Após introduzir novas possibilidades narrativas, a temporada final de Vikings agora demonstra que não tem intenção alguma de acelerar seu ritmo com um terceiro episódio que apenas toca nas mesmas notas que os anteriores.
[Cuidado! Spoilers do S06E03 de Vikings abaixo]
“Ghosts, Gods and Running Dogs”, assim como seus dois antecessores, é definido por uma palavra: nostalgia. A grande maioria dos arcos ainda soam criados para espelhar eventos passados do seriado. Lagertha (Katheryn Winnick), por exemplo, consegue viver o sonho de retornar à sua origem de fazendeira. Em certo ponto ela até se vê espelhada em Torvi (Georgia Hirst) quando a jovem briga com seu marido, Ubbe (Jordan Patrick Smith), para garantir que não é nenhuma moça indefesa e que pode acompanhá-lo em uma vindoura expedição. A escudeira assiste toda a cena com um sorriso no rosto, quase como se visse a reprise de discussões similares que tinha com Ragnar (Travis Fimmel). É um bom momento para os fãs, mas o tom não pode dominar a temporada - ainda mais se tratando da última. A série parece entender isso quando um dos criminosos exilados por Bjorn (Alexander Ludwig) ataca a vila de Lagertha, o que a faz perceber que ainda não é hora de largar a espada. Se bem trabalhado, esse arco pode sim virar um dos melhores, mas se limitar apenas à memória não será o suficiente.
O mesmo vale pra Bjorn. O foco de seu arco parece inteiramente definido em sair da sombra do pai. Isso é verdade para toda a sua caracterização mas, a essa altura do campeonato, o personagem já deveria funcionar por si só. Quando fala com o povo de Kattegat, por exemplo, sobre sua visão para a cidade nórdica ser um enorme polo de troca, é difícil não comparar suas palavras com as mesmas ditas por Ragnar anos atrás. Já como líder e guerreiro, Bjorn enfrenta decepção ao tentar resgatar o rei Harald (Peter Franzén) e ser pego em uma emboscada, junto com seu exército. É aí que o programa mostra que pode fazer funcionar com uma nova abordagem: ao invés de narrar a busca de Bjorn por se consagrar sozinho, acompanhar justamente como o filho desse enorme herói cultural não consegue superar o legado paterno. Frustração é um ótimo motor narrativo.
Curiosamente o que mais chama a atenção no episódio é Hvitserk (Marco Ilso). Tendo servido apenas como secundário até aqui, o quarto descendente de Ragnar começa a ganhar protagonismo por seus vários traumas. Amargurado de ter lutado por Ivar (Alex Hogh Andersen) que, em troca, matou sua esposa, o jovem se afunda no álcool para silenciar seus pesadelos, sem muito sucesso. As alucinações só pioram, ao ponto de ver o Desossado o perseguindo dia e noite. O destino guarda ainda mais conflitos para o coitado que, como forma de afastá-lo de Kattegat, é enviado para uma expedição na Rota da Seda - sem saber que é por lá que Ivar vaga ao lado da monarquia Rus.
Vikings nunca foi de correr, e não era esperado que isso fosse acontecer agora. A série só precisa se atentar a não pesar excessivamente a mão no desenvolvimento e depois correr na conclusão, como fez com a batalha entre Ivar e Bjorn no ano anterior. Dessa vez, há apenas uma chance de acertar.
Vikings é transmitida pelo canal pago Fox Premium todas as quintas, às 23h. Os episódios inéditos também são lançados no Fox App.