Num mundo normal, The Walking Dead estaria transmitindo a segunda metade de sua temporada final, prestes a se despedir da televisão. No mundo atual, porém, a série precisou dar um jeito de se manter no ar após ter sua produção afetada pela Covid-19. Quando a pandemia começou, em março de 2020, o seriado sequer conseguiu finalizar os efeitos especiais da conclusão da décima temporada. Com a equipe se adaptando ao trabalho remoto, o capítulo só foi lançado mais tarde no ano, como um especial.
Para não deixar a peteca cair no começo de 2021, a produção bolou um plano: exibir seis episódios extras, para garantir mais tempo de desenvolvimento para a temporada final. Com “Home Sweet Home”, é possível entender as decisões criativas necessárias para garantir que a série ainda consiga mostrar algo.
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Quando a showrunner Angela Kang anunciou a leva adicional de capítulos, ainda não havia formas seguras de retornar aos sets de filmagem. É importante ter isso em mente, pois significa que os episódios inéditos são, na verdade, montados a partir do que a produção já tinha gravado da época do décimo ano. Pelo fato de o material ser usado de forma diferente do que inicialmente planejado, a série muda levemente de ritmo e formato.
Em vez de combinar diversos núcleos por semana, cada capítulo será focado em uma subtrama. A primeira, mostrada em “Home Sweet Home”, é o retorno de Maggie (Lauren Cohan). A personagem havia saído na nona temporada, em razão de complicações salariais nos bastidores e para a atriz estrelar a série Whiskey Cavalier, cancelada após uma temporada em 2019. Sua volta ao programa é muito bem-vinda, tanto pela sobrevivente ser uma das favoritas dos fãs, quanto pelo enorme potencial narrativo oferecido por suas questões mal resolvidas com Negan (Jeffrey Dean Morgan).
O vilão conquistou os desprezo de Maggie - e dos espectadores - quando, na abertura da sétima temporada, esmagou o crânio de Glenn (Steven Yeun). Porém, muita coisa mudou de lá para cá, e o personagem passou por um excelente arco de crescimento, tornando-se um aliado relutante das comunidades. Isso, é claro, não apaga o trauma da sobrevivente, e o capítulo explora muito bem a sensação de choque e desgosto em Maggie ao ver Negan solto da prisão, trabalhando ao lado de seus colegas. A trama também explica o que ela fez durante todos esses anos, como a líder de um novo grupo e mãe de Hershel. O garoto, por sinal, aparece brevemente, mas é um dos destaques do capítulo, por sua fofura e semelhança absurda com Glenn, em estilo e carisma. No fim das contas, é um retorno com muito a ser desdobrado na temporada final.
O que vale ser discutido não é exatamente o que está sendo contado nos episódios extras, mas sim o formato. É visível que a produção deu seu melhor para criar algo com o pouco que tinha nas mãos. Assim, o capítulo é editado de forma muito mais dinâmica que o normal, para esconder a ausência de material que normalmente compõe uma dose semanal do programa. O resultado não é ruim, mas deve causar um estranhamento inicial nos fãs de longa data.
Seja como for, The Walking Dead parece ter um mínimo de conteúdo para não deixar o início do ano passar em branco. No fim das contas, o foco maior em arcos e personagens pode acabar enriquecendo a narrativa da temporada final, mesmo que a abordagem tenha surgido da necessidade de contornar a pandemia.
The Walking Dead é transmitida todo domingo, às 23h30, pelo Star Channel (antigo Fox Channel).