo da série que, por ainda não ter seus personagens e motivações 100% definidos, faz com que essas pequenas cenas fiquem mais com cara de demérito dos roteiristas do que uma sátira bem pensada. 

Mas o maior dos problemas narrativos de Novela ainda está por vir: meses após perder os direitos da sua produção, Izabel decide invadir a festa de abertura da novela e tentar desmascarar Lauro na frente de todos. Novamente, uma pequena piscadela para as reviravoltas de uma novela, mas não tão efetivamente cumprida. Ela, no entanto, não consegue, tem uma espécie de surto de raiva e… Entra na novela. Literalmente, com direito a cena dela entrando na TV e tudo (algo bem Zoando na TV, o pitoresco filme noventista com Angélica e Márcio Garcia). Pelos menos nos primeiros episódios, ainda não fica claro o que aconteceu: surto psicótico, uma mulher sob efeito de substâncias ou se ela simplesmente se teletransportou para dentro da televisão – de longe a pior das opções. 

Novela poderia funcionar caso abraçasse o ridículo dos recursos narrativos engessados do gênero e o amarrasse com piadas hilárias e comentários mordazes. Mas o emaranhado de diálogos e tiradas expositivas, bem como a total falta de sutileza, impedem que ela o faça. Entre sua jornada de "Dorothy perdida no Mágico de Oz", Black Mirror e o giro pelos bastidores dos grandes folhetins nacionais, a personagem de Izabel rapidamente abraça seu novo universo, mas sem muita sutileza e explicando tudo tintim por tintim para o público. Novamente, se tudo fosse menos literal e menos expositivo, poderia funcionar bem demais. 

É um resultado bastante frustrante considerando a ficha técnica da produção, o nome Porta dos Fundos e o selo do Prime Video. Com toda a credibilidade da produção, há uma esperança de que os elementos cativantes de Novela possam se encontrar nessa jornada. Resta torcer e aguardar as cenas dos próximos capítulos.

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