Diz a sabedoria hollywoodiana que um ator deve evitar o trabalho com crianças e cães, sob risco de ficar em segundo plano. A versão moderna do conselho incluiria máquinas falantes, efeito comprovado por David Hasselhoff, que, por quatro temporadas, foi coadjuvante de um carro cheio de personalidade.
Knight Rider, ou no Brasil A Super Máquina, anunciava seu herói em 26 de setembro de 1982 como "um jovem solitário numa cruzada em nome dos inocentes e dos indefesos num mundo de criminosos que operam acima da lei". A verdade era que o futuro salva-vidas de SOS Malibu lutava por espaço na tela com KITT, o carro falante.
A Super Máquina
A Super Máquina
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A Super Máquina
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Veículo polivalente
Cria de The young and the restless, uma daquelas intermináveis novelas norte-americanas, de onde já saiu gente do calibre de Tommy Lee Jones, David Hasselhoff vivia Michael Long, um policial descoberto pelos bandidos enquanto trabalhava disfarçado. Com o rosto destruído, e oficialmente morto, Michael é salvo pelo milionário Wilton Knight, vivido por Richard Basehart veterano de Viagem ao fundo do mar. Dono de um conglomerado de empresas, incluindo o obrigatório laboratório de pesquisas, Knight dá ao policial o rosto de seu filho, detalhe que vai render um episódio mais à frente na série, e sua nova missão. Como equipamento principal, Michael torna-se o motorista de KITT, abreviação de Knight Industries Two Thousand, um Pontiac Trans Am alterado pela empresa de George Barris, responsável pelo Batmóvel e pelo carro do Besouro Verde. Como era obrigatório para o carro de um super herói, KITT tinha lataria indestrutível e vários outros equipamentos, como vidros que escureciam quando alguém tentava olhar o interior do carro, além de uma personalidade interessante e um sensor frontal saído diretamente dos cilônios de Galáctica, outra série produzida por Glenn A Larson.
Com a voz de William Daniels no original, KITT tornou-se a grande estrela da série. Num encontro com uma fã, Hasselhoff diz ter ouvido do marido dela uma declaração que se repetiu muitas vezes: sem o carro você não é nada. KITT era o sonho da rapaziada, um carro esporte preto capaz de se proteger de qualquer ataque durante a ausência do motorista e de andar sozinho. Durante o início da série, o Pontiac recebia mais correspondência que o ator, levando a produção a aumentar o papel do humano da dupla.
Um cruzado solitário num mundo perigoso
O esquema dos episódios seguia o básico do salvador dos fracos e inocentes, ou, como dizia o texto que encerrava os episódios da primeira temporada, um homem capaz de fazer a diferença.
Aproveitando o sobrenome do milionário que dá origem a tudo (knight é cavaleiro em inglês), o seriado é repleto de referências à cavalaria, inclusive chamando Michael de um cruzado solitário num mundo perigoso. A aventura do dia geralmente implicava infiltrar Michael em uma situação de perigo e usar o carro sempre que possível. Um episódio trouxe de volta a noiva de Michael Long, interpretada por Catherine Hickland, namorada de Hasselhoff na vida real, e que o descrevia como um homem enorme com a cara do Ken. Não faltou sequer o episódio com o gêmeo do mal, um clássico dos seriados americanos. Hasselhoff apareceu como Garthe Knight, o filho de Wilton que não fica nada contente por ter sido substituído e se vinga construindo Golias, um caminhão com o mesmo casco indestrutível de KITT. Como inimigo do Pontiac, a produção inventou KARR, uma versão anterior, desativada por não ter em seu programa um módulo de proteção à vida.
Superapoio
Ao contrário de Stingray, outro seriado de um homem e um carro, no entanto, em A Super Máquina o herói tinha uma equipe de apoio. Para levar KITT de um lado para outro, Michael contava com um caminhão ao estilo dos motorhomes da Formula 1. A mão da Knight Industries, com a morte de Wilton Knight, é representada por Devon Miles (Edward Mulhare). Para evitar a imagem de um grupo de rapazes conversando com um carro, os cuidados técnicos com KITT ficavam a cargo de Bonnie Barstow (Patrícia McPherson), substituída na segunda temporada por April Curtis (Rebecca Holden). Na quarta temporada a equipe ganhou RC3 - Reginald Cornelius III (Peter Parros), encontrado por Michael bancando o herói numa vizinhança violenta. Para manter contato com a equipe, Michael usava um relógio de pulso que unia as habilidades de rádio, câmera de vídeo, e ainda era capaz de transferir energia e abrir fechaduras.
Seja pelo visual do ator, seja pela mistura de aventura com um carro super bacana, A Super Máquina alcançou bons números na TV, sendo a primeira atração da NBC em muitos anos a fazer frente a Dallas, exibido no mesmo horário na concorrente CBS. O sucesso se refletiu fora da TV, também, com a Pontiac inundada de pedidos de Trans Ams pretos com luzes vermelhas no pára-choque frontal, e até aqui no Brasil alguns carros foram vistos com o visual cilônio de KITT. Além de toda a aventura, KITT rendia também diversão para quem tentava descobrir onde estava o motorista durante as cenas em que o carro rodava sozinho. Ainda hoje os sites do seriado indicam os momentos em que uma corcova no banco aponta a presença do motorista dublê, missão que deve ser facilitada pela imagem nítida do DVD.
Versões modernizadas
Seguindo a tendência de reviver séries, em Knight Rider 2000, lançado em 1991, Michael deixava a aposentadoria para combater o crime só para descobrir que seu amigo metálico havia sido desmontado e o chip de memória instalado na cabeça de uma policial. Com o que restava de KITT instalado em seu Chevy, Michael e a nova parceira iniciavam a investigação enquanto a Knight Industries desenvolvia o próximo carro. O Knight 4000 era um Pontiac Banshee, um carro-conceito que, na TV, recebeu a capacidade de flutuar na água e um sensor de odores, mas, não foi o suficiente para dar partida em um novo programa.
Já Knight Rider 2010 tinha muito pouco a ver com a série para que os fãs ficassem felizes. Durou apenas uma temporada. Nela, Val Kilmer fazia a voz da nova Super-Máquina, que deixou de ser um Pontiac para virar um Mustang Shelby GT500KR. No banco do piloto, David Hasselhoff dá lugar a um grupo de novatos, liderados por Mike Tracer (Justin Bruening).